A Páscoa de Francisco

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Páscoa é passagem. A Bíblia faz da travessia do Mar Vermelho pelo Povo hebreu fugindo da escravidão no Egito o arquétipo da sua libertação. Por isso, instituiu a festa da Páscoa para que as novas gerações celebrassem o Deus que ouve o clamor do seu povo e o livra da escravidão. As Igrejas cristãs acrescentaram um novo significado à festa da Páscoa ao celebrar nesse mesmo dia – mais precisamente, nessa mesma noite – a ressurreição de Jesus, o profeta crucificado pelos poderosos de seu tempo. Assim, a celebração da Páscoa tornou-se a celebração da Vida que vence a morte pela força do Espírito Santo.

Esse mistério escapa a qualquer explicação, mas é nele que se funda nossa Fé e nossa Esperança: “se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa Fé”, argumenta o Apóstolo Paulo (1 Cor 15,14), que não conheceu pessoalmente Jesus de Nazaré, mas desde sua conversão foi o grande pregador da Boa-Notícia da ressurreição. Por isso, a tradição ensina que, ao final da celebração pascal, os cristãos devem saudar-se dizendo uns aos outros “Jesus ressuscitou, verdadeiramente. Aleluia!”.

Com a força dessa fé na ressurreição, nesta semana da Páscoa, celebramos a passagem de Francisco. Depois de um profético pontificado, ele ganha a vida plena na outra casa comum: a morada do Pai.

No mês passado, comemoramos os seus 12 anos de pontificado como bispo de Roma, recordando sua marca: o Papa que derrubou muros e construiu pontes, com destaque para duas pontes: a que leva a Igreja a colocar-se a serviço da grande comunidade de vida da Terra e a que atualiza o precioso legado do Concílio Vaticano II ao recuperar a sinodalidade com todo o Povo de Deus – leigos e leigas, religiosas e religiosos, padres e bispos – a caminhar juntos, na direção apontada pelo Evangelho.

Como bem explicitou Francisco na Exortação Apostólica, onde expôs sua proposta de evangelização, “trata-se de amar a Deus, que reina no mundo. Na medida em que Ele conseguir reinar entre nós, a vida social será um espaço de fraternidade, de justiça, de paz, de dignidade para todos (Evangelii Gaudium, n. 180).

Hoje nos despedimos desse grande Papa, que deixa saudades entre católicos e não-católicos, mas guardamos viva a proposta de evangelização que ele tão bem explicitou e à qual foi fiel até seu último dia de vida: uma Igreja em saída na direção das periferias sociais e existenciais.

Como coletivo de católicos leigos e leigas, agradecemos a Deus que nos deu Francisco como Bispo de Roma durante 12 anos e agora o chamou para o merecido repouso em sua casa celestial. Ele pedia que rezássemos por ele e assim o fizemos, enquanto ele nos abençoava sorridente. Assim foi até sua última aparição na Praça de São Pedro, quando quase sem voz chamou a multidão de “irmãos e irmãs”. Agora podemos pedir a ele que do céu inspire seus irmãos cardeais – em breve reunidos em conclave – a escolherem um sucessor tão comprometido com o projeto evangelizador do Concílio Vaticano II quanto ele o foi.

Gratidão, Papa Francisco, Irmão e Pastor!

 

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