Vereador ligado ao MBL bate-boca com médico em UPA de Cidade da Esperança

A pretexto de “fiscalizar a UPA de Cidade da Esperança”, o vereador Matheus Faustino (União Brasil), ligado do MBL (Movimento Brasil Livre), causou tumulto na Unidade de Pronto Atendimento, na última sexta-feira (28), atrapalhou o funcionamento, constrangeu servidores e saiu se dizendo “ameaçado” por um médico que não autorizou que o parlamentar invadisse uma consulta e filmasse o atendimento.

Em seu canal no YouTube, o vereador publicou uma versão editada de pouco mais de 20 minutos de imagens da visita à UPA. Ele disse que, enquanto fiscalizava a Unidade de Pronto Atendimento, um médico tentou lhe “intimidar” para que ele parasse de gravar e “denunciar o descaso na saúde pública”.

“A população sofre com a falta de atendimento, demora absurda e estrutura precária e quando cobramos soluções, somos ameaçados. Até quando isso vai continuar?”, indagou o vereador, que curiosamente é do mesmo partido e apoiou a eleição do prefeito Paulinho Freire (União Brasil).

Médico diz que vereador invadiu consultório sem autorização

O médico, identificado como Fábio Smith, afirma que não gostou da abordagem do vereador, que entrou no consultório enquanto ele atendia a um paciente. O profissional diz que Matheus Faustino tem o direito de fiscalizar, mas que ele foi “ofensivo” e “invasivo”.

O vereador alega que não expôs o paciente, mas o médico alerta que a consulta tem a prerrogativa do sigilo e que nem ele nem o paciente autorizaram a filmagem. Faustino responde dizendo que o médico pode processá-lo.

Ao final do vídeo, o vereador aparece em frente a uma delegacia dizendo que registrou um boletim de ocorrência contra o médico porque, segundo ele, teria sido ameaçado pelo profissional.

Problemas estruturais

Durante a suposta fiscalização à UPA, o vereador expôs problemas estruturais da unidade, como macas com colchonetes rasgados, banheiros insalubres e equipamentos com ferrugem.

Ele fez questionamentos sobre a escala de plantão, disse em tom de ironia que ira ver se “alguém saiu mais cedo para curtir o carnaval”, mas ao final admitiu que a quantidade de médicos que estava trabalhando era suficiente.

Faustino entrou em várias salas da UPA, conversou com profissionais e perguntou a todos se havia problemas estruturais ou se faltava insumos e medicamentos na unidade de saúde.

Ouviu de uma enfermeira que só estava faltando prometazina, medicamento usado para tratar reações alérgicas, náuseas, vômitos e como sedativo. Ele tentou entrar na área da enfermaria, onde os pacientes recebem a medicação, mas foi avisado que não seria permitido.

Uma médica disse ao vereador que estava com cinco meses de salários atrasados pela Cooperativa Médica do RN (Coopmed-RN), contratada pela Prefeitura de Natal. Em seguida, ele vai à farmácia e à sala de raio x, mas parece sair frustrado ao constatar que o equipamento estava funcionando.

A reportagem da Agência Saiba Mais solicitou um posicionamento da Secretaria Municipal de Saúde sobre a ação do vereador, mas não obtivemos retorno até o fechamento da matéria. O espaço segue aberto e a matéria será atualizada assim que recebermos uma resposta oficial.

Método do MBL

O método usado pelo vereador Matheus Faustino é o mesmo usado por integrantes do MBL em todo o Brasil. No início de fevereiro, o vereador da cidade de Felício dos Santos (MG), Wladimir Canuto (Avante), invadiu a sala vermelha da UPA do município, interrompendo o atendimento a um paciente em estado grave, que morreu durante a ação.

Em nota divulgada nas redes sociais, o prefeito Weniton William França (PRD) disse que o parlamentar atuou de forma “vil” e “ardilosa” e que tomará as medidas administrativas e judiciais cabíveis contra o parlamentar ligado ao MBL.

O ex-vereador Gabriel Monteiro, preso desde novembro de 2022, acusado de estuprar uma estudante, também era ligado ao MBL e ganhou fama invadindo hospitais e Unidades de Pronto Atendimento do Rio de Janeiro (RJ).

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