Trio Alcateia
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Para Augusto Hessel, um dos idealizadores do projeto, manter viva a tradição do choro é também preservar a história da música brasileira. “O Segundas do Chorinho é um espaço onde a gente consegue unir o público fiel, músicos experientes e novos talentos. E abril é um mês que reforça a importância de se manter essa chama acesa, de mostrar que o choro é vivo, pulsante e diverso”, comenta.O remédio é chorarO choro é considerado o primeiro gênero musical urbano brasileiro. Ao misturar influências das polcas europeias, das modinhas e dos lundus africanos, o estilo se consolidou como símbolo da musicalidade brasileira. Nomes como Pixinguinha, Jacob do Bandolim, Waldir Azevedo e Ernesto Nazareth ajudaram a popularizar e sofisticar o gênero ao longo do século XX.Para o instrumentista, pesquisador e compositor Caio Brandão, que vai participar da programação de choro da Escola de Música da UFBA, o gênero carrega desde suas origens essa vocação de mistura e experimentação, algo que ele busca trazer em sua trajetória como artista.“O choro é uma mistura de ritmos, danças e culturas. Dentro da minha trajetória, essas experiências sonoras trazem referências — tanto dos precursores do choro quanto de músicos contemporâneos. O meu repertório vai dessa diversidade, de Chiquinha Gonzaga a Chico Buarque, passando por composições autorais e de artistas da nossa terra”, explica o músico.Se a história do choro costuma ser atribuída majoritariamente ao Rio de Janeiro, a Bahia desempenha um papel fundamental na gênese desse encontro cultural.Segundo Caio, “o papel da Bahia é trazer esse berço desse encontro histórico, porque o choro acontece em diversos lugares ao mesmo tempo. Ele é legitimado ali no Rio, mas temos na Bahia esse conglomerado cultural trazido pelas tias baianas quando foram para o Rio de Janeiro. João da Baiana, Donga, e outros grandes nomes”, lembra.Tradição e inovaçãoO choro é um gênero que segue atravessando gerações e ressignificando suas formas. Para o flautista Leandro Tigrão, integrante do Trio Alcateia, o gênero vive atualmente uma das melhores fases. “Cursos de choro estão surgindo, e isso é um caminho importantíssimo. A melodia do choro alfabetiza um músico. Quanto mais a gente levar isso para escolas, mais consegue manter o gênero vivo, lembrando dos mestres, mas também levando pra frente”, comentou.Tigrão integra o Trio Alcateia, ao lado de Jéssica Albuquerque no contrabaixo e Murilo Tigrinho, também flautista. Segundo ele, eles trazem a proposta de ampliar as possibilidades sonoras e incorporar suas diferentes formações musicais, que incluem a música clássica.“O choro e a música clássica se confluem. Os dois carregam a técnica, a sonoridade, o fraseado e a interpretação. Quando escrevo, minha música revela isso: estrutura clássica e a leveza, o swing e a brincadeira do choro”, observa.Quem também se apresenta no Segundas de Chorinho é o pianista Estevam Dantas ao lado de Peu Souza no Bandolim. A dupla vai tocar um repertório que passeia por clássicos e composições autorais.Para Estevam o choro é, ao mesmo tempo, guardião da memória e laboratório de novas sonoridades. Sobre a cena soteropolitana, Estevam observa que o choro tem ganhado espaço graças ao esforço de músicos comprometidos e pesquisadores. “Não vejo políticas públicas para a permanência do choro. Isso tem sido feito de forma espontânea, por quem toca e ama o gênero. Felizmente, há um público jovem começando a se interessar, e isso acontece quando o choro ganha novas roupagens, misturando influências, sem perder sua essência”, conclui.SERVIÇOS:II Encontro de Choro da Ufba / Até sábado (26), das 12h30 às 20h30 / Escola de Música da Ufba / GratuitoEspecial do Dia Nacional do Choro, com Estevam Dantas e Peu do Bandolim, participação especial do maestro Fred Dantas / Amanhã, 20h / Varanda do SESI Rio Vermelho / R$ 30 (casadinha por R$ 50)Trio Alcateia / Segunda-feira (28), 20h / Varanda do SESI Rio Vermelho / R$ 30 (casadinha por R$ 50)*Sob supervisão do editor Chico Castro Jr.