Secretário ignora problemas e diz que após engorda Ponta Negra está “perfeita”

Ignorando os problemas que vêm ocorrendo desde a conclusão da obra da engorda de Ponta Negra, principalmente os alagamentos nos mais de 4,6 km de extensão da faixa de areia alargada, o secretário Thiago Mesquita, titular da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo (Semurb), afirmou, em vídeo postado nas redes sociais, que a praia estava “perfeita”.

O secretário defendeu que a obra do aterro hidráulico “era indispensável para garantir a estabilidade de linha de costa de Ponta Negra” e que era também “a única alternativa técnica” para resolver o problema da erosão costeira e revitalizar a orla de Ponta Negra. As críticas à obra, no entanto, não questionam a necessidade ou não da sua realização, mas a forma como ela foi feita.

“A praia está perfeita, linda, maravilhosa, todo mundo aqui trabalhando, usufruindo da praia”, disse Thiago Mesquita. A realidade, porém, difere do tom otimista das declarações do secretário.

Desde a sua conclusão, a obra vem apresentando inúmeros problemas, principalmente os alagamentos causados pelas primeiras chuvas do ano e pelo colapso do sistema de drenagem, que não suportou o volume de água.

Apesar dos alagamentos constantes, secretário diz que praia está “perfeita”. Foto: Reprodução

Outro problema foi o avanço da maré, que segundo Thiago Mesquita era uma coisa “esperada” no projeto da engorda de Ponta Negra. O secretário havia dito que, com a maré alta, teríamos “aproximadamente 50 metros de faixa e, na maré baixa, 100 metros”, mas alagamentos estão chegando até o enrocamento de pedras feito para proteger o calçadão.

A drenagem havia sido um dos prontos cobrados pelo Idema (Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente do Rio Grande do Norte) para liberar a licença ambiental da obra. A Prefeitura de Natal, ainda na gestão do ex-prefeito Álvaro Dias (Republicanos), obteve uma decisão judicial obrigando o órgão ambiental a emitir o documento mesmo com as falhas no projeto, além de proibir a fiscalização do aterro hidráulico.

Thiago Mesquita afirmou que o Idema, mesmo cobrando o plano de drenagem da obra, “não previu nada que aconteceria” e que o posicionamento do órgão foi “subjetivo relacionado à questão ambiental, que não eram relevantes para a emissão dos atos administrativos que nós precisávamos”.

Entre as 40 perguntas apresentadas pelo Idema à Prefeitura de Natal e à Semurb, uma delas questionava justamente como ficaria a drenagem no local.

“Como o projeto de engorda prevê que em alguns pontos a faixa de areia vai ficar na mesma altura que o calçadão, o Idema quer saber se as 14 descidas de água previstas estarão localizadas em algum desses pontos. Considerando que elas estão em nível mais baixo que o calçadão atualmente, o Idema quer saber como vai funcionar a drenagem das águas pluviais”, diz um dos pontos levantados pelo órgão ambiental, que também pediu “mais esclarecimentos dos procedimentos construtivos e dissipadores a serem utilizados no sistema de drenagem de águas pluviais”.

Idema e Caern negam responsabilidade pelos alagamentos

A Semurb atribuiu inicialmente os alagamentos na área da engorda à “conexão entre dois pontos da drenagem da região”, responsabilizando a Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte (Caern) pela situa, o que foi negado pelo presidente do órgão, Roberto Linhares.

Em nota conjunta do Idema e da Caern, os dois órgãos atribuíram o problema dos alagamentos às galerias de drenagem pluvial, cuja gestão é de responsabilidade da Prefeitura de Natal.

“Esgoto funciona independente de chuva, só transborda esgoto se tiver ligação clandestina quando chove, no caso, de águas pluviais no esgoto. Outro ponto: o que é nosso a gente assume a responsabilidade. Por exemplo, Rota do Sol transbordava. Não transbordou em 2023, não transbordou em 2024, nem em 2025 vai transbordar. Por quê? R$ 12 milhões que investimos lá, era nosso, assumimos, fizemos. Mas isso [na engorda de Ponta Negra] não é nosso”, disse o presidente da Caern.

Depois de minimizar a falta de drenagem no projeto original da engorda, o secretário Thiago Mesquita mudou o discurso e anunciou que a Semurb contrataria uma empresa para realizar o serviço, que, segundo ele, ficará pronto até o início de março.

Rodolitos

No vídeo postado em suas redes sociais, Thiago Mesquita exibiu dois pedaços de rodolitos, que são as estruturas esféricas formadas por algas calcárias encontradas na orla após a engorda.

Foto: Reprodução

Ele anunciou que a Semurb também lançará um processo para contratar uma empresa, com dispensa de licitação, para realizar uma limpeza mecanizada no local. O custo mínimo de referência do serviço foi fixado em R$ 72.982,35.

A concorrência eletrônica, segundo informou o secretário, será lançada na quarta-feira (12). A empresa contratada fará não só a remoção dos rodolitos, “mas também de tampinhas, canudos, latinhas e de todo e qualquer resíduo sólido, que porventura esteja na areia da praia”, acrescentou.

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