Festas e “banho de lua” nas piscinas naturais ameaçam biodiversidade marinha, alerta professor da Ufal

Festas noturnas, iluminação intensa, música alta e com direito a bares flutuantes. Esse é o passeio noturno conhecido como “Banho de Lua”, nas piscinas naturais da praia de Ponta Verde, que se tornou tradicional neste verão em Maceió. Apesar da beleza do passeio noturno, que é comercializado por jangadeiros e agentes de turismo, as festas realizadas nos recifes de corais vêm chamando a atenção de pesquisadores e biólogos, que avaliam o impacto da prática na biodiversidade marinha.

Para o professor Robson Guimarães dos Santos, que é doutor em biologia animal e pesquisador do Laboratório de Ecologia e Conservação no Antropoceno da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), as atividades nos ambientes recifais estão colocando em risco não apenas a biodiversidade marinha, mas também o próprio futuro do turismo em todo o estado de Alagoas.

Segundo o pesquisador, os recentes eventos noturnos produzidos no local, que são feitos com iluminação intensa e som alto, provocam desorientação nos organismos marinhos e afetam a reprodução dos corais, o que pode causar desequilíbrios irreversíveis no ecossistema marinho.

“As atividades de turismo, se não reguladas, geram impactos diretos aos recifes, como o pisoteio e quebra de corais, poluição das águas por resíduos de combustível das embarcações, plástico, dentre outras. As festas noturnas promovidas nos recifes adicionam outros impactos, como a poluição luminosa e sonora. A iluminação artificial intensa pode desorientar organismos marinhos, afetar o comportamento e reprodução de corais. Ela também pode atrair predadores para áreas onde normalmente não estariam. Música alta pode afetar a comunicação e comportamento de peixes e invertebrados, além de estressar organismos sensíveis, como algumas espécies de peixes e tartarugas marinhas que utilizam os recifes como local de descanso. Já temos estudos mostrando que a luz da lua tem um papel importante na desova dos corais, e a introdução de luz artificial em algumas circunstâncias podem inclusive fazer com que os corais não desovem. Além disso, uma exploração de turismo durante dia e noite promove um impacto crônico contínuo aos ambientes recifais”, explicou.

Outro alerta feito pelo pesquisador chama atenção para a degradação dos recifes de corais. De acordo com o biólogo, Alagoas registrou uma mortalidade entre 80 e 90% dos corais em grande parte dos recifes rasos monitorados pelos cientistas em 2024. As mortes teriam sido causadas pelo aquecimento das temperaturas no oceano.

“Um turismo desordenado e que não respeita as capacidades de suporte dos recifes compromete o seu próprio futuro. Estamos passando por uma crise global dos recifes de coral, devido à degradação costeira e aos eventos de aumento da temperatura das águas ligados às mudanças climáticas. Em Alagoas, por exemplo, devido ao evento de elevação da temperatura, no ano passado nós tivemos mortalidade de 80-90% dos corais em grande parte dos recifes rasos monitorados pelos cientistas. Essas atividades desordenadas associadas a atual crise climática, cria um ambiente completamente desfavorável à manutenção da saúde dos recifes de corais nos próximos anos”, finalizou.

Embarcação clandestina naufraga durante passeio

  • No último dia 26 de dezembro, uma embarcação naufragou durante o passeio “banho de lua” no mar de Ponta Verde, em Maceió;
  • Ao todo, foram resgatadas 12 pessoas. Elas foram levadas com vida para a faixa de areia da praia. Onze não precisaram de encaminhamento a uma unidade de saúde. No entanto, uma mulher, de 25 anos, teve afogamento de grau 3 e precisou ser encaminhada ao hospital. A vítima também teve afundamento de crânio;
  • O condutor da jangada, que não possuia habilitação, fugiu do local logo após o acidente. 
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