
Roberta Bazilli vive em Caconde, no interior de São Paulo, e faz parte da quinta geração de uma família italiana dedicada à cafeicultura. Nesta segunda-feira (14) é celebrado o Dia Mundial do Café. Conheça história da primeira mulher premiada como mestre de torra no Brasil
Um trabalho de gerações levou Roberta Bazilli à consagração: a moradora de Caconde, no interior de São Paulo, se tornou a primeira mulher premiada como mestre de torra de café no Brasil. Conheça um pouco mais da história dela nesta segunda-feira (14), quando é celebrado o Dia Mundial do Café.
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Roberta compõe a quinta “safra” de uma família que veio da Itália e, desde 1916, se dedica à produção cafeeira. Até ficar em segundo lugar na competição chamada ‘Torrefação do Ano Brasil’, em novembro do ano passado, foram longas as fases de “plantio” e trabalho árduo.
A atuação de Roberta com cafés especiais teve início em 2006, no sítio que faz divisa com Divinolândia. O cultivo acontece em uma área privilegiada, com condições climáticas apropriadas para desenvolver o café Arábica.
Por lá, a altitude varia entre 800 e 1.100 metros, as temperaturas médias anuais ficam entre 20 e 22 graus, com chuva sob medida. Isso sem contar o solo vulcânico e fértil, uma característica rara e que contribui para um cenário praticamente perfeito à produção.
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“Todo cuidado, do começo ao fim, faz a grande diferença, né? Mas o principal é o momento da pós-colheita. Depois que você colhe, começa o processo de separação dos grãos. Porque o grão especial a gente usa só o grão maduro, né? E aí vem a torra, né, que é essencial. Sem cuidado, você pode estragar todo o processo feito da porteira para fora quando entra na torrefação”, explica a mestre de torra.
Roberta Bazilli, de Caconde, tem processo minucioso para torra do café
Ely Venâncio/EPTV
‘Alquimia do café’
Roberta brinca que a torrefação é quase uma “alquimia do café”. Os grãos têm um tamanho específico, peso e cor e entram no torrador com 11% de umidade. Depois, o mestre de torra escolhe a temperatura para aquecimento, controla o fluxo de ar e a rotação do tambor.
É um processo complexo, mas assim que cada unidade vai se desidratando, o cheirinho típico da bebida tão amada pelos brasileiros vem à tona.
“No dia do campeonato, todo mundo estava dividindo a amostra em duas torras. Eu fiz uma, porque eu não tinha duas. Eu falei assim: ‘Não, eu tenho o meu jeito de torrar, que acredito, eu vou fazer uma torra só. Era tudo ao nada, sabe?'”, lembrou, sobre o desafio.
Roberta Bazilli, de Caconde, faz ‘alquimia’ para chegar à melhor torra possível
Ely Venâncio/EPTV
A pesquisadora de Nutrição e Alimentos da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Camila Arcanjo Teles explica como é feita a análise na premiação.
“O corpo de jurados recebe o café e avalia pelo menos 10 componentes, que são atributos de doçura, de corpo, de aroma. E o mais importante importante disso é que a gente avalia a consistência entre uma torra e outra. Todo mundo recebeu o mesmo café, para tirar o melhor dele.”
Café para figuras importantes e no mundo
O trabalho de Roberta com cafés especiais a levou a outro patamar. A bebida que ela produz foi servida a dois papas durante visitas ao Brasil: em 2007, na vinda do Papa Bento XVI, e em 2013, quando o Papa Francisco esteve em Aparecida. “Foram momentos marcantes na minha vida”, celebra.
Na propriedade da família de Roberta, 30 mil pés de café produzem seis variedades do grão. São pelo menos 400 sacas de café especial produzidas por ano e boa parte é exportada para Noruega.
Café da família Bazilli foi servido aos papas Bento XVI e Francisco em visitas ao Brasil
Arquivo Pessoal
“O Brasil está mostrando para o mundo que, além da quantidade, temos qualidade e diversidade. Com o movimento dos cafés especiais, surgiram oportunidades para que mulheres se expressem e ocupem espaços, desde a produção até a xícara que a gente toma lá na cafeteria. Tudo com aquele prazer de estar saboreando um café brasileiro de altíssima qualidade”, afirma Helena Maria Ramos Alves, pesquisadora Embrapa Café.
Legado
E o envolvimento da família Bazilli com cafeicultura não para. O filho de Roberta, Theo, de 9 anos, é mais um amante do ramo. Ele, inclusive, juntou a paixão por dinossauros para criar uma sala chamada de ‘DinoCoffee’, onde estuda sobre cafés e até usa um torrador elétrico para começar a seguir os passos da mãe.
Theo Bazilli, de 9 anos, poderá compor a sexta geração envolvida com cafeicultura em Caconde
Ely Venâncio/EPTV
O café especial tem grãos selecionados por tamanho, peso e cor. Não tem grãos quebrados, não tem grão verde. Já o tradicional aceita qualquer coisa”, ensina, cheio de propriedade.
A continuidade da relação ‘café-família Bazilli’ parece estar garantida.
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