Artista de origem indígena expõe obras inéditas e criadas na Bahia

Um dos vencedores do Prêmio PIPA de Arte Contemporânea 2024 – considerado uma das principais distinções de arte do país –, o artista visual, pintor e escultor pernambucano de origem indígena Aislan Pankararu, 34, traz a Salvador a exposição Caatinga Fractal e o Encontro da Terra Seca, Água Doce e Água Salgada.Quem exibe a mostra inédita do artista nordestino que tem obras no Instituto Inhotim (maior museu a céu aberto do mundo – Brumadinho, MG), e que também é médico, é a Casa Rosa (Rio Vermelho). O trabalho de Aislan pode ser conferido até 16 de março, sempre de terça a domingo, das 13h às 19h, com entrada franca.Com curadoria de Brás Moreau Antunes (filho de Arnaldo Antunes), Caatinga Fractal é também uma celebração de boas-vindas a Aislan, já que ele decidiu morar na capital do dendê depois de estar muitos anos instalado fora da região Nordeste.“Entender que meu caminho passa por aqui. A gente ali da divisa do sertão com a Bahia já tem uma relação muito próxima com o estado. Enfim, fui abraçado e acolhido por aqui”, justifica o pintor.Ele conta que a mostra quer celebrar coletivamente a força do povo nordestino e suas potencialidades. “É uma série de trabalhos inéditos que foram feitos aqui em Salvador em minhas andanças no último ano. Trata-se de muito afeto a esse meu coração nordestino, em que consigo carregar referências ancestrais e do meu bioma caatinga”.Cores vibrantesQuem for à galeria da Casa Rosa vai se deparar com dez obras, todas criadas na Bahia em 2024, além da pintura sobre tecido A Redescoberta, trabalho consagrado no XV Prêmio PIPA de Arte Contemporânea (RJ).Exibida no térreo, juntamente com trabalhos de dois artistas soteropolitanos: o carnavalesco, designer e serígrafo Alberto Pitta e o cantor e compositor Carlinhos Brown, a obra tem 6,10 por 3,80 metros e se destaca, sobretudo, pelas dimensões.A ideia de unir os três artistas é criar um diálogo que possa entrelaçar forças ancestrais. Para Aislan, os mestres baianos Brown e Pitta são grandes referências de arte.“Arte viva e ancestral. Temos muitas coisas em comum, expor com eles é ser abraçado”, comenta o artista.Já as pinturas expostas no 1º andar são menores – 60 por 90 centímetros –, se destacam pelas cores vibrantes e possuem títulos como Força da caatinga, Inflamação sertaneja, Cura pela água salgada, O poder do semiárido e Voltei, Nordeste, meu amor.Riqueza simbólicaSegundo Brás, a pintura de Aislan habita outras dimensões. Suas obras são como fagulhas em uma noite escura. Elas não revelam nada da infinitude, só pequenos vislumbres que permitem perceber que existe muito mais do que aquilo que estamos acostumados a ver. Algo que somente a conexão da ancestralidade originária é capaz de evocar.“O trabalho de Aislan, para mim, é uma das coisas mais interessantes que vêm sido produzidas por artistas visuais brasileiros, por essa nova geração, atualmente. E eu já achava isso quando conheci o trabalho dele em 2021”, recorda o curador.“Além disso, acho muito bacana o fato dele ser parte de uma vanguarda brasileira que tem a ver com esse reconhecimento, por parte da academia do mundo da arte, da arte brasileira que não se limita à arte da cidade, à arte branca, à arte que é produzida em ateliês e por uma elite, para uma elite”, alinhava Brás.Como curador, ele conta que procurou privilegiar o público fazendo com que as pinturas pudessem conversar entre si, criando um caminho fluido e, ao mesmo tempo, permitindo que as pessoas possam se aproximar dos trabalhos.“Também procuramos não ter muita poluição para privilegiar as obras. A gente procurou dar equilíbrio ao encontro. Procurou também privilegiar os artistas, engrandecer o trabalho deles, valorizar ao máximo. Cada artista tem sua parede”, detalha Moreau.Caatinga ancestralOriginário do povo indígena Pankararu, Aislan relata que, depois de retornar ao Nordeste e entrar em contato com Salvador e a Baía de Todos os Santos, voltou a trabalhar com cores intensas com o intuito de celebrar a caatinga, bioma que está em seu DNA, lembrando ainda que é preciso se ‘renordestinizar’.“As cores já estavam dentro de mim, só que percebi que tinham que ser utilizadas em momentos oportunos. Estar aqui nessa região é colocá-las pra fora, pois me sinto confortável e acolhido pra fazer isso”, finaliza o pintor.O trabalho do artista pernambucano resulta das memórias de suas origens e da necessidade de entrar em contato com sua ancestralidade. Recursos pictóricos tradicionais da pintura corporal de seu povo são utilizados para elaborar traços e figuras, evocando a riqueza visual e simbólica dos Pankararu.Caatinga Fractal e o Encontro da Terra Seca, Água Doce e Água Salgada / Casa Rosa – Praça Colombo, 106, Rio Vermelho / até 16 de março / terça a domingo, 13h às 19h / Entrada franca
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