Qual é o verdadeiro sentido da Páscoa? Entenda a origem e os significados

Vigente desde a Quarta-feira de Cinzas, após o Carnaval, a Quaresma é um período de penitência e preparação para a Páscoa (que será no dia 20 de abril). Dura, ao todo, 40 dias e se encerra neste Domingo de Ramos (13). Durante esse tempo, os cristãos cumprem alguns rituais — como o já conhecido costume de não comer carne vermelha. A Quaresma simboliza o período em que Jesus Cristo passou no deserto, antes de iniciar sua pregação pública, enfrentando as tentações de Satanás, mas sem jamais duvidar do amor de Deus.A tentativa de emular o sacrifício de Cristo, somada à homenagem à sua ressurreição no feriado que se aproxima, mobiliza os fiéis de Belém em torno da data. A emoção que envolve a Quaresma e a Páscoa é diferente para cada pessoa — um tempo também de lembranças e homenagens àqueles que já se foram.Leia mais:Vai viajar no feriadão de Páscoa? Veja dicas de passeios pelo ParáSaída de pescado de Belém será controlada para garantir abastecimento“Hoje foi a missa da minha mãe de sétimo dia. A Páscoa, este ano, para nós vai ser um pouco diferente. Nós nos reunimos, família, tudo, mas este ano vai ser muito triste. Ainda que muitas famílias estejam felizes, para a minha família este ano vai ser um momento de lembrança”, conta Oneide Ferreira, 56, costureira, que vai dedicar os ritos deste ano à mãe, Maria de Nazaré.Mesmo para quem não é praticante, a Páscoa costuma ser um período de reencontro com o lado espiritual. Foi o caso da recepcionista Amanda Cunha, 23. “É uma conexão, né? O que a gente tem com a Nossa Senhora de Nazaré, com Jesus. Eu gosto da Páscoa não por causa do chocolate, né? É por causa de todo esse sentimento que traz. De se aproximar mais de Deus, e eu tô vindo mais pra agradecer mesmo”, diz.Quer ler mais notícias do Pará? Acesse o nosso canal no WhatsApp!O servidor público Paulo Xavier, 69, acredita que a Quaresma é um tempo para ajustar a rota e buscar o caminho correto na vida. “É o momento de procurar fazer o certo. Por exemplo, o pessoal diz assim: ‘tal coisa é transação errada’. Se é errado, não pode dar certo. Então, procurar fazer o certo é o mais sábio. Não tem nenhuma regra mirabolante”, aconselha. Xavier também explica que a Páscoa é um momento propício para exercitar a gratidão à vida.“A Páscoa é um renascer, né? Eu digo que o renascer a gente tem todo dia. Agora, em algumas épocas, isso fica mais evidente porque engloba mais gente. Eu não sei se todos têm essa consciência de que cada dia que a gente consegue acordar, né, com saúde pelo menos, apesar de todas as lutas isso é renascer. Deus me permitiu acordar mais um dia”, aponta.O médico recifense Flávio Nóbrega, 64, de passagem por Belém, conclui que a principal mensagem da Páscoa é a ressurreição. “No sentido de que temos uma outra vida e que temos um Deus maior. E isso nos coloca numa reflexão muito forte, de que estamos aqui de passagem e que precisamos ter esse compromisso. Com nosso Deus maior, com essa ressurreição”.Celebrações judaicas e cristãs possuem diferençasA páscoa é uma celebração que tem origem judaica e que, com o tempo, ganhou um novo significado para os cristãos. Os historiadores afirmam que a Páscoa já era celebrada mesmo antes do surgimento do cristianismo.O historiador e cientista da religião, Marcio Neco, explica que a páscoa cristã é uma reinterpretação da páscoa judaica, que aparece no velho testamento, e está ligada às celebrações do êxodo, ou seja, à saída dos hebreus do Egito, onde eram escravizados. “É possível notar que a páscoa também é uma festa com um significado político. Isso acontece porque sempre que há uma ação que impacta a vida das pessoas, seja individualmente ou em grupo, ela acaba sendo política. Especialmente porque essa celebração