‘A sustentabilidade está no DNA das indústrias do setor florestal’

Por muito tempo, as indústrias do setor florestal foram vistas como prejudiciais ao meio ambiente. Tanto que a legislação brasileira chegou a enquadrá-las na mesma categoria de postos de combustíveis e indústrias notoriamente poluentes. Nada mais equivocado, na avaliação da executiva Mariana Lisbôa, diretora global de Relações Corporativas da Suzano S/A e presidente da Associação Baiana das Empresas de Base Florestal (Abaf).“Durante muito tempo, víamos aquela mensagem na assinatura dos e-mails: ‘Não imprima, respeite o meio ambiente’. E, na verdade, ao conhecer o setor florestal, descobrimos que é exatamente o contrário. Quanto mais papel você imprimirir, mais sustentável estará sendo”, afirma ela, nesta entrevista exclusiva ao A TARDE. Segundo Mariana, os produtos derivados do eucalipto desempenham um papel significativo na mitigação dos efeitos da crise climática. Saiba como na entrevista a seguir. Em uma entrevista recente, a senhora afirmou que sempre busca mostrar, especialmente para as pessoas leigas, o legado que o setor de base florestal deixa para a sociedade. Que legado é esse?O setor florestal durante muito tempo sofreu por conta de uma série de mitos. Que o eucalipto seca o solo, que não é um setor sustentável. Durante muito tempo, a gente via uma mensagem na assinatura dos e-mails: ‘Não imprima, respeite o meio ambiente’. E, na verdade, a gente descobre, ao conhecer o setor florestal, que é exatamente o contrário. Quanto mais papel você imprimir e produzir, mais sustentável estará sendo. Tanto do ponto de vista ambiental, quanto do ponto de vista social. Eu costumo dizer que nada é mais potente do que a nossa própria atividade. Mais do que qualquer projeto social que a gente possa vir a fomentar. Quando a gente pensa na instalação, por exemplo, de uma empresa como a Suzano em um município, seja ele qual for do Brasil, vê a revolução ambiental e social que a nossa atividade causa, não só no município, mas nos municípios do entorno, no próprio estado e para o Brasil de forma geral. Indo diretamente para a sua pergunta, são diversos os fatores muito positivos deixados pelo setor e pela instalação da indústria de papel e celulose nos estados. A gente pode citar inúmeros motivos para o eucalipto ser uma matéria-prima renovável, com capacidade de produzir uma série de substitutos aos produtos de origem fóssil e, com isso, contribuir de forma significativa para a mitigação dos efeitos da crise climática. Além da capacidade do setor de produzir essa matéria-prima renovável. E aí não é retórica a gente dizer que de fato a sustentabilidade está no nosso DNA, porque está efetivamente. Independente da vontade do setor, ele é naturalmente sustentável porque a matéria-prima é de base renovável. Existe uma contribuição direta na capacidade de produção de substitutos do plástico e de outros de origem fóssil. Na captura de carbono, o setor florestal, no ano de 2020, capturam da atmosfera mais de 40 bilhões de toneladas de gases de efeito estufa. É uma contribuição significativa para a mitigação da crise climática. E tem a geração de emprego. Aqui na Bahia, por exemplo, nos últimos anos, o setor gerou mais de 200 mil empregos. A redução do uso da água na nossa atividade. Além de cada vez mais o setor florestal utilizar menos água na sua produção, ainda devolve para o meio ambiente uma água de melhor qualidade do que aquela que foi utilizada. Recuperação de áreas degradadas. É muito importante que se diga que o setor florestal não planta, não desmata. Durante muito tempo se achou que o papel era produto de desmatamento, quando, na verdade, é o oposto. Nós, não raramente, compramos áreas degradadas e recuperamos as áreas de preservação, de reserva legal, para plantar só naquelas áreas anteriormente degradadas e atropeladas. São diversos os benefícios do ponto de vista ambiental e social deixados diariamente pelo setor florestal.A Bahia está entre os quatro estados que lideram a produção de florestas no Brasil, junto com Minas Gerais, São Paulo e Mato Grosso do Sul. Qual é a importância do setor florestal para a economia baiana atualmente?O setor florestal para a economia baiana é, sem dúvida alguma, uma potência. Como disse, ele é responsável por quase 250 mil empregos diretos e indiretos gerados no Estado e corresponde a 5% do PIB estadual. Quase 4%, se não me engano, do total de impostos arrecadados pelo Estado baiano. É um setor que tem uma relevância enorme para o Estado da Bahia.  