‘Becoming Led Zeppelin’: entre a chapa branca e performances inéditas, foi na média

Passado o frenesi carnavalesco, este jornalista gostaria muito de recomendar uma sessão de Becoming Led Zeppelin, o aguardado documentário sobre a mítica banda liderada pelo guitarrista Jimmy Page, como um programa para este fim de semana aos leitores do jornal A TARDE.Infelizmente, isto não será possível, já que, após apenas uma semana em cartaz na cidade, o filme já foi tirado da sala IMAX do UCI Shopping da Bahia. Agora – exceto por métodos que não me cabe sugerir – só aguardando o indigitado surgir em algum streaming da vida (rápida pesquisa indica que ele deverá chegar em breve à Netflix).O espaço é curto, então vamos direto ao ponto: Becoming Led Zeppelin não é um bom ponto de entrada para quem ainda não conhece a banda, sendo mais indicado para quem já é fã. Muito objetivo, ele narra os primórdios do grupo de forma muito didática e cronológica, remontando à destroçada Inglaterra do pós-guerra na qual cresceram seus membros.E, imediatamente, lá estão os membros remanescentes Jimmy Page (guitarra), John Paul Jones (baixo e teclados) e Robert Plant (vocais), nos dias de hoje, octogenários e sentadinhos em suas poltronas, a relembrar os gloriosos anos 1960, quando iniciaram suas jornadas na música, sempre de forma muito higienizada.Sim, higienizada. Trata-se de um documentário autorizado pela banda, portanto nada de escândalos por aqui, tá OK? Orgias com as fãs? Mas o que é isso?!? Drogas? Nunca ouvimos hablar disso aí, não. Não há terceiros falando, não há contradições, não há controvérsia – e olha que o Led sempre foi uma banda razoavelmente controversa.A própria linguagem do filme é tão careta que corre-se o risco de achar que estamos assistindo a algum documentário do PBS, a emissora pública norte-americana, famosa pelos documentários informativos e bem pesquisados, porém, sem sal.Isto torna Becoming Led Zeppelin um filme ruim? Não necessariamente, mas ele fica melhor para quem já conhece a banda, sua história e suas canções, dado o seu caráter didático – embora isto possa parecer um contrassenso.Ao optar por uma narrativa cronológica, detalhada e certinha, o documentário se aprofunda nos meandros do ‘fazer artístico’ (com o perdão para o clichê) de seus músicos, às vezes esbarrando mesmo em tecnicalidades para músicos.Um exemplo bem claro é um trecho em que vemos o falecido baterista John Bonham (que ‘fala’ ao doc por meio de uma entrevista inédita recuperada sabe-se lá onde) tocando a acachapante Good Times Bad Times, faixa de abertura do primeiro álbum.Por uma câmera posicionada bem em cima dele, vemos como o endiabrado baterista tocava a faixa em questão com apenas um pedal de bumbo – embora ele parecesse estar tocando três ao mesmo tempo. Para quem entende o que ele está fazendo ali, é de cair o queixo. Quem não entende, fica na mesma.Tornar-se o que se desejaO que Becoming Led Zeppelin traz de melhor são suas imagens inéditas, tanto dos membros na pré-formação da banda, quanto durante. Vemos Jimmy Page adolescente tocando skiffle (forma rudimentar de rock com instrumentos improvisados) na TV. Vemos John Paul Jones, garoto, tocando órgão na igreja.E também as primeiras apresentações – curiosamente, na Escandinávia, e a primeira em São Francisco, no lendário Fillmore East, o show em que o quarteto finalmente passou acreditar que aquela banda poderia dar certo. Há outras, com as músicas na íntegra – todas espetaculares.O maior elogio que se pode fazer ao filme é que ele é fiel ao seu título: “Tornando-se Led Zeppelin”. O doc termina ainda em 1969, após o lançamento do álbum Led Zeppelin II. Toda a sua narrativa gira em torno da luta daqueles quatro jovens músicos em se tornar uma banda com personalidade – e construir sua própria escadaria para o paraíso.Becoming Led Zeppelin / Dir.: Bernard MacMahon / Com Jimmy Page, John Paul Jones, John Bonham e Robert Plant / Breve em streaming
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