A crise climática é real, afeta diretamente os mais pobres e exige mudança urgente de comportamento. Essa foi a tônica da audiência pública realizada pela Assembleia Legislativa do RN, em alusão à Campanha da Fraternidade 2025, com o tema “Fraternidade e Ecologia Integral”.
O evento reuniu representantes da Igreja Católica, do governo estadual, de movimentos sociais e do Legislativo para debater os impactos das mudanças climáticas e a responsabilidade coletiva sobre o cuidado com o planeta.
O arcebispo metropolitano de Natal, Dom João Santos Cardoso, alertou para o avanço de uma catástrofe já em curso. Para ele, a desordem ambiental não é obra divina, mas consequência direta da ação humana. “Quem mais sofre com as mudanças climáticas são os pobres. A ecologia e o ser humano estão interligados. Falar de meio ambiente é falar da vida e da sobrevivência”, afirmou.
Citando a encíclica Laudato Si’ do Papa Francisco, ele defendeu uma conversão ecológica urgente e criticou a busca por soluções tecnológicas que ignoram a raiz do problema: “Não adianta sonhar com outro planeta. Só temos este”.
O coordenador da campanha na Arquidiocese, padre Robério Camilo, afirmou que o planeta entrou num decênio decisivo. “Ou mudamos nossas atitudes ou vamos provocar um colapso. Já estamos vendo o prenúncio nas catástrofes que assolam o Brasil”.
Ele lembrou as enchentes de maio de 2024 no Rio Grande do Sul, que devastaram 350 municípios e deixaram mais de um milhão de desabrigados. E criticou o modelo de desenvolvimento baseado na exploração dos bens naturais, chamando atenção para o discurso e a prática. “Dizem que a energia solar é limpa, mas a população continua pagando caro e não vê retorno”.
Foi feita a leitura do histórico de campanhas anteriores com temas ecológicos, como a de 2004 (Água) e a de 2017 (Biomas brasileiros). O deputado Francisco do PT citou o compromisso da Assembleia com o debate socioambiental, já o deputado Hermano Morais (PV) fez referência à origem potiguar da Campanha da Fraternidade, nascida no distrito de Timbó, em Nísia Floresta, há 61 anos. Ele reconheceu o papel da Igreja em levar o debate para além dos muros religiosos.
Representando a governadora Fátima Bezerra (PT), a secretária estadual do Trabalho, Habitação e Assistência Social (Sethas), Iris Oliveira, compôs a mesa ao lado de nomes como a professora Zoraide Pessoa, do Instituto de Políticas Públicas da UFRN, e o coordenador de Meio Ambiente da Secretaria de Recursos Hídricos, Robson Silva. O coral do Seminário São Pedro apresentou o hino da campanha com a pergunta: “Temos cuidado desse grande dom de Deus?”
Campanha da Fraternidade 2026
Padre Robério anunciou o tema da Campanha de 2026, que será “Fraternidade e Moradia”, voltando o olhar para as condições de habitação da população. Ele explicou que a escolha do tema deste ano foi motivada por três marcos: os 800 anos do Hino das Criaturas de São Francisco de Assis, os 10 anos da encíclica Laudato Si’ e a realização da COP-30, em novembro, em Belém (PA). “Não existe planeta reserva. E embora o planeta possa viver sem nós, nós não vivemos sem ele”.
O tom foi de apelo à ação política. “Nem tudo pode ser transformado em dinheiro”, disse, ao criticar a ocupação do sertão com placas solares e torres eólicas sem avaliação do impacto sobre comunidades tradicionais. “Podemos ter muito dinheiro, mas sem oxigênio ninguém sobrevive”.
A fala foi reforçada pela deputada Cristiane Dantas, que preside a Procuradoria da Mulher na Assembleia e manifestou apoio à campanha e às pautas ambientais. “O difícil não é fazer leis, é garantir que sejam cumpridas. E esse tema não pode morrer depois de hoje.” A audiência foi transmitida ao vivo pela TV Assembleia e pela internet.