Além disso, tem uma grande preocupação com a questão ambiental. A Bahia também tem um papel na mitigação da crise climática global a partir do plantio de árvores capazes de sequestrar gases de efeito estufa da atmosfera.  Ou seja, além de contribuir para a economia estadual, o setor florestal baiano tem uma contribuição importante, inclusive, para a mitigação da crise climática global. É um setor também muito potente  no nosso estado. As maiores empresas de celulose do país estão sediadas aqui na Bahia. Além da Suzano, temos Bracell e a Veracel Celulose, que é uma parte da Suzano também.  A gente tem aqui mais de 700 mil hectares de área plantada, sendo a metade de áreas destinadas à conservação.Em 2024, a Associação Baiana das Empresas de Base Florestal (Abaf) completou 20 anos de existência. De que forma a entidade contribuiu, ao longo dessas duas décadas, para o desenvolvimento do setor?A Abaf congrega, entre os seus associados, as maiores empresas florestais do nosso estado. Ela tem um papel de liderança na construção da agenda dessas empresas e na interlocução das empresas com o Estado. Há um bom tempo se compreendeu que a responsabilidade das empresas do setor florestal não se restringe às suas próprias operações. Existe uma preocupação grande ambiental, existe uma preocupação social e a gente atua em parceria muitas vezes com o poder público. A Abaf é responsável por essa interlocução entre as empresas e o setor público e busca parcerias que possam potencializar cada vez mais a nossa atuação. Ano passado a gente completou 20 anos, como você mencionou, e fizemos um evento que foi super prestigiado, inclusive com a presença do presidente da Câmara dos Deputados, deputado Arthur Lira, o que denota a importância do setor florestal não só para a Bahia, mas para o Brasil como um todo. Mostra também a importância do setor florestal globalmente. Foi muito relevante para a Abaf, e significativo, receber o presidente da Câmara dos Deputados. A gente sabe o quão atribulada foi a agenda da Câmara, especialmente no último ano, e ele buscar um espaço para nos prestigiar mostra a relevância do setor. A gente pretende, a partir da Abaf, estreitar cada vez mais a nossa relação com o governo da Bahia e, paralelamente, conseguir potencializar o setor no nosso Estado com a ampliação, inclusive, da nossa base florestal.Falando em parceria, o Estado  junto com a Abaf estão desenvolvendo o Plano Bahia Florestal 2033. Quais são as diretrizes principais desse plano e como ele contribuirá para a sustentabilidade ambiental da atividade?O que a gente pretende com o Plano Bahia Florestal é, até 2033, duplicar a área plantada florestal no nosso Estado a partir de um diagnóstico e da preparação de municípios para receber as indústrias do setor. Para isso, a gente precisa, obviamente, de uma parceria muito forte com o governo do Estado. A gente vem conversando sobre esse plano, que não está implementado ainda. Ele está pronto, mas a gente aguarda ainda uma sinalização positiva do governo. O objetivo dele é duplicar a área plantada e atrair novos investimentos. A gente sabe, por exemplo, que no sudoeste baiano, no Planalto de Conquista, há uma área enorme já pronta para receber uma nova indústria do setor. Existe uma questão hídrica relevante que precisa ser equalizada e, para isso, a gente conta com a parceria do governo. O objetivo do plano é potencializar a presença do setor florestal no nosso Estado a partir da ampliação das áreas plantadas e da captação de novos investimentos para o estado baiano. Como