Por Geraldo Barboza de Oliveira Junior*
Parnamirim, município do Rio Grande do Norte que se destacou nas últimas eleições por ser o único na região a apresentar maioria de votos para a direita (na eleição para Presidente), vive um momento de transição política. A eleição de uma mulher, professora e negra (com pautas democráticas) para a prefeitura representa uma mudança significativa no cenário local, especialmente considerando a presença de diversas populações tradicionais e a necessidade de abordar as particularidades e demandas desses grupos.
A nova gestão assume o desafio de conciliar a inclinação política conservadora de parte da população com as pautas e necessidades dos movimentos populares, que incluem quilombolas, ciganos, povos de matriz afro-brasileira e pescadores artesanais. A diversidade cultural e social de Parnamirim exige uma administração sensível e atenta às demandas específicas de cada grupo.
As populações tradicionais de Parnamirim apresentam demandas específicas e urgentes: para os quilombolas, (ante a já obtida certificação de reconhecimento e a titulação de seu território – mesmo que lotes individuais) elaborar um “protocolo de Consulta Prévia, Livre e Informada – CPLI” para considerar as devidas compensações socioambientais ante os impactos de natureza similar que a mesma enfrenta com a urbanização crescente de seu território; os ciganos buscam combater o preconceito e discriminação, almejando acesso à educação e oportunidades de emprego; os povos de matriz afro-brasileira defendem a liberdade religiosa, o combate à intolerância e a valorização de sua cultura; e os pescadores artesanais lutam pela defesa de seus direitos de seus territórios de pesca, pela proteção dos recursos naturais e pela garantia de condições de trabalho dignas para assegurar sua sobrevivência.
Nesse sentido, o papel da nova gestão, com uma prefeita que marcou sua trajetória como professora e ex-vereadora, é assumir o compromisso de promover um diálogo aberto e transparente com os movimentos populares. A implementação de políticas públicas inclusivas e a garantia do acesso aos direitos básicos são fundamentais para construir uma Parnamirim mais justa e igualitária.
Apesar da mudança política promissora, a nova gestão enfrentará desafios significativos. A polarização política, a resistência de setores conservadores e a limitação de recursos (incluindo o débito deixado pela gestão anterior) podem dificultar a implementação de políticas públicas voltadas para os movimentos populares.
No entanto, a mobilização e a participação ativa da sociedade civil são fundamentais para superar esses obstáculos. O fortalecimento dos conselhos municipais, a promoção de audiências públicas e a criação de canais de diálogo entre a gestão e os movimentos populares são estratégias importantes para garantir que as demandas sejam ouvidas e atendidas.
A eleição da nova prefeita representa uma oportunidade para construir uma Parnamirim mais inclusiva, democrática e atenta às necessidades de todos os seus cidadãos. O sucesso dessa empreitada dependerá da capacidade da gestão em promover o diálogo, a participação e a justiça social.
*Antropólogo, doutorando em Desenvolvimento e Meio Ambiente, escritor e dirigente do PSB – Parnamirim
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