remete a um povo que comemorava sua libertação da escravidão, buscando a liberdade. Desde o início dessa festa, encontramos elementos, tanto na narrativa bíblica quanto nas tradições judaicas, que nos ajudam a compreender a origem da Páscoa”, acrescenta.Ele explica que Jesus de Nazaré nasceu, viveu e morreu como judeu, e sua morte ocorreu nas proximidades de uma festa da páscoa judaica. “Isso faz com que o cristianismo tenha uma mensagem central: a morte e a ressurreição de Jesus de Nazaré. A origem da páscoa vem da cultura judaica, que celebra até hoje a transição da escravidão para a liberdade. Com a morte de Cristo, a páscoa ganha um significado mais profundo para os cristãos, tornando-se a maior celebração do cristianismo. Nela está contida uma mensagem fundamental: Jesus foi condenado, crucificado, morreu e, segundo a crença cristã, ressuscitou no terceiro dia”, afirma.Ele menciona que assim, temos a celebração da libertação dos judeus, uma festa que representa a passagem da escravidão para a liberdade, e também uma comemoração que simboliza a morte e a ressurreição, trazendo a ideia de uma nova vida para os cristãos. Marcio Neco, esclarece que outras religiões não costumam celebrar a páscoa, pelo menos não de forma ritual ou como parte de suas crenças.No judaísmo, o historiador explica que existe uma tradição de um jantar especial. “No passado, os judeus realizavam sacrifícios de cordeiros, e durante a páscoa, mais cordeiros eram oferecidos como uma forma de expiação dos pecados. No entanto, após a destruição do templo de Jerusalém no ano 70 do século I, as famílias judaicas começaram a se concentrar mais nas questões familiares. Foi nesse contexto que surgiu o sêder da páscoa, um jantar em que a família se reúne. Durante esse momento, são utilizadas várias simbologias que ajudam a ensinar as crianças sobre a tradição e a transmitir conhecimento”, esclarece. “Há muitos símbolos, como as ervas amargas, que representam o sofrimento vivido por aqueles que estavam escravizados; a água e o sal, que simbolizam as lágrimas e o suor desse povo; e as taças de vinho, que representam a alegria. Tudo isso serve para explicar de maneira didática às famílias, especialmente às crianças, o valor e a importância dessa tradição”, conta.Já a páscoa cristã, segundo ele, começou a ser celebrada nos primeiros séculos do cristianismo, trazendo consigo a importante mensagem da morte e ressurreição de Cristo. “Jesus foi condenado por ser visto como uma ameaça pelas autoridades romanas, que o prenderam e crucificaram. De acordo com a crença cristã, após sua morte, ele foi enterrado, mas ressuscitou no terceiro dia. Os relatos dos evangelhos misturam história, mitologia e canções que celebram a páscoa, exaltando a vitória de Deus sobre a morte. Assim, podemos ver as diferenças entre a páscoa judaica e a Páscoa cristã: uma celebra a passagem da escravidão para a liberdade, enquanto a outra celebra a transição da morte para a vida”, explica.O historiador explica que, de acordo com fontes históricas, em um certo momento, os cristãos começaram a trocar ovos, que eram comuns, mas pintados com lindas artes e mensagens. Com o tempo, na Europa, surgiu a tradição do ovo de Páscoa, assim como a figura do coelho. “Esses elementos estão todos ligados à fertilidade, à vida e à superação que encontramos na existência. Eles se tornam símbolos da páscoa cristã, representando essa nova vida. Não se trata apenas da reanimação de um corpo, mas de uma nova vida em Cristo, em Jesus. Por isso, esses símbolos estão associados à páscoa. Outros símbolos também fazem parte dessa celebração, como o peixe, o pão, o girassol e a grande vela, que é o principal símbolo litúrgico da Páscoa nas igrejas católicas”, afirma.
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