costuma acontecer, o que a gente pretende é mostrar o que a gente pode tirar de positivo para a economia do Estado, para os cofres públicos, em arrecadação de impostos, em geração de emprego e em benefícios ambientais. E, a partir daí, a gente quer também que o Estado seja um facilitador para a instalação das novas indústrias. De que forma o Estado pode fazer isso? A partir de benefícios fiscais, da construção de parcerias para a ampliação da base florestal. Há uma série de modalidades de parceria que podem ser estabelecidas entre o setor privado e o poder público no sentido de potencializar a presença do setor florestal no Estado.A Suzano iniciou no Mato Grosso do Sul as operações do Projeto Cerrado, com uma fábrica que é considerada a maior do mundo. O que a gente pode aprender com o Mato Grosso do Sul?Mato Grosso do Sul é sensacional do ponto de vista de ambiente e de negócios. É um estado cujas relações com o poder público, e aí eu faço um paralelo com a Bahia, que também tem sido parceiro muito importante, relevante e republicano para a Suzano. Mas foi um estado que a gente encontrou lá, além de um ambiente de negócios favorável do ponto de vista de segurança pública, parceria com o poder público e do ponto de vista climático, é um Estado que estava pronto para receber um investimento dessa magnitude, como é a instalação do projeto Cerrado. Essa fábrica da Suzano é a maior fábrica de celulose do mundo e foi instalada em um município muito pequeno, chamado Ribas do Rio Pardo. É impressionante ver a revolução causada por uma empresa como Suzano no sentido positivo. Ribas do Rio Pardo era um município muito pequeno, sem expressão no PIB do estado. Mas, a partir da implementação da Suzano, o crescimento foi imediato, do ponto de vista imobiliário, social e ambiental. O que eu posso dizer que a gente aprendeu com o estado do Mato Grosso do Sul, é exatamente isso. Como ter um ambiente de negócios favorável para a instalação de uma fábrica dessa magnitude. Ainda há desafios importantes aqui na Bahia, como a segurança pública. A gente pensa: o que a segurança pública tem a ver com a instalação de um novo projeto?  Tem tudo a ver. A gente tem uma questão fundiária importante no Brasil, especialmente no setor florestal. Se você imaginar que a Suzano tem mais de dois milhões de hectares de área no Brasil, a questão da relação com os movimentos sociais é muito sensível para uma empresa como a Suzano. E encontrar um ambiente de negócios saudável e tranquilo é muito importante no momento da tomada de decisão. No Mato Grosso do Sul, a gente encontrou isso. A gente encontrou uma sociedade muito aberta ao negócio e um governo também muito pró-negócio, muito parceiro do setor privado. Isso nos deu tranquilidade para que a gente pudesse tomar a decisão de fazer esse investimento grandioso de R$ 20 bilhões no estado. A gente também está aqui na Bahia desde 1994. Foi o primeiro estado do Nordeste que a Suzano investiu. E de lá até aqui, a gente também teve uma relação muito positiva com os diversos governos pelos quais a gente passou. A gente espera que a gente possa, cada vez mais, encontrar aqui também um ambiente de negócios favorável para que a gente possa pensar em novos investimentos também no Estado. Eu, como baiana, sou suspeita. Adoraria ver um projeto cerrado instalado aqui na Bahia.A senhora diria então que a Suzano enxerga potencial para ampliar a sua presença aqui no Estado?Não tenho dúvida. O estado da Bahia é muito relevante para Suzano. E, sim, a gente enxerga potencial para ampliação. Como eu disse, a gente precisa avaliar esse ambiente de negócios. A gente precisa entender se, de fato, o estado está pronto. E, se não estiver, a gente pode pensar de que forma a gente pode contribuir para que ele se adeque às condições necessárias para receber um projeto como o Projeto Cerrado. A Abaf tem um papel importante nisso e o Plano Bahia Forestal 2033 também.Em junho do ano passado, uma lei do governo federal retirou a silvicultura do rol de atividades potencialmente