Era por volta das 22h, fim da última aula da quarta (9) no Centro de Biociências da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), quando uma aluna que seguia para seu carro no estacionamento, e que por questão de segurança não terá seu nome divulgado nesta matéria e será chamada de X, foi abordada por um homem branco, jovem (por volta de 27 anos), de barba, mochila e sem tatuagens aparentes.
“Normalmente o estacionamento é lotado, mas nesse dia só tinha o meu carro. Eu o vi de longe e fui seguindo para o carro, que tirava a minha visão. Quando abri a porta ele se aproximou por trás e anunciou o sequestro. Tirou a arma da mochila, mandou eu sentar no banco do passageiro e baixar a cabeça”, relembra X, em relato à Agência SAIBA MAIS.
Durante o trajeto, o sequestrador foi dirigindo, fez ameaças e mandou a vítima sair do ICloud, por onde o celular poderia ser rastreado. Ele também disse fazer parte de uma facção criminosa e avisou que mandaria o grupo pegar a vítima na faculdade caso ela avisasse a polícia ou bloqueasse a conta bancária instalada no celular.
“Ele mandou eu sair do ICloud do IPhone, mas eu não conseguia. Ele começou a achar que eu estava fingindo, mas ele tentou também e não conseguiu. Sugeri uma opção, dar a senha a ele do celular e do banco. Ele transferiu RS 400 em pix e levou minha identidade porque tem o nome dos meus pais. Disse que se fossem atrás dele, ia mandar alguém atrás de mim na universidade”, conta X.
O sequestro que começou no Campus Central da UFRN terminou em um matagal no bairro de Ponta Negra, onde a vítima foi deixada. Sem telefone, ela pediu socorro a moradores até conseguir falar com o pai.
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Estudantes denunciam assédio dentro do ônibus circular da UFRN
“Fui pedir ajuda nas casas, consegui ligar para o meu pai, que foi me buscar e levar à delegacia de plantão. Ainda não sabemos muita coisa ainda”, revela.
O sequestro de X, que teve o carro e o celular levados, aconteceu na mesma semana na qual uma série de estudantes denunciaram a ocorrência de importunação sexual dentro dos ônibus que fazem a linha circular na UFRN.
“Sempre tivemos preocupação com a segurança. Conheço muitas pessoas que são amigas de alguém que já foi assaltado, principalmente, à noite. Todos sabem que é perigoso e não sei o que houve que, nesses últimos dias, têm tido muito mais casos”, lamenta X.
Os estudantes, que reclamam da falta de dados sobre os casos e da subnotificação, decidiram criar uma ouvidoria própria através de instituições autônomas como o Movimento de Mulheres Olga Benário e o Correnteza, por avaliarem a da UFRN como insuficiente.
“Sabemos do sequestro e da tentativa de sequestro porque a informação chegou pra gente na ouvidoria. A da UFRN é insuficiente, veja que uma meninas falou que sofreu uma tentativa de estupro e quem recebeu a denúncia disse que era por causa das roupas que ela usava, há um despreparo“, denuncia Kívia Moreira, estudante Direito.
Diante das últimas ocorrências, as alunas organizaram de última hora um curso de autodefesa de acesso gratuito na própria UFRN.
“Faremos outras. Houve muita demanda, vamos discutir a periodicidade“, acrescenta.
Os casos têm sido acompanhados e denunciados pelo Diretório Central dos Estudantes. A Universidade também investiga uma tentativa de sequestro que teria ocorrido na quinta (10). A assessoria da Reitoria informou à Agência Saiba Mais que aguarda a apuração interna dos casos para se manifestar publicamente.
Assédio no ônibus
Mais de 20 alunas de diferentes cursos da universidade já relataram terem sofrido importunação sexual dentro dos ônibus circulares que trafegam por dentro do campus universitário.
Os depoimentos são parecidos, assim como a forma de agir do assediador. Várias vítimas já registraram Boletim de Ocorrência na Polícia Civil e abriram queixa na Ouvidoria da Universidade. Elas são abordadas pelo suspeito dentro do ônibus. Ele carrega uma bolsa grande, senta ao lado da vítima e usa o objeto para disfarçar o assédio, passando a mãos nas pernas das vítimas com a mão por baixo da bolsa.
A universidade afirmou estar colaborando com as investigações.
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