80 anos de Bob Marley é celebrado com show em Juiz de Fora

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Rafael Cardoso (esquerda), no show desta sexta, conta com a participação de Dudu, da banda ETC (Foto: Divulgação)

Foi por volta dos 13 anos que Rafael Cardoso viu Bob Marley pela primeira vez. O ano era 1997, e o cantor jamaicano já estava morto há 16, devido a um câncer. Os dreads e o olhar profundo fascinaram o menino. Quando ouviu “Emancipate yourself from mental slavery/None but ourselves can free our minds” (“Emancipe-se da escravidão mental/Ninguém além de nós mesmos pode libertar nossa mente”, em uma tradução livre), trecho da música “Redemption song”, teve certeza que Marley era especial. Inspirado pelo músico caribenho, Rafael começou a cantar. Conheceu a “velha guarda” do reggae na Jamaica, gravou com integrantes da banda The Wailers e, nesta sexta-feira (7), juntamente com Rama Ruana, DJ Pedro Paiva e convidados, os 80 anos do nascimento de Robert Nesta Marley são honrados em show no Cultural Bar, às 22h. 

Pelas redes sociais 

Rafael Cardoso conhece Bob Marley & The Wailers desde que, mexendo nos discos de seu pai, encontrou o álbum “Legend”. Já familiar ao ritmo do reggae, devido às rodas de violão de amigos que frequentava, encontrou, de fato, Bob Marley por meio de um LaserDisc (formato de disco óptico para armazenamento de vídeo e áudio). “Lembro do impacto de vê-lo pela primeira vez. Uma figura emblemática, com os dreads. Na época, pouca gente tinha esse tipo de cabelo. A fala e o olhar eram profundos… Vi logo que se tratava de um cara místico. Um revolucionário que deu voz ao povo oprimido”, relembra. 

As músicas que conquistaram o mundo e levaram mensagens de paz, foram, aos poucos, interessando Rafael. “Achei maravilhosas, com um poder de culto à liberdade e denúncia das opressões muito forte. Mesmo vindo de uma região empobrecida do globo, ele conseguiu arrebatar o mundo. Isso para mim é revolução. Deu voz ao seu povo, que passava por inúmeras dificuldades e opressões. As palavras que ele dizia serviam não só para a Jamaica, mas para o mundo todo. Há opressão e desigualdade social no mundo todo. O povo pobre segue sendo oprimido em todo o mundo.” 

Crendo no que via e ouvia, começou a cantar. Percebeu que levava jeito e, por volta dos 15 anos, montou sua primeira banda. Fez parte de um dos momentos mais efervescentes da cena reggae de Juiz de Fora, na década de 1990, e participou do disco do Movimento Reggae Mineiro, um marco para a cidade. Com o boom das redes sociais, decidiu publicar alguns de seus vídeos interpretando a obra de Marley. 

“Logo os algoritmos me recomendaram perfis de músicos jamaicanos e eu já sabia quem eles eram, por ver nos encartes dos vinis. Comecei a adicioná-los e eles viram minhas interpretações. Muitos gostaram e compartilharam. Por volta de dois, três anos depois, o Aston Barrett Jr. (filho do baixista do Bob Marley e atual líder da banda The Wailers) me fez um convite para gravarmos algumas músicas juntos.”

Além de suas versões, também compartilhava em suas redes imagens e vídeos raros de Bob Marley, não catalogados na coleção do músico. “Ia atrás do VHS e gravava, depois, com a internet, segui fazendo isso. Com as redes, comecei a publicar, para disseminar ainda mais a obra dele. Faço por amor mesmo. A família Marley pega algumas dessas edições que faço e coloca na página dele”, comenta. 

Destes contatos, firmou parcerias que cruzam o Atlântico. Recentemente, visitou a Jamaica e trabalhou com diversos artistas do país, incluindo integrantes da The Wailers. Percebeu muita humildade nos “anciões” – como se referiu a eles durante a entrevista. “Eles têm muito uma posição de ‘One love’, como o Marley pregava mesmo. Um só povo.” Rafael Cardoso pretende lançar ainda em 2025 um EP produzido por Barrett Jr..

