Natal tem ciclistas mais pobres do país e menos estrutura nas periferias

Natal é a capital brasileira com o maior número de ciclistas vivendo com até um salário-mínimo, revelou o Ciclocomitê Popular de Luta da Capital durante o Café com Diva, live realizada pela deputada estadual Divaneide Basílio (PT) nesta terça-feira 18. Para o levantamento, mais de 400 ciclistas da cidade foram entrevistados, revelando que a maioria usa a bicicleta para deslocamentos extensos, especialmente trabalhadores das áreas periféricas.

O tema da segurança cicloviária em Natal voltou a ser discutido após a morte do médico Araken Britto, no último dia 24 de fevereiro. Ele foi atropelado por um caminhão quando pedalava em grupo na Avenida Salgado Filho, próximo ao Midway Mall. O caso chocou a cidade e reacendeu o debate sobre a necessidade de políticas públicas mais eficazes para proteger ciclistas.

O coordenador do Ciclocomitê, Daniel Russo, afirmou que as ciclovias existentes hoje em Natal são desenhadas para áreas nobres, mais voltadas à valorização imobiliária e turismo do que à segurança do trabalhador que usa bicicleta por necessidade.

“Temos ciclovias feitas para fotos, como a da Praça dos Gringos, em Ponta Negra. O trabalhador que sai de Felipe Camarão, por exemplo, precisa atravessar várias regiões perigosas antes de chegar a um espaço minimamente seguro para pedalar até o trabalho”, criticou.

Segundo o integrante do Ciclocomitê, Danúbio Gomes, os trabalhadores das regiões periféricas, principalmente da Zona Norte, são os mais expostos aos riscos diários. “É uma realidade brutal. Muitos desses trabalhadores, que pedalam diariamente para suas fábricas ou supermercados, não têm bicicletas com marchas ou roupas de ciclistas profissionais. Eles querem apenas chegar vivos ao trabalho e voltar para casa”, afirmou.

Para exemplificar a precariedade, Danúbio apontou que, após a pandemia, aumentou o número de ciclistas, mas as estruturas cicloviárias não acompanharam essa mudança. “Infelizmente, quem mais precisa é quem menos recebe investimentos. Zonas como Petrópolis e Capim Macio recebem ciclovias, enquanto a Zona Norte permanece esquecida”, reforçou.

A morte de Araken Britto trouxe à tona a urgência de medidas que garantam a segurança dos ciclistas, especialmente nas vias de maior fluxo e nas regiões mais carentes da cidade. O Ciclocomitê e outros movimentos de mobilidade urbana cobram ações efetivas do poder público, como a ampliação de ciclovias, a implementação de sinalização específica e campanhas de conscientização para motoristas e ciclistas.

A deputada Divaneide Basílio destacou a importância do debate e reforçou o compromisso de lutar por políticas públicas que garantam o direito à mobilidade segura para todos. “Defender a democracia é também defender o direito de ir e vir com segurança. Precisamos de uma cidade que acolha todos os modais, especialmente os mais vulneráveis, como ciclistas e pedestres”, afirmou.

Ciclistas denunciam ‘carrocracia’ e descaso com mobilidade urbana em Natal

Cicloativistas de Natal denunciaram o que chamam de “carrocracia”, política pública que prioriza o automóvel em detrimento das bicicletas e pedestres. Para os representantes do Ciclocomitê, o modelo atual exclui ciclistas e mantém uma lógica urbana injusta e perigosa.

“Toda infraestrutura é pensada primeiro para os carros. Quando a prefeitura constrói ciclovias, frequentemente derruba árvores ou diminui calçadas para não incomodar motoristas. Nossa proposta é exatamente o contrário: reduzir espaço dos automóveis e ampliar o do ciclista”, explicou Yago Caetano.

Segundo o cicloativista Rafael Lopes, a cultura de responsabilizar as vítimas após acidentes agrava o problema. “Tem vereador em Natal sugerindo que ciclista pedale no canteiro central, como se fôssemos obstáculos ao trânsito, não cidadãos com direito igual à cidade”, protestou.

Daniel Russo frisou que as campanhas de educação feitas pela Secretaria de Mobilidade Urbana (STTU) frequentemente responsabilizam o ciclista pelos acidentes. “Eles produzem materiais dizendo que precisamos ter cuidado, como se a culpa fosse nosso caso sejamos atropelados. A verdade é que falta estrutura, fiscalização e segurança. O poder público é responsável pelas mortes no trânsito”.

Os integrantes do comitê defenderam que Natal precisa urgentemente repensar a mobilidade urbana, garantindo integração real entre bicicletas e transporte público e priorizando a vida sobre os veículos.

Ciclocomitê Popular exige ação imediata por segurança de ciclistas no RN

O Ciclocomitê Popular exige ações imediatas do Governo do RN e da Prefeitura de Natal para garantir segurança aos ciclistas nas rodovias estaduais e vias urbanas. Ele criticou duramente a precariedade das estradas potiguares, classificando-as como “assassinas” para quem pedala.

“Estradas como a Alberto Freire ou a da Redinha não têm segurança nenhuma. Já aconteceram vários acidentes fatais, especialmente envolvendo trabalhadores que moram em áreas periféricas e dependem da bicicleta para trabalhar”, afirmou Daniel.

Para Danúbio, outra grave situação envolve as estradas rurais que interligam pequenos municípios potiguares. “Quem tenta pedalar entre cidades como Poço Branco e Taipu ou Afonso Bezerra e Pedro Avelino praticamente divide espaço com caminhões e carros em alta velocidade. Não existe nem acostamento adequado”, alertou.

A entidade cobrou uma reunião urgente com o Departamento de Estradas de Rodagem (DER) para discutir soluções práticas, incluindo redução de velocidade, construção de ciclovias nas vias estaduais e aumento da fiscalização.

Yago Caetano lembrou que na capital, vias estaduais sob responsabilidade do Governo do Estado também estão abandonadas. “A via que liga Capim Macio a Ponta Negra está destruída. Não há ciclovia, não há segurança. Ciclistas têm de arriscar suas vidas diariamente”, afirmou.

Para os cicloativistas, chegou o momento do governo estadual encarar o problema com seriedade, deixando de lado o discurso e implementando ações concretas que protejam as vidas dos milhares de ciclistas que pedalam diariamente no Rio Grande do Norte.

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