A grande crise

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Em reportagem, publicada essa semana por National Catholic Reporter, trazida pelo Instituto Humanitas da Unisinos, Christopher White apresentou sua leitura sobre a abrangente carta do Papa Francisco aos bispos dos EUA condenando a “grande crise” desencadeada pelos planos de deportação em massa do presidente Donald Trump e rejeitando explicitamente as tentativas do vice-presidente JD Vance de usar a teologia católica para justificar a repressão imigratória do governo.

“O ato de deportar pessoas que, em muitos casos, deixaram suas próprias terras por motivos de extrema pobreza, insegurança, exploração, perseguição ou grave deterioração do meio ambiente, fere a dignidade de muitos homens e mulheres, e de famílias inteiras, e os coloca em um estado de particular vulnerabilidade e indefesa”, diz a carta do papa de 11 de fevereiro. (…)

A carta do papa, publicada pelo Vaticano, ofereceu sua solidariedade aos bispos dos EUA que estão engajados na defesa da migração e traça um paralelo entre a experiência do próprio Jesus como migrante e a atual situação geopolítica.

“Jesus Cristo… não viveu separado da difícil experiência de ser expulso de sua própria terra por causa de um risco iminente de vida, e da experiência de ter que se refugiar em uma sociedade e uma cultura estranhas às suas”, escreve Francisco.

O pontífice também rejeita claramente os esforços para caracterizar os migrantes como criminosos, um recurso retórico frequentemente usado por autoridades do governo Trump.

“A consciência corretamente formada não pode deixar de emitir um juízo crítico e expressar seu desacordo com qualquer medida que, tácita ou explicitamente, identifique o status ilegal de alguns migrantes com a criminalidade”, escreve o papa.

Logo após Trump assumir o cargo, o vice-presidente JD Vance — um recém-convertido ao catolicismo romano — tentou defender a repressão migratória do governo apelando ao conceito agostiniano de ordo amoris tal como reformulado por São Tomás de Aquino.

“O verdadeiro ordo amoris que deve ser promovido é aquele que descobrimos meditando constantemente na parábola do ‘Bom Samaritano’, isto é, meditando no amor que constrói uma fraternidade aberta a todos, sem exceção”, escreveu o papa rejeitando a interpretação do polítco.

Desde sua eleição em 2013, Francisco se tornou um dos maiores defensores dos migrantes no mundo. Sua última carta, no entanto, marca um raro momento em que o pontífice entrou diretamente nos debates políticos de um país.

Na carta, porém, ele afirma que este é um “momento decisivo na história” que exige reafirmar “não apenas nossa fé em um Deus sempre próximo, encarnado, migrante e refugiado, mas também a dignidade infinita e transcendente de cada pessoa humana”.

“O que é construído com base na força, e não na verdade sobre a igual dignidade de cada ser humano, começa mal e terminará mal”, alertou o papa.
“Somos gratos pelo apoio, incentivo moral e orações do Santo Padre aos Bispos em afirmação de seu trabalho de defesa da dignidade da pessoa humana dada por Deus”, publicou a conferência episcopal dos EUA.

 

 

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