Reggae em Juiz de Fora

A cena juiz-forana de reggae tem como principal marco a década de 1990. Diversos artistas tiveram suas vidas impactadas pela obra de Bob Marley. “Lembro que um pessoal fazia excursão para ver shows de reggae, lá no Rio de Janeiro”, conta Rafael. Este cenário de ter que sair da cidade para acompanhar as principais bandas do gênero começou a mudar com o produtor artístico Rodrigo Noronha. Ele foi um dos idealizadores do Movimento Reggae Mineiro (que lançou disco com apoio da Lei Murilo Mendes, em 2005), além de ter produzido por anos, às quintas-feiras, shows de reggae no Cultural Bar. 

Rafael afirma que a banda juiz-forana Rama Ruana, que também fará apresentação nesta sexta, foi muito importante para popularizar o gênero na cidade. “Com as casas enchendo, os produtores de eventos viram que aqui existia um público. Várias bandas famosas no cenário internacional e nacional vieram tocar aqui.” A própria The Wailers esteve em Juiz de Fora no segundo semestre do ano passado.

‘Um homem que pregou a paz nasceu logo quando a Guerra acabou’

“Um homem que pregou a paz nasceu logo quando a Guerra acabou.” A frase ao lado foi dita por Rafael, durante a entrevista. Em certo sentido, ela sintetiza a vida de Robert Nesta Marley, que nasceu em Nine Mile (Jamaica), no ano de 1945, simbólico por marcar o fim da Segunda Guerra Mundial. Filho de uma mulher afro-jamaicana e um homem branco descendente de ingleses, Marley se mudou ainda criança, aos 12, para o bairro de Trenchtown, na capital Kingston, após dois anos do falecimento de seu pai. O bairro, conhecido pelo forte cenário cultural, influenciou o jovem Robert, que desde cedo se interessava por música. 

Junto de Peter Tosh e Bunny Wailer, forma a banda The Wailers, que fica nacionalmente conhecida com a canção “Simmer down”, em 1964.  Entre 1966 e 1968, a vida de Bob Marley tem uma série de reviravoltas: ele se muda para os EUA, se aproxima do movimento rastafári e a The Wailers ganha projeção para além da Jamaica, principalmente em países como Reino Unido e os próprios Estados Unidos. É também neste período que ele se casa com Rita Anderson. 

Após a saída de Peter e Bunny, o nome da banda é alterado para Bob Marley & The Wailers, marcando, assim, o início de sua carreira solo. É nesta fase que grandes canções surgem, como: “No woman no cry”, “War” e “I shot the sheriff”. Em 1976, lança o álbum “Rastaman vibration”. No mesmo ano, o cantor iria se apresentar no “Smile Jamaica”, show gratuito que buscava atenuar a tensão política vivida na Jamaica entre os dois principais partidos políticos. Poucos dias antes, Bob Marley sobrevive a uma tentativa de assassinato. Mesmo após levar um tiro na cabeça, o cantor mantém seu compromisso e realiza seu show. 

Após o incidente, Marley decide por se exilar da Jamaica, passando a residir em Londres. Esta fase de sua vida é marcada pelos álbuns: Exodus (1977), “Kaya” (1978), “Survival” (1979) e “Uprising” (1980), e aproximação com o movimento pan-africanista. Ele ainda retornaria a Jamaica algumas vezes antes que um tipo de câncer, descoberto após uma fratura no pé jogando futebol, o levasse ao óbito. Devido à sua crença, o cantor optou por recusar o tratamento proposto. 

 Em 21 de setembro de 1980, Bob Marley desmaiou enquanto corria, no Central Park, em Nova York, nos Estados Unidos, e descobriu que o câncer já tinha atingido os pulmões, fígado e cérebro. Dois dias depois, ele fez seu último show em Pittsburgh, no estado da Pensilvânia.

Por cerca de oito meses, o cantor foi acompanhado por um médico naturalista na Alemanha. Em maio de 1981, Bob Marley resolveu voltar em definitivo para a Jamaica. Passou mal durante a viagem e teve que ser internado em Miami, nos Estados Unidos, mas não resistiu.

O corpo do cantor foi levado para a sua terra natal, onde teve um funeral com música, oração e discursos em sua homenagem. Mais de seis mil pessoas estiveram presentes em seu funeral, no dia 21 de maio de 1981.

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*Estagiário sob supervisão da editora Cecília Itaborahy

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