Bordado do Seridó enfrenta desafios para sobreviver e atrair jovens em meio à modernidade

Com 65 anos de dedicação ao bordado, Iracema Nogueira, professora, pesquisadora e artesã de Caicó, luta para manter viva a tradição que já foi símbolo de geração de renda e identidade cultural no Seridó. O bordado, reconhecido recentemente como Patrimônio Imaterial do Rio Grande do Norte, enfrenta o desafio de atrair jovens enquanto se adapta às demandas da modernidade.

“Hoje, as pessoas querem internet, celular. É muito difícil encontrar jovens interessados em aprender a bordar, principalmente na máquina pedalada. A maioria dos bordados ainda é feita por pessoas da minha idade”, destaca Iracema. Para ela, o bordado artesanal corre o risco de desaparecer: “Acredito que, futuramente, o bordado artesanal vai se extinguir”.

O bordado do Seridó, que chegou ao Brasil com os colonizadores portugueses, é hoje uma das principais expressões culturais da região, com epicentro em cidades como Caicó e Timbaúba dos Batistas. Segundo Iracema, há cerca de 1.000 bordadeiras em Caicó e um número expressivo em Timbaúba, embora muitas estejam migrando para outras atividades. “Estimamos 800 bordadeiras em Timbaúba, mas muitas já se aposentaram ou mudaram de profissão. Precisamos urgentemente de um censo para atualizar esses números”, afirma.

Apesar do reconhecimento oficial e do selo de qualidade conquistado em 2021, os desafios permanecem. A falta de incentivos e de um mercado fixo são barreiras para o fortalecimento da prática. “As bordadeiras precisam de um espaço exclusivo para o bordado com selo. Muitos turistas vêm procurando, mas não encontram. Não temos um mercado como o de Fortaleza”, lamenta.

A parceria com a Riachuelo trouxe uma nova perspectiva para as bordadeiras de Timbaúba dos Batistas, que agora produzem em galpões. Contudo, o modelo de produção em escala industrial é um choque para quem sempre trabalhou com peças únicas. “Estamos acostumadas a bordar por peça, com muito cuidado e amor. Produção em massa é algo novo”.

A modernização também traz dilemas. Máquinas computadorizadas facilitam o trabalho, mas são caras e não substituem a habilidade de uma bordadeira experiente. “Quem não sabe bordar bem na máquina pedalada não consegue fazer um bom trabalho na computadorizada. Ainda há resistência entre as bordadeiras, mas o bordado está se expandindo”, explica.

Uma das principais preocupações é a falta de interesse das novas gerações. Apesar de iniciativas como cursos de iniciação, o engajamento dos jovens ainda é baixo. “Proporcionamos um curso com 20 vagas e até tivemos fila de espera, mas isso não é suficiente para manter a tradição viva. Precisamos de mais incentivo”.

Além disso, a valorização financeira do trabalho é outro entrave. Muitas bordadeiras vendem peças sem calcular o valor real. “Elas vendem pela necessidade de pagar água ou sustentar a família. Não é ideal”.
Ainda assim, há esperança. A iniciativa de criar uma nova coleção com o bordado colorido, original da região, é vista como uma oportunidade de resgate e valorização.

“Estamos planejando lançar uma coleção de cama, mesa, banho e roupas para recém-nascidos com o matiz colorido. Com o título de Patrimônio Imaterial do RN, o bordado do Seridó ganha visibilidade, mas precisa de ações concretas para se manter.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.