Terremoto mata mais de 1.700 e agrava crises de Mianmar

Ao mesmo tempo em que tentam resgatar sobreviventes do terremoto de magnitude 7,7 que atingiu Mianmar, no Sudeste Asiático, na sexta-feira (28), moradores e socorristas convivem com ataques aéreos realizados pelo próprio Exército. As ofensivas da guerra civil não foram interrompidas após o tremor, um dos maiores a atingir a nação, deixar mais de 1.700 mortos, segundo a junta militar que governa o país.O Governo de Unidade Nacional, que reúne remanescentes do governo civil deposto por militares no golpe de 2021, afirmou que as milícias de oposição sob seu comando paralisarão todas as ações militares por duas semanas a partir deste domingo (30) para facilitar as operações de resgate.Ainda há cerca de 3.400 pessoas feridas e 300 desaparecidas, de acordo com o último balanço das autoridades mianmarenses. As buscas foram temporariamente suspensas neste domingo por uma réplica do abalo com magnitude 5,1, de acordo com o Serviço Geológico dos Estados Unidos. O órgão americano estima que o número de vítimas do terremoto pode passar de 10 mil.Conteúdo relacionado:Mianmar e Tailândia já contam 1.654 mortos no terremotoTerremoto de magnitude 7 atinge Tonga e gera alerta de tsunamiTerremoto deixa mais de 150 mortos em Mianmar e TailândiaTrês dias após fazer um raro pedido de ajuda internacional, o chefe do regime, Min Aung Hlaing, disse à mídia estatal que sua administração enfrenta uma situação desafiadora. Moradores relatam à agência de notícias Reuters que a assistência é escassa em áreas próximas da região de Sagaing, onde foi localizado o epicentro do tremor.”O que estamos vendo aqui é uma destruição generalizada, muitos edifícios desabaram no chão. Não recebemos nenhuma ajuda e não há trabalhadores de resgate à vista”, disse o morador Han Zin.Diante da falta de equipamentos, maquinários e socorristas, moradores de Mandalay cavavam com as próprias mãos para tentar salvar pessoas que estavam sob os escombros nas primeiras horas após o terremoto. Vizinha de Sagaing, a cidade é a segunda maior do país e também a mais atingida.No sábado (29), as buscas foram reforçadas com a chegada de 82 pessoas da equipe de resgate chinesa. Índia, Malásia, Rússia, Singapura e até Tailândia, que também foi atingida pelo tremor, enviaram suprimentos e socorristas, mas há dúvidas sobre como a ajuda que foi destinada a Naypyitaw, onde vivem os membros da junta, será distribuída.”Eles [os militares no comando] têm um longo histórico de usar a ajuda como uma arma”, disse Scot Marciel, embaixador dos EUA em Mianmar de 2016 a 2020, ao jornal The New York Times. “Eu pensaria que eles tentariam canalizar recursos para seus apoiadores e impedir que cheguem às pessoas nas áreas controladas pela resistência. Não tenho fé neles para fazer a coisa certa.”Sagaing abriga diversos grupos rebeldes. Um dos principais, o União Nacional Karen, manifestou a preocupação de que a o regime militar aplique o dinheiro recebido na guerra civil, disse o porta-voz Padoh Saw Taw Nee ao jornal americano. Hoje, o controle de Mianmar se divide entre os militares, que governam as áreas urbanas, e as milícias rebeldes, que controlam as áreas fronteiriças.Os Estados Unidos prometeram enviar US$ 2 milhões (R$ 11,5 milhões) em ajuda por meio de organizações de assistência humanitária baseadas em Mianmar, e disseram em um comunicado que uma equipe de resposta de emergência da Usaid, a Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional, da qual o governo de Donald Trump tentou cortar recursos, será enviada ao país.Agências humanitárias têm alertado que Mianmar não tem estrutura para enfrentar os impactos do desastre. Em crise política desde 2021, quando o Exército deu um golpe de Estado e depôs o governo civil eleito da líder Aung San Suu Kyi afirmando que havia fraude nas eleições, o país vive em contexto de violência generalizada e está com o sistema de saúde sobrecarregado por surtos de cólera e outras doenças.A guerra civil provocou o deslocamento de cerca de 3,5 milhões de pessoas, segundo a ONU (Organização das Nações Unidas), que antes do terremoto já estimava que a fome ameaçaria cerca de um terço da população em 2025. Agora, a assistência aos sobreviventes é afetada pela escassez de suprimentos médicos, como materiais para tratar fraturas e ferimentos graves, bolsas de sangue, produtos anestésicos e até medicamentos essenciais.Os danos estruturais em hospitais e outras infraestruturas críticas, como pontes, estradas, aeroportos, ferrovias e redes de comunicação dificultam ainda mais as operações de resgate.A OMS (Organização Mundial da Saúde) enviou quase três toneladas de suprimentos médicos para hospitais em Mandalay e Naypyitaw, onde estão tratando milhares de feridos estão sendo tratados. A Cruz Vermelha lançou uma campanha para arrecadar US$ 100 milhões (R$ 576,5 milhões) e, além de socorristas, a China se comprometeu a fornecer o equivalente a US$ 13,8 milhões (quase R$ 79,6 milhões) em ajuda.Na Tailândia, o número de mortos pelo terremoto subiu para 18, e 78 pessoas estão desaparecidas. Os socorristas ainda esperam resgatar trabalhadores vivos no distrito de Chatuchak, onde um arranha-céu de 30 andares que estava em construção desabou. Para isso, a operação mobiliza grandes escavadeiras, cães farejadores e drones térmicos para detectar sinais de vida.”Neste momento, nossa equipe está tentando encontrar qualquer pessoa que ainda possa estar viva. Dentro das primeiras 72 horas, temos que tentar salvar aqueles que ainda sobrevivem”, disse Teerasak Thongmo, comandante da polícia tailandesa. Familiares e amigos dos trabalhadores da obra aguardam notícias nos arredores do desabamento.As autoridades de Bancoc receberam mais de 2.000 relatos de danos e mobilizaram mais de uma centena de especialistas para avaliar a solidez dos edifícios. Cerca de 400 pessoas passaram a noite em parques porque suas casas não eram seguras, segundo as autoridades.
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