O silêncio nunca foi inocente, mas a verdade tem insistência

No Brasil, o silêncio nunca foi inocente. Ele foi construído como projeto de poder, como estratégia para garantir que os crimes da ditadura militar jamais fossem nomeados, que os torturadores jamais fossem responsabilizados, que a memória dos que tombaram fosse apagada. Mas a verdade tem insistência. Ela sobrevive nas famílias que não esquecem, nos corpos marcados pela tortura, nas vozes que se recusam a silenciar.

No dia 1º de abril, saímos às ruas para reafirmar o óbvio: sem justiça, não há efetivação da democracia. Não há democracia quando os assassinos, torturadores, sequestradores e estupradores da ditadura nunca responderam por seus crimes. Não há democracia quando a violência do Estado segue matando nas periferias, quando líderes políticos fazem apologia à tortura, quando um ex-presidente conspira contra o país que governou e ainda caminha impune.

O Brasil nunca chamou a ditadura de ditadura. Nunca chamou os torturadores de criminosos. E o preço dessa omissão foi alto. O golpe de 1964 abriu caminho para um regime de terror que sequestrou, torturou e matou opositores políticos. A impunidade dos seus agentes garantiu que, décadas depois, o fascismo voltasse a se organizar, a se aflorar. Foi essa mesma impunidade que permitiu que um presidente exaltasse torturadores em rede nacional. Foi essa mesma impunidade que permitiu que militares e civis tramassem o golpe de 8 de janeiro de 2023.

Mas há uma diferença: desta vez, não podemos deixar impune. Bolsonaro se tornou réu. E pedir sua prisão, assim como a punição dos violadores de direitos humanos da ditadura, significar enfrentar um projeto autoritário que mata, que condena vidas à precariedade, que normaliza a desigualdade, que usa o medo e a violência para silenciar e subjugar. Se não o enfrentarmos agora, ele seguirá se reinventando, se fortalecendo e matando amanhã.

Por isso, na capital potiguar, ocupamos a Praça do Relógio e as ruas do bairro do Alecrim, onde tantas lutas democráticas ecoaram, para dizer que não aceitamos a repetição da história. Que exigimos memória para os mortos e desaparecidos. Que exigimos justiça para as vítimas da ditadura. Que exigimos punição para os golpistas de ontem e de hoje.

O Brasil não pode mais fugir de seu acerto de contas com o passado. Porque enquanto não houver justiça, o terror se repetirá. Enquanto não houver memória, o passado seguirá nos assombrando. Enquanto os criminosos seguirem livres, a o processo de efetivação da democracia seguirá ameaçado.

E nós não aceitaremos isso. Memória, Verdade e Justiça não são palavras do passado – são compromissos com o futuro.

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