Eu assusto porque rio alto. Porque não disfarço o que sinto, não escondo quem amo, não guardo minha raiva, não engulo o choro.
Eu assusto porque falo muito. E por que pergunto mais ainda: questiono, indago, encosto na parede – quando preciso.
Eu assus porque me imponho, porque mostro o que sei, porque não me deixo intimidar facilmente.
Eu assusto porque sei usar a língua, porque entendo de seus sabores e dos seus dissabores. Porque aprendi a usá-la para amar e também para ferir.
Eu assusto porque sou ousada, porque sou atrevida, porque sou inquieta, porque me permito viver.
Eu assusto porque quebro regras, porque construo minha autoestima alicerçada na busca pela minha autonomia, pela minha independência pela minha individualidade e pelo meu amor próprio.
Eu assusto porque enfrento, desbravo, me atrevo, me jogo, digo “sim” muito mais do que “não” e experimento o gosto da vida, mesmo que às vezes seja péssimo.
Eu assusto porque sou professora, travesti, pesquisadora, escritora, dona de mim, do que eu sinto, do que eu desejo, do que eu sonho e do que almejo.
Eu assusto porque, na medida em que o ser humano tem a possibilidade de segurar as rédeas da sua própria vida, é lá que eu me encontro.
Eu assusto porque gargalho, porque fixo o olhar, porque beijo e abraço quem eu quero, em qualquer lugar, a qualquer tempo, com toda a intensidade que eu posso.
Eu assusto porque sou intensa, sou imensa, e não permito que ninguém me diga o contrário.
Eu assusto porque eu sei de mim, porque sei muito dos outros, porque consigo ler os outros, porque eu os desvendo, eu os desnudo, eu os provoco, eu os alimentos de sonhos possíveis e impossíveis, eu mexo com suas estruturas.
Eu assusto porque existo.
The post Eu assusto appeared first on Saiba Mais.