O ex-superintendente da Polícia Rodoviária Federal (PRF) no Rio Grande do Norte, Djairlon Henrique Moura, que à época das eleições atuava como diretor de Operações da PRF nacional, de uma ordem para que a inteligência do órgão direcionasse as abordagens de ônibus e vans durante o pleito e afirmou que era preciso “tomar um lado”. A afirmação é do servidor Adiel Pereira Alcântara, ex-coordenador de inteligência da PRF, que falou ao Supremo Tribunal Federal (STF) nesta segunda (19) como testemunha na ação penal sobre a trama golpista.
“Entre as pautas que foram discutidas na reunião, o inspetor de Djairlon, que era o diretor de operações, ele pediu um apoio ao diretor de inteligência, inspetor Reischak, para que a inteligência apoiasse a área de operações no indicativo de abordagens de ônibus e vans que tinham como origem os estados de Goiás, São Paulo, Minas e Rio de Janeiro e destino no Nordeste”, afirmou Alcântara.
Adiel disse que questionou Djairlon Henrique Moura sobre o porquê das abordagens focaram em veículos desses estados e com destino ao Nordeste.
“Eu não me convenci, e transpareci que eu achei estranho aquela ordem. E aí ele falou, não sei qual foi contexto que ele falou, mas ele falou mais ou menos o seguinte: ‘Tem coisas que são e tem coisas que parecem ser. Está na hora da PRF tomar lado. A gente tem que fazer jus das funções de direção e aquilo era uma determinação do diretor-geral”’, teria dito Djairlon, que por sua vez estava subordinado ao diretor-geral da PRF, Silvinei Vasques.
De acordo com a testemunha, a ordem foi retirada no dia seguinte pelo então diretor de inteligência Reischak, em um encontro com diretores de inteligência dos estados.
“Nessa reunião, o inspetor Reischek pegou esse pedido de apoio da diretoria de inteligência e repassou para as unidades regionais de inteligência. Ele repassou essa determinação do inspetor Djairlon, diretor de operações, para os Ceints (chefes de serviços de inteligência dos estados)”, afirmou.
Adiel ainda afirmou que Silvinei Vasques “estava criando uma polícia de governo e não de estado”.
“Isso era muito ruim para a imagem da PRF. Grande parte do efetivo não via isso com bons olhos”, complementou ele.
Testemunhas
O depoimento de Adiel faz parte do primeiro grupo de testemunhas indicadas na ação penal que investiga a tentativa de golpe de Estado para impedir o regular funcionamento dos Poderes da República e depor o governo legitimamente eleito. A audiência foi dirigida pelo relator do caso, ministro Alexandre de Moraes, com a participação da ministra Cármen Lúcia e dos ministros Luiz Fux e Cristiano Zanin.
Prestaram depoimento as seguintes testemunhas: Éder Lindsay Magalhães Balbino, Clebson Ferreira de Paula Vieira, Adiel Pereira Alcântara e Marco Antônio Freire Gomes. Elas foram interrogadas tanto pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet, que atua como acusador, quanto pelos advogados de defesa dos réus do chamado Núcleo 1, que tiveram a oportunidade de esclarecer dúvidas.
Indiciado pela PF
Neste ano, o ex-diretor de Operações da Polícia Rodoviária Federal (PRF) no Rio Grande do Norte, Djairlon Henrique Moura, foi uma das quatro pessoas indiciadas pela Polícia Federal (PF) pela tentativa de impedir o deslocamento de eleitores do Nordeste no segundo turno das eleições de 2022. Moura atualmente está lotado em Natal, tendo sido superintendente regional do órgão no RN entre 2019 e 2021.
Em agosto de 2023, Djairlon já havia sido alvo de um mandado de busca e apreensão. Ele era considerado braço direito de Silvinei Vasques, ex-diretor-geral da PRF preso naquele ano, chegando a fazer parte da equipe que atuou na organização do efetivo da PRF para a posse do presidente Lula. Marques foi solto em agosto de 2024 obedecendo a restrições impostas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e atualmente é secretário de Desenvolvimento Econômico e Inovação do município de São José, em Santa Catarina.
Eles vão responder por acusação dos crimes de desobediência, prevaricação, restrição ao exercício do direito de voto e participação por omissão no crime de tentativa de abolição do Estado democrático de Direito por meio da restrição do exercício dos poderes constitucionais. Silvinei Vasques teria sido o autor intelectual dos atos praticados por seus subordinados.
Quem é Djairlon Henrique Moura
Segundo o Currículo Lattes de Djairlon Moura, atualizado pela última vez em 29 de outubro de 2024, ele possui graduação em Engenharia Civil pela UFRN, sendo mestre em Alta Direção e Segurança Internacional pela Universidade Carlos III de Madrid e doutorando em União Européia pela Universidade Nacional de Ensino à Distância da Espanha.
Desde 1996 atua como Policial Rodoviário Federal, exercendo a gestão em várias áreas, entre as quais chefe do Núcleo de Operações Especiais – NOE/RN (2002-2009), Chefe da 2ª Delegacia (2009-2010), Chefe da Seção de Operações – SEOP/RN (2010-2015), Superintendente Substituto – SRPRF/RN (2014-2015), Coordenador de Planejamento e Controle Operacional – CPCO/DPRF(2017-2018, nível nacional), Superintendente no Estado do Rio Grande do Norte (entre 2019 e 2021), presidiu o Fórum de Trânsito e Transporte da Região Metropolitana de Natal entre 2019 e 2021, foi Conselheiro do CETRAN/RN entre 2020 e 2021, período que também foi conselheiro do Conselