Adolescentes com problemas de saúde mental são mais propensos ao uso de cigarros eletrônicos

Quando os filhos estão lidando com questões de saúde mental, as famílias costumam ficam a preensivas, e é justificável, já que o desgaste emocional pode ter impactos significativos na vida dos jovens, podendo os levar à busca de conforto em substâncias danosas à saúde. Um estudo, publicado no periódico acadêmico Nicotine & Tobacco Researchapontou que adolescentes que estão enfrentando problemas de saúde mental, como de depressão e ansiedade, são mais propensos a usar produtos de nicotina não combustíveis, como os cigarros eletrônicos, também conhecidos como Vapes ou pods.

Segundo os pesquisadores, o trabalho visou compreender como os quadros emocionais e psicológicos dos jovens estavam associados ao uso de uma ampla variedade de produtos de nicotina. O estudo avaliou os dados durante os anos de 2020 e 2023, e foi realizado com base em uma pesquisa online chamada International Tobacco Control (ITC) Adolescents Tobacco and Vaping Survey, com adolescentes de 16 a 19 anos, no Canadá, Inglaterra e Estados Unidos. Ao todo, a pesquisa contou com mais de 80 mil participantes.

 O estudo classificou os adolescentes em quatro grupos distintos:

  1. Aqueles que não utilizam nenhum produto de nicotina.
  2. Usuários exclusivos de produtos de nicotina não combustíveis (ex.: cigarros eletrônicos).
  3. Usuários exclusivos de produtos de nicotina combustíveis (ex.: cigarros tradicionais).
  4. Usuários de ambos os tipos de produtos.

Os resultados mostraram que os adolescentes com sintomas de saúde mental internalizante (como depressão e ansiedade) são mais propensos a usar produtos de nicotina do que aqueles sem esses sintomas. No entanto, a intensidade dessa associação pode variar dependendo do tipo de produto usado:

Uso de ambos os tipos de produtos (combustíveis e não combustíveis): Esse grupo apresentou uma associação mais forte entre o uso de nicotina com problemas de saúde mental. Isso significa que os jovens que utilizam cigarros eletrônicos e tradicionais, ao mesmo tempo, têm mais chances de relatar sintomas de depressão ou ansiedade.

Produtos não combustíveis (cigarros eletrônicos): Nesse grupo, a associação entre problemas de saúde mental e uso de produtos não combustíveis também foi significativa. E o que chamou a atenção é que a relação foi ainda maior do que em jovens que usam apenas cigarros tradicionais.

Produtos combustíveis (cigarros tradicionais): Embora esse grupo também tenha apresentado problemas de saúde mental, a relação foi um pouco mais fraca em comparação aos outros dois grupos.

Para os pesquisadores, os resultados do estudo indicam que os problemas de saúde mental podem estar relacionados ao uso de nicotina, especialmente no caso de cigarros eletrônicos. Por isso, é essencial reduzir o uso desses dispositivos entre os adolescentes.

Falta de informação

A falta de conhecimento sobre os riscos do cigarro eletrônico é um dos principais desafios para reduzir o seu uso. Em 2024, um trabalho conduzido por especialistas do Sabin Diagnóstico e Saúde e apresentado no Congresso Brasileiro de Radiologia, detectou aspectos radiológicos desta condição nos exames de tórax dos usuários.

Segundo a radiologista Carolina Neves Luis Ronan Souza, do Sabin, que integrou o estudo em parceria com a Universidade Federal do Triângulo Mineiro, o cigarro eletrônico se desviou do propósito original de ser uma alternativa menos nociva ao tabagismo convencional, reduzindo doenças associadas. “Pelo contrário, essa nova modalidade do ato de fumar gerou um crescimento exponencial de usuários de nicotina pelo mundo, especialmente entre jovens e adolescentes”, alerta.

A pesquisadora ainda alerta que há um grupo considerável de pessoas que não considera o pod um cigarro e, por sua vez, não se autodeclara fumante. “Radiologia é uma especialidade que tem a ver muito com o histórico e o estado do paciente. Sem isso, não adiantará o radiologista laudar um exame de tórax”, diz a especialista. Segundo ela, as situações e faixas etárias são as mais diversas: “Há adolescentes, por exemplo, em que a família desconhece o uso, mas que apresentam quadros preocupantes”, alerta a coordenadora da pesquisa qualitativa.

 

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