poluidoras e utilizadoras de recursos ambientais. Qual é a importância dessa medida para o setor florestal no Brasil?Foi de uma importância histórica para o setor. Era uma injustiça imensa a silvicultura estar qualificada como uma atividade potencialmente poluidora da mesma forma que postos de gasolina e indústrias. Outras atividades agropecuárias já tinham sido retiradas do rol de atividades potencialmente poluidoras e inexplicavelmente a silvicultura não. Com a decisão, foi corrigida uma injustiça histórica e isso teve uma importância muito relevante para o setor do ponto de vista de reputação e do ponto de vista prático também no que toca ao licenciamento ambiental. É importante que se diga que a retirada da silvicultura do rol de atividades potencialmente poluidoras não cria uma inexigibilidade de licenciamento ambiental. Ele continua sendo exigível, mas dentro de parâmetros justos e adequados. Sem exigências que não faziam sentido para a atividade que, como disse desde o início, é absolutamente sustentável e traz benefícios ambientais e sociais para o Brasil e para o mundo. Foi corrigida essa injustiça histórica e hoje o licenciamento ambiental segue regras adequadas para o setor florestal. A silvicultura continua sendo uma atividade para a qual é exigido o licenciamento ambiental, mas dentro de normas que de fato sejam justas com a nossa atividade e que não sejam equiparadas a outras como postos de gasolina, por exemplo. Obviamente havia uma injustiça que precisou ser corrigida e foi. Foi aprovada na Câmara Federal e depois imediatamente sancionada sem ressalvas pelo presidente da República.Uma das bandeiras que a senhora defende com muito empenho  é a diversidade e o combate à desigualdade de gênero. O que as empresas do setor têm feito nesse sentido?Em primeiro lugar, é importante que se diga que o setor florestal ainda é eminentemente masculino. Quando a gente vai olhar, uma pequena parte de posições de liderança é formada por mulheres. É um setor em que predomina ainda a presença masculina. Quando entrei no setor, isso me chamou a atenção e, durante muito tempo, foi algo que me encolheu. Me senti incomodada com isso. Eu participava de reuniões em que a maioria das pessoas ali eram homens e não nordestinos. Eu digo que é um setor ‘heteropaulistano’. Além de ser dominado por homens, as posições de liderança são dominadas por homens que estão ali em São Paulo, na Faria Lima. Durante muito tempo isso me causou um desconforto. Foi quando eu entendi a importância da diversidade nas organizações. Por que se luta tanto por uma bandeira? Apenas para que se tenham mulheres no mesmo número? Não, pelo contrário. É para que se tenha diversidade não só de gênero, mas a diversidade de ideias. Já se chegou à conclusão, a partir de pesquisas muito bem fundamentadas com dados e fatos, que empresas que têm nos seus quadros mulheres, pessoas dos grupos LGBTQIA+, pessoas portadoras de deficiências, elas têm também um mix de ideias muito mais interessante, muito mais relevante e que geram resultados. Que geram ideias muito mais criativas e, com isso, resultados também muito importantes e tem seu lucro aumentado. Portanto, já se concluiu que a diversidade, de fato, além de ser uma questão social, é também uma questão econômica. A diversidade é capaz de potencializar o lucro das organizações. As empresas do setor florestal já entenderam isso. A grande maioria delas tem metas diretamente ligadas à diversidade. A Suzano, por exemplo, estabeleceu, no ano de 2019, o que a gente chama de Compromissos para Renovar a Vida. São metas de longo prazo. São compromissos públicos assumidos pela companhia. Todos eles ligados aos pilares ESG e alguns deles diretamente ligados à questão da diversidade. A Suzano, por exemplo, assumiu metas públicas no sentido de até 2025 ou 2030, porque algumas são 2025 e outras 2030, além de aumentar o número de mulheres em posições de liderança. De ter um ambiente totalmente inclusivo para pessoas dos grupos LGBTQIA+. E ser acessível para os portadores de