Exposição gratuita provoca diálogos sobre identidade e espiritualidade

Com diversas mostras realizadas por países como África do Sul, Alemanha, França, Holanda, Itália, Portugal, Chile e Estados Unidos, além do Brasil, o pintor, desenhista, ilustrador e muralista baiano Roney George abre a exposição Assentamentos, nesta próxima quinta-feira, 20, às 18h, na Casa do Benin.Na mostra, Roney diz que quer contar uma história de vida. “Quando pinto, penso em colocar belezas no mundo a partir das experiências que tenho com a existência. Cada quadro é um recorte da minha história, e a exposição, como um todo, se completa em um discurso de existência. A partir desta história, buscamos também provocar reflexões e diálogos sobre pertencimento, espiritualidade, saberes afro-diaspóricos, entre outros temas”.Nascido em Itapetinga, Roney, 52, apresenta 20 obras inéditas entre pinturas e instalações. São trabalhos calcados nas raízes afro-brasileiras e na influência da cultura sertaneja.Eles falam de temas como lutas, memórias, espiritualidade e ancestralidade. E evocam elementos como couro, terra, padrões geométricos e formas circulares, criando um ambiente que funciona como um grande assentamento espiritual e estético no coração do Pelourinho.Na verdade, Assentamentos é uma síntese de décadas de pesquisas e de práticas, mas também uma ressignificação do que Roney tem produzido como artista visual nestes 40 anos de trajetória profissional.“É uma espécie de reencontro com a minha ancestralidade, onde apresento nas obras muito das minhas raízes e referências afro-brasileiras e da cultura sertaneja. É muito especial que esta exposição aconteça na Casa do Benin, por toda a história do próprio espaço, do que carrega em si de ancestralidade”, conta o artista.

Roney George e Danilo Barata

|  Foto: Danilo Scaldaferri | Divulgação

Resistência e renovaçãoSob curadoria de Danillo Barata, a mostra parte da transição territorial e simbólica, na qual os signos do sertão – couro, terra, texturas ásperas e tons quentes – dialogam com elementos da diáspora africana, compondo uma narrativa visual que resgata e reconstrói memórias dos povos negros e indígenas.“Buscou-se construir uma narrativa visual que reforçasse a interação entre fixos – permanências culturais e simbólicas – e fluxos – deslocamentos, trocas e reinterpretações –, organizando a exposição como um território em movimento, em permanente processo de ressignificação”, explica o curador.Barata garante que o título da exposição remete aos espaços de resistência, sobrevivência e renovação criados pelo legado afro-brasileiro, e que as obras de Roney reverberam diálogos entre as lutas afro-americanas e afro-brasileiras, evocando ancestralidade, identidade e a força das narrativas coletivas.Para Roney, assentamento é também lugar de permanência e ponto de passagem. “Onde saberes, memórias e ritos se fixam e se transformam. Então, fazemos essa proposta, de assentar estes elementos, estas transformações, de assentar a mim mesmo”.“Eu penso que a arte quer acontecer, existir, dialogar. Dentro do artista, ela é uma abstração. Quando ela sai, se materializa e começa a dialogar com o mundo, com as pessoas. Mas antes do que quer a arte, existe a necessidade do artista de transformar aquilo que é uma abstração, no seu íntimo, na sua cabeça, na sua história, em algo palpável”, complementa o pintor.

|  Foto: Danilo Scaldaferri | Divulgação

Cultura caiçaraCom uma trajetória de 40 anos, este artista plástico reconhecido no Brasil e exterior, que também atua nas áreas de cenografia, figurino e design de moda, cresceu imerso nas expressões visuais do agreste sertanejo e, ainda jovem, mudou-se para Salvador, aprofundando sua relação com o Recôncavo e suas extensões culturais.“Roney George é um artista visual baiano que construiu sua trajetória dialogando com referências do sertão, da cultura afro-indígena e das tradições afro-brasileiras. Sua obra parte da memória pessoal e coletiva para criar um discurso visual que articula território, ancestralidade e contemporaneidade”, finaliza Barata.A exposição faz parte do projeto Assentamento, contemplado pelo edital Gregórios – Ano IV com recursos financeiros da Fundação Gregório de Mattos, Secretaria Municipal de Cultura e Turismo, Prefeitura de Salvador e da Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura, Ministério da Cultura e Governo Federal.Exposição Assentamentos / Em cartaz de 20 de março a 30 de abril / Visitação de terça a sexta-feira, das 10h às 17h, e sábado, das 9h às 16h / Casa do Benin (Pelourinho) / Gratuito

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