A 11ª edição da Mostra de Cinema Europeu vai começar amanhã na Sala de Arte Cinema do Museu, no Corredor da Vitória, e segue até a quarta-feira (7), com sessões gratuitas sempre às 19h. A curadoria deste ano traz quatro filmes que têm a coragem como tema em comum – especialmente em tempos de repressão, censura e dilemas morais.A iniciativa é organizada pelo cluster EUNIC Salvador-Bahia, formado pelo Goethe-Institut, Instituto Cervantes, Aliança Francesa e Consulado Geral da Itália no Recife. Cada instituição ficou responsável por escolher um filme.Friederike Möschel, diretora do Goethe-Institut e atual presidente da EUNIC Salvador, explicou que a escolha do tema deste ano foi motivada pela relevância do assunto no contexto europeu e brasileiro. “Ele se torna especialmente atual quando um país ou uma região se vê confrontado com movimentos populistas ou tentativas de restringir a liberdade de opinião”, explica. Para ela, tanto a Europa quanto o Brasil têm enfrentado esses desafios, o que torna o diálogo entre os contextos ainda mais pertinente.O filme escolhido pelo Goethe-Institut foi o longa De Hilde, com amor (2024), que será exibido na terça-feira (6), baseado na trajetória real de Hilde Coppi, jovem assistente médica que se uniu à resistência antinazista na Berlim de 1942.“O filme trata menos das grandes linhas políticas e mais da resistência por decência moral. Pensávamos que essas decisões pertenciam ao passado, mas os acontecimentos atuais mostram que são temas sempre presentes”, comenta Möschel.A abertura será com o filme francês Marinette (2022), de Virginie Verrier. A obra é uma cinebiografia da jogadora de futebol Marinette Pichon, pioneira do futebol feminino francês, que cresceu em um lar marcado pela violência e encontrou no esporte um instrumento de superação. O filme acompanha a sua luta pela sensibilização para os direitos das mulheres no esporte.Na segunda-feira (5), vai ser exibido o italiano Grazie, Ragazzi (2023), sobre o cotidiano de um grupo de detentos que, sob a condução de um ator em crise profissional, se entrega à experiência do teatro.Durante o processo de ensaio de uma peça teatral, eles passam a redescobrir sua capacidade de expressar, construir e imaginar outros futuros. O filme traz a arte como um valor de reabilitação.O encerramento na quarta (7) vai ser com o espanhol Histórias de Meninas (Las Niñas, 2020). Ambientado na Zaragoza dos anos 1990, o filme acompanha Celia, uma menina de 11 anos que começa a perceber as contradições entre a educação religiosa que recebe e o mundo ao seu redor.Para Rosa Sánchez-Cascado, diretora do Instituto Cervantes, o filme consegue abordar as contradições da Espanha dos anos 1990 de forma sensível. “Mostra como a coragem também se constrói em silêncio, no cotidiano, nas pequenas rupturas. A tensão central está entre uma cultura conservadora e a nova mensagem de que mulheres deveriam ser independentes – uma tensão que ainda ecoa na vida de muitas jovens pelo mundo”, comentou.Outro ponto presente nas obras escolhidas para a Mostra é a valorização de personagens femininas como protagonistas da mudança. Hilde, Marinette e Celia compartilham, cada um à sua maneira, trajetórias de enfrentamento e reinvenção.Culturas convergentesPara Möschel, a força da Mostra reside justamente nesse encontro de valores comuns que está presente nos filmes escolhidos, que dialoga com os diferentes países europeus que organizam e com o contexto brasileiro.“A Europa tem uma história complexa – de guerras, alianças e conspirações. Mas, desde o pós-guerra, desenvolveu uma identidade comum baseada em valores como dignidade humana, liberdade, democracia e direitos humanos. Esses são os princípios que nos unem no EUNIC”, observaAlém das exibições, a Mostra também dialoga com o público baiano. “A diversidade cultural de Salvador é impressionante. Raramente vi um público tão diverso. Nos últimos anos, escolhemos temas que conectam indivíduos e sociedades para além de fronteiras”, destaca Möschel.Rosa Sanchez-Cascado reforçou as palavras de Moschel e acrescentou que vê no cinema uma possibilidade de fortalecer esses diálogos. “Apesar das diferenças culturais, enfrentamos dilemas parecidos, do ser humano. A curadoria foi construída em diálogo, respeitando vozes e visões distintas. Salvador é um território de resistência e criatividade. Trazer a Mostra para cá é celebrar essa força”.Ambas reforçam que esta edição é parte de um esforço contínuo de cooperação entre instituições culturais europeias e brasileiras. “Nosso trabalho não termina com a Mostra. Ele se estende ao longo do ano com iniciativas que estimulam o diálogo, a formação de público e a troca de experiências artísticas”, afirma Möschel.Embora este evento específico não inclua debates ou oficinas, o Goethe-Institut prepara uma programação paralela para o segundo semestre. “Este ano marca o cinquentenário da morte da filósofa Hannah Arendt. Vamos promover uma série de eventos sobre temas que ela abordou – como coragem e resiliência – e que continuam profundamente atuais”, antecipa Möschel.Mostra de Cinema Europeu 2025 / A partir de amanhã até quarta-feira (7), 19h / Sala de Arte Cinema do Museu (Av. Sete de Setembro, 2195, Vitória) / Gratuito*Sob supervisão do editor Chico Castro Jr.
Mostra de Cinema Europeu exibe filmes na Sala de Arte Cinema do Museu
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