deficiência. São metas públicas assumidas pela Suzano e que têm uma conexão direta com a remuneração variável dos seus executivos. Eu, por exemplo. Se no prazo determinado a gente não alcançar a meta que a gente se propôs, há um impacto direto na remuneração variável dos executivos da companhia. Além disso, a dívida da Suzano está diretamente atrelada a questões ligadas à diversidade. Nós conseguimos obter empréstimos do mercado financeiro a juros menores com o compromisso de aumentar o número de mulheres, por exemplo, em posições de liderança. Se isso não for alcançado, a gente tem de pagar um prêmio maior e com isso há também um impacto financeiro direto no caixa da empresa. E essa não é uma característica só da Suzano. As empresas do setor florestal, e aí cito as empresas ligadas à Abaf. A grande maioria delas hoje tem metas parecidas ligadas às questões de diversidade e inclusão. Mais do que uma bandeira ideológica, já se chegou à conclusão que a diversidade tem um impacto financeiro positivo sobre as organizações. E não há mais nenhum sentido para que não haja, de fato, uma equidade dentro das grandes companhias. Claro, das grandes e das pequenas, cada um dentro das suas possibilidades e no seu tempo também. Não é exigível, por exemplo, de uma pequena empresa, a mesma rapidez que se pode exigir de uma multinacional como a Suzano. Mas, é muito importante que a Suzano seja uma referência para que pequenas empresas também possam implementar agendas ligadas à diversidade e inclusão nos seus quadros.A senhora defende que as empresas do setor implementem agendas ESG estruturadas e mensuráveis. Como é possível avaliar, na prática, os impactos dessas agendas?Quando a gente fala em ESG – ambiental, social e governança – muito se intui do que é ambiental, muito se intui do que é social, mas quando se fala em governança, todo mundo fica meio em dúvida o que é essa tal governança que está na agenda ESG. E a governança é exatamente isso. É a capacidade de se mensurar, com dados e fatos, tudo aquilo que é feito do ponto de vista ambiental e social. É possível a criação dentro das organizações de indicadores. É possível e necessário que se criem indicadores capazes, e aí vem o que você falou, de mensurar tudo aquilo que se diz, que se faz na área ambiental e na área social, por exemplo. A Suzano tem indicadores objetivos, que são públicos. Eles estão publicados no nosso relatório de sustentabilidade divulgado para os nossos clientes e colaboradores. Eles também querem saber como é que a gente está no avanço dessas metas, esses compromissos de longo prazo que eu mencionei para você que a gente estabeleceu em 2019. Existem indicadores objetivos e eles devem existir porque isso é transparência e é essencial que isso exista. Porque a gente precisa de fato saber na prática o que vem sendo efetivamente feito e de que forma a gente está evoluindo. Existem indicadores criados que podem ser públicos, que devem ser acompanhados para saber de que forma a empresa vem evoluindo na sua agenda social, na sua agenda ambiental, em temas ligados à diversidade e inclusão e todos os outros a esses compromissos de captura de carbono da melhor utilização da água. Então, existem indicadores muito claros e transparentes que nos permitem fazer isso e que permitem também que o nosso cliente nos avalie, que os nossos acionistas nos avaliem, especialmente a Suzano, que é uma empresa de capital aberto. A gente precisa ter isso muito claro e muito óbvio e transparente para o mercado.A senhora tem sido uma presença constante nas Conferências do Clima da ONU. Em novembro deste ano, o Brasil sediará a COP 30, onde serão discutidos temas como transição energética e financiamento climático. Qual é a importância desses eventos e qual é a expectativa para a COP 30 no Pará?Não tenho dúvida de que as COPs são extremamente relevantes no sentido de manter essa discussão acesa para que a gente possa acompanhar a evolução das agendas globais no sentido de mitigação dos efeitos da crise climática. A COP tem esse grande papel