Banda mais antiga do punk baiano em atividade faz série de shows

Tem um vídeo muito curioso circulando nas redes sociais soteropolitanas nos últimos dias. Em uma formatura – um belo salão decorado com flores, todos vestidos em paletós, becas e vestidos de noite – uma formanda sobe ao palco para receber seu canudo em teatro. No som ambiente, nada de Imagine ou Anunciação ou algo que o valha. O que sai das caixas de som é um esporro da veterana banda punk local Pastel de Miolos: “Desobediência, desobediência, desobediência civil”!, vocifera o cantor.

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O inusitado da cena ilustra bem o que é a carreira desse trio, que neste ano completa “30 anos tocando canções de luta e subversão”, como os próprios membros intitularam a sequência de shows e ações que eles iniciam hoje, na casa Discodelia, no Rio Vermelho.No palco, além dos pasteleiros de cérebro, se apresentam a banda feirense Erasy e a local Bozokill. Quando maio chegar, o trio formado por Alisson Lima (voz e guitarra), Fábio Sanches (baixo e voz) e Wilson Santana (bateria) vai se abrigar no estúdio Vértice, no qual o experiente produtor Jera Cravo (de volta à Bahia, após alguns anos morando no Canadá) vai gravar o novo álbum da banda, justamente intitulado Canções de luta e subversão.

A gente tá bem animado pra comemorar essas três décadas.

Wilson Santana, – baterista

Em junho, o trio volta ao Discodelia, no show Niver do Chefe (no caso, Wilson) e em agosto, se apresentam no festival Big Bands. E outros shows e ações estão sendo planejados para o período. “A gente tá bem animado pra comemorar essas três décadas. E tem acontecido coisas com a gente que tem levado, justamente, a nos motivar mais ainda a continuar”, relata Wilson.“Um exemplo muito interessante aconteceu, agora, essa semana. Uma fã nossa – fã não, né, uma pessoa que gosta da gente, do nosso trabalho –, foi se formar, ela formou em, se não me engano, teatro. E, na colação de grau dela, a música que ela escolheu foi uma música nossa, Desobediência Civil. E isso, assim, pra gente, é super prazeroso, entendeu? Porque realmente faz valer o nosso sacrifício, sacou”?, relata o baterista.O assombro de Wilson, natural em se tratando de um artista do rock local, tão carente de reconhecimento, se justifica. Os três garotos magricelas que formaram a banda em 1995 (foto acima) jamais imaginaram que ainda estariam na atividade 30 anos depois. “E a gente chegou (aqui). A gente não esperava que iríamos fazer duas turnês na Europa e nós fizemos, né? Então, assim, a gente só ganhou com isso, saca? Mas esse ganho é o fruto mesmo do nosso empenho, né? Em seguir com a banda, entendeu? Acho que essa motivação vem muito do carinho da galera também, do reconhecimento pelo nosso trabalho”, afirma Wilson.E ainda fez um TCCE Morganna Lôbo, a jovem atriz – e autora do livro No Caos da Minha Mente (à venda no Instagram) – fã do Pastel de Miolos, foi ainda além de uma trilha sonora arrojada. “Essa figura, além de ter colocado nossa música para tocar na colação de grau, ainda fez o TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) sobre uma outra música nossa, chamada Porcos, que está no disco Novas Ideias e Velhos Ideais (2015)”, conta.“E não é a primeira pessoa que faz um TCC baseado em uma obra nossa. Teve uma outra menina de design também que fez. Não me lembro agora a música, mas é isso, reitero que isso só nos motiva mesmo a continuar, porque assim, rico a gente não fica, grana a gente não ganha. Mas esse reconhecimento, dinheiro nenhum paga”, afirma Wilson.Sem poesiaEssa identificação dos fãs – neste caso, das fãs – do Pastel de Miolos não é difícil de entender. Ao falar do que vem aí no disco novo, o guitarrista Alisson Lima mata a charada.“O disco novo que a gente está produzindo mantém nossas características, a identidade da banda, mas também resgata uma sonoridade básica por meio de influências do Cólera, do Ratos de Porão, dos Ramones. Então é um disco muito mais direto, que eu acho que sintetiza numa das letras do disco que é ‘direto e reto’, sem poesia, para expressar a raiva do dia a dia. Eu acho que essa frase sintetiza bem a proposta e o que a gente está querendo passar”, observa.Evidentemente, poesia é muito bom e (quase) todo mundo gosta, mas o fato é que na distopia nossa de cada dia, cada um expressa sua perplexidade ou sua dor ou sua alienação ou sua raiva da forma que lhe convém. Hoje, a maior parte da juventude parece capitular ao hedonismo vazio e à ostentação de símbolos do mesmo capitalismo que – surpresa – os esmaga na uberização do trabalho. Porém, ainda há quem prefira cantar Canções de luta e subversão.ServiçoShow: Pastel De Miolos: “30 anos tocando canções de luta e subversão”Convidados: Erasy, Bozokill e Manoel Injúria (discotecagem) Dia e horário: Quarta-feira (30/4), às 18h Local: Discodelia (R. do Meio, 141 – Rio Vermelho) Valor: R$ 25.

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