Como proteger as crianças dos desafios perigosos na internet

Criança usa computador: segundo especialistas, elas estão sendo influenciadas por modas perigosas da internet

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O caso da menina Sarah Raissa Pereira de Castro, de 8 anos, que morreu no Distrito Federal após supostamente participar de um desafio na internet em que crianças e adolescentes inalam desodorante, acende o alerta em pais e especialistas.Crianças e adolescentes, segundo especialistas, estão sendo influenciados por modas perigosas nas redes sociais, sem dimensionar os riscos reais dessas brincadeiras.

Sarah Pereira: morte após desafio

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Acervo de família

A pediatra e neonatologista Maria Fernanda Spada, do Hospital Meridional Vitória, alerta que os pais devem proteger as crianças dos desafios perigosos da internet, o que exige atenção constante, diálogo aberto e educação digital.“Pais devem acompanhar o que a criança assiste, os aplicativos que usa e com quem interage. Devem ainda usar ferramentas de controle parental, mas não como substituto da conversa”, destaca.A pediatra explica que desafios que envolvem inalação, por exemplo, podem, mesmo que a criança sobreviva, provocar sequelas graves e duradouras, dependendo da intensidade e duração da privação de oxigênio ou da exposição química.“A falta de oxigênio (hipóxia) por poucos minutos pode afetar áreas do cérebro responsáveis pela memória, atenção, coordenação motora e fala. Em casos mais severos, pode haver paralisia, crises epilépticas recorrentes ou até estado vegetativo”.No caso de Sarah, o desafio custou sua vida. A médica explica que ao inalar grandes quantidades de desodorante spray ou bloquear as vias respiratórias, o cérebro pode ficar sem oxigênio, causando desmaios, convulsões, lesões cerebrais permanentes ou até morte súbita.MortesOutros desafios, como do “apagão” (prender a respiração) e do “quebra crânio” (provocar queda batendo a cabeça no chão) também são compartilhados nas redes e já provocaram mortes.Para a psicóloga Marília Zanette, da Bluzz Saúde, crianças e adolescentes são especialmente vulneráveis a aceitar desafios perigosos das redes sociais devido à busca por aceitação e pertencimento social.“Muitos veem esses comportamentos sendo recompensados com curtidas, comentários e visibilidade, o que reforça a ideia de que participar é positivo. Além disso, o cérebro ainda em desenvolvimento dificulta a avaliação adequada dos riscos e favorece decisões impulsivas”.Outros casosBorboleta amassadaO adolescente Davi Nunes Moreira, de 14 anos, morreu em fevereiro deste ano, na Bahia, depois de ter injetado na própria perna uma substância preparada com uma borboleta amassada em água. O pai do adolescente percebeu que o filho mancava uma semana antes. Antes de morrer, o jovem contou aos médicos sobre o desafio que encontrou na internet.Davi contou ainda que comprou a seringa em uma farmácia. Ele ficou sete dias internado antes de morrer.Desafio do desodoranteEm março deste ano, a estudante Brenda Sophia Melo de Santana, de 11 anos, morreu em Pernambuco após ter sofrido uma parada cardiorrespiratória depois de ter inalado um desodorante aerossol.Segundo a família da criança, ela aspirou o produto para cumprir um desafio que viu na internet, e já havia inalado o produto outras vezes, sendo advertida pelos pais, de acordo com o Boletim de Ocorrência. Segundo o hospital onde foi atendida, a língua de Brenda estava coberta por um material esbranquiçado. A equipe de saúde tentou reanimar a menina por cerca de 40 minutos.Desmaio

Nyla Anderson

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Divulgação

Em 2021, Nyla Anderson, de 10 anos, morreu após tentar cumprir um desafio que viralizou no TikTok, chamado de “Desafio do Apagão” (“Blackout Challenge”).O caso aconteceu na Pensilvânia, Estados Unidos. O desafio estimulava os jovens a provocarem o autossufocamento até o ponto de desmaio. Em 2023, após uma outra menina de 12 anos morrer na Argentina, o TikTok desativou a busca pelo desafio e emitiu comunicados de prevenção.Opiniões

Uso de celular por crianças e adolescentes93% da população de 9 a 17 anos é usuária de internet no País, o que representa atualmente cerca de 25 milhões de crianças e adolescentes, segundo levantamento divulgado pelo Ministério da Saúde em março deste ano.42% dos usuários de 9 a 17 anos reportaram possuir perfil no YouTube, 69% no WhatsApp (70% em 2018), 63% no Instagram (45% em 2018), 45% no TikTok e 19% no Facebook (66% em 2018).ImpactosEm relação ao uso excessivo de telas por crianças e adolescentes, a literatura aponta que pode ser fator de risco para:> Atrasos no desenvolvimento da fala na primeira infância.> Atrasos no desenvolvimento cognitivo na primeira infância.> Sedentarismo e obesidade.> Problemas na visão, tais como miopia e fadiga visual.PerigosAdolescentes que já enfrentam problemas de saúde ou quadro de adoecimento mental são ainda mais sensíveis a riscos on-line, incluindo cyberbullying, assédio e exposição à desinformação.Outro risco que merece ser levado em conta é o de desafios perigosos, que incentivam a autolesão ou podem representar risco de morte.Por estarem em um momento particular do desenvolvimento cerebral, no qual a busca por riscos é aumentada, bem como a sensibilidade à pressão dos pares, adolescentes são especialmente sensíveis a conteúdos com esse tipo de apelo.Fonte: “Crianças, Adolescentes e Telas: Guia sobre Uso de Dispositivos Digitais”.

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