Tráfico humano: brasileiros fogem de Mianmar após 3 meses como reféns

Dois brasileiros que estavam sendo mantidos reféns como vítimas de tráfico humano, há mais de três meses, foram resgatados em Mianmar, segundo informação de familiares. A informação é do UOL.Os brasileiros Luckas Viana dos Santos, 31, e Phelipe de Moura Ferreira, 26, foram encontrados por um grupo armado na segunda-feira, 10, após conseguirem fugir no último sábado.Ainda de acordo com familiares da vítima, eles escaparam do local onde eram mantidos reféns junto a um grupo de 368 estrangeiros de 21 países, também vítimas de tráfico humano no país asiático, segundo informação da The Exodus Road. Eles foram encontrados e detidos por agentes do DKBA (Exército Democrático Karen Budista), após a fuga.O DKBA é um grupo armado de rebeldes dissidentes das Forças Armadas de Mianmar, que vive sob regime ditatorial militar há quatro anos e é dominado por milícias armadas pró e contra o governo.Uma das vítimas brasileiras se comunicou com o pai por mensagem no sábado, 8, antes da fuga. Já no centro de detenção eles conseguiram se comunicar com os familiares, lá eles aguardam a transferência para Tailândia com o auxílio de uma organização civil internacional de combate ao tráfico humano.Alguns familiares mostraram preocupação mesmo após eles conseguirem fugir, por ainda estarem presos, agora com as forças paramilitares do país no sul asiático. “A gente está muito feliz, mas preocupados ainda. Soubemos hoje que foram presos por alguma milícia em Mianmar, e o DKBA pegou eles, mas eles ainda correm risco porque, como foi fuga, a máfia ainda pode estar procurando eles”, disse Ana Paula, prima de Luckas.

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De acordo com uma porta-voz da Exodus que acompanha o caso dos brasileiros há cerca de três meses, o DKBA segue na missão e resgatar as vítimas de tráfico humano. “Ao todo, espera-se que 170 vítimas sejam libertas e enviadas para a Tailândia, possivelmente até quarta-feira, 12”, diz Cintia Meirelles.Os familiares ainda afirmaram que o resgate não teve apoio do Ministério das Relações Exteriores e embaixada brasileira, segundo familiares. “O mérito [do resgate] foi todo da ONG [Exodus]. A embaixada [brasileira] só ficou aguardando a boa vontade das autoridades de Mianmar, que não iam fazer nada. Já sabiam onde eles estavam e tinham que ter pressionado mais, mas não fizeram. Quem pressionou foi a ONG”, disse o pai de Phelipe.Os familiares também disseram que entraram em contato com a embaixada do Brasil para pedir ajuda deles a acionarem as autoridades locais, na tentativa de fuga, mas não obtiveram respostas. “Só hoje [11], entraram em contato comigo para dizer que tinham novidade sobre o meu filho, depois que eu já tinha recebido a notícia da ONG [Exodus], que desde ontem está acompanhando o meu filho e o Luckas lá”, comentou Antonio Carlos Ferreira, pai de Phelipe.Os familiares aguardam ainda uma ação do Itamaraty para repatriar brasileiros. De acordo com os familiares, as vítimas serão mantidas presas na Tailândia até terem acesso aos seus passaportes e o dinheiro das passagens para voltar ao Brasil, o que só seria possível com a ajuda do Ministério das Relações Exteriores brasileiro.“Hoje, eles estão em um centro de detenção da DKBA, em Mianmar, onde vão ficar até amanhã. De lá, provavelmente irão para a Tailândia, onde devem ser entregues às autoridades do governo do Brasil, que aí sim terão a responsabilidade de fazer o repatriamento dos dois”, explicou Cintia Meirelles, porta-voz brasileira da The Exodus Road.Os brasileiros se tornaram vítimas de tráfico humano em Mianmar entre outubro e novembro, após aceitarem supostas propostas promissoras de emprego na Tailândia. Ambos ficaram presos em uma fábrica em Myawaddy, onde eram forçados a trabalhar 15 horas por dia. Sob ameaças e tortura, eles eram forçados a aplicar golpes digitais em pessoas de outros países.“Meu filho está com o corpo todo machucado de pancadas e choques, de tudo o que fizeram com ele lá, e não só com ele, mas com muitas pessoas de todas as partes do mundo. Agora, o mundo tem que olhar para Mianmar e intervir nessa rede de tráfico humano”, desabafou Antonio Carlos Ferreira, pai de PhelipeO familiares das vítimas afirmaram que autoridades brasileiras davam apenas retornos protocolares e vagos. Em resposta, o Itamaraty disse que “por meio das Embaixadas do Brasil em Bangkok e em Yangon, acompanha o caso, está em contato com as autoridades locais competentes e presta assistência consular aos familiares do brasileiro”.Ainda após repercussão da história, o Itamaraty informou que acionou autoridades locais. “Ao longo das últimas semanas, foram realizadas diversas gestões junto ao governo de Mianmar, com vistas a localizar e resgatar os brasileiros — operação que compete às autoridades policiais locais”, explicou a pasta em nota enviada em janeiro.

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