de estabelecer metas para que todos os países possam se comprometer e acompanhar se o comprometimento desses países vem se dando de forma adequada. A gente está mais próximo de 2050. Já se fala muito que 2050 é agora e de fato é. E se a gente não estiver cumprindo aquilo que se comprometeu, há um grande risco de chegar em 2050 tendo ultrapassado aquele um grau e meio de aumento da temperatura global que tanto se fala. No caso da COP 30, há uma expectativa muito grande, primeiro, do ponto de vista prático, no que toca à infraestrutura de Belém. Será que Belém estará preparada para receber uma COP? Existe essa dúvida realmente que vem sendo cada vez mais suscitada pelos países e pelo próprio Estado brasileiro. A gente vê as empresas muito preocupadas, outros governos preocupados também com a questão da infraestrutura de Belém. Mas, se por um lado existe uma preocupação muito grande, por outro é uma oportunidade grandiosa para o Brasil ser protagonista na questão da agenda climática. De ter a oportunidade de mostrar para o mundo, na prática, o que é a floresta amazônica. A COP vai acontecer dentro da floresta amazônica, então é uma oportunidade sensacional para que se veja o que é de fato o Brasil na prática. Então, há uma expectativa da nossa parte, da parte da Suzano, muito positiva.O setor florestal pretende continuar participando dessas discussões de forma ativa?O setor florestal tem um papel muito importante  na discussão da crise climática porque tem uma capacidade de contribuição para a mitigação muito forte. Não só pela sua capacidade de produzir esses produtos que venham substituir o plástico e produtos de origem fóssil, mas também por sua capacidade natural de  captura de carbono. Não tem como o setor florestal não participar de forma muito ativa dessas discussões ligadas à questão climática global.Para concluir, vimos recentemente a posse do presidente Donald Trump, uma das primeiras medidas dele foi a retirada dos Estados Unidos do Acordo de Paris. Dada a situação atual do combate ao aquecimento global, essa decisão pode representar um retrocesso ainda maior?Obviamente que isso já era algo esperado. Não foi uma surpresa para ninguém o que aconteceu, mas obviamente isso nos gera um desconforto e uma preocupação, já que os Estados Unidos têm um papel muito relevante na economia global. Há uma preocupação em relação haver algum tipo de retrocesso no que toca à agenda climática. Por outro lado, não há como não haver avanços ou o mundo se tornar inabitável. Vamos acompanhar de que forma o governo americano vai se portar, independente de participar ou não do acordo de Paris no que toca à questão climática e entender de que forma o mundo também se posicionará diante disso. O importante é que já há uma compreensão global da importância de se trabalhar para mitigação da questão climática. O negacionismo climático não tem mais espaço no mundo. Talvez seja o momento também de corrigir determinadas distorções e exageros. Em algum momento essa agenda ESG foi também para um extremo. Esses extremos muitas vezes são importantes quando se tem um déficit muito grande para se encontrar um equilíbrio. Pode ser que esse seja um momento não de retrocesso, mas de se encontrar um equilíbrio na agenda ESG. Acho que 2025 será o ano de se encontrar um espaço entre esses extremos. Entre aquele que não fazia nada e aquele que acreditava que devia se fazer tudo. A gente está no momento de encontrar o equilíbrio ideal na agenda climática global.Raio-XMariana Lisbôa é advogada, diretora global de Relações Corporativas da Suzano S/A, presidente da Associação Baiana das Empresas de Base Florestal (Abaf) e diretora do Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Formada em Direito pela Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc) e com MBA em Business pela HSM University, possui ampla experiência na área ambiental e mais de 20 anos de atuação profissional, dos quais mais da metade foram dedicados ao setor florestal.  
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