Banco Safra tenta barrar perícia em caso Shangri-la Turismo

Uma disputa judicial que atravessa quase duas décadas e envolve milhões de reais está prestes a ter um novo capítulo no Superior Tribunal de Justiça (STJ). Na próxima semana, os ministros da 3ª Turma analisarão o Recurso Especial 2.170.563, interposto pelo Banco Safra, em um caso que coloca sob suspeita a atuação da instituição financeira na falência da Shangri-la Viagens e Turismo, outrora uma das maiores operadoras de turismo do Brasil.A história começa em 2005, quando, após uma cisão societária, novos administradores da Shangri-la descobriram o que classificaram como um “rombo” de quase R$ 8 milhões. O valor correspondia a cheques caucionados no Banco Safra que, segundo perícia judicial, nunca retornaram para a empresa.

Leia Também:

Desemprego entre jovens cai, mas participação é menor desde 2019

Temu ultrapassa Shopee e torna-se marketplace mais acessado do Brasil

Interesse da China no Porto Sul e na Fiol é real, garante Florence

BYD lança Dolphin Mini Cargo e novidades elétricas na Intermodal 2025

Apesar das inúmeras solicitações judiciais para esclarecer o destino dos valores, o Banco Safra não forneceu respostas satisfatórias. Sem recursos e em meio à crise do setor turístico, a Shangri-la sucumbiu em 2013, ingressando com um pedido de falência. Anos depois, sob ordem judicial, o Banco Safra foi obrigado a depositar em Juízo o valor atualizado que desapareceu, que já somavam cerca de R$ 16 milhões, tendo o Tribunal de Justiça reconhecido que a instituição financeira deveria também arcar com os juros de mora pelas décadas de resistência em pagar o valor, elevando a cifra para quase R$ 80 milhões — ainda objeto de intensa disputa.A tempestade que engoliu provas A última resposta do banco foi insólita: documentos essenciais teriam sido perdidos em uma enchente que atingiu uma de suas agências. Durante anos, sucessivas ordens judiciais exigiram explicações, sem sucesso.O caso ganhou contornos ainda mais dramáticos quando os documentos originais que comprovavam o desvio do dinheiro sumiram misteriosamente dos autos do processo. E, como se não bastasse, logo depois o banco apresentou novos papéis, com conteúdo radicalmente diferente, segundo dito no processo, alegando que os cheques haviam sido pagos.A Justiça considerou os documentos suspeitos. Determinou a instauração de um incidente de falsidade. Mas o Banco Safra, usando alguns dos escritórios de advocacia mais renomados (e caros) do país —inclusive o mesmo que anos antes representava o sócio afastado da Shangri-la —, recorreu para impedir que a perícia fosse realizada.Agora, caberá ao STJ decidir: a perícia será feita ou o caso será enterrado para sempre?Enquanto a batalha jurídica se arrasta, histórias humanas se perdem no caminho. O empresário Jairo Vidal, sócio minoritário da Shangri-la, afirma que está sendo obrigado a responder pessoalmente por toda a dívida.“Tenho três imóveis que sendo levados a leilão judicial, incluindo o lar onde moro com minha mulher há décadas. Ela vive em pânico diante da ameaça de perder nossa casa”, desabafa. “Sinto que estou pagando um preço injusto por toda a conduta do Banco Safra, que, até hoje, tenta escapar da justiça usando os melhores advogados do país.”A decisão do STJ poderá redefinir o rumo dessa disputa e impactar diretamente dezenas de credores da massa falida que ainda aguardam o ressarcimento de seus créditos. Procurado pela reportagem, o Banco Safra não quis se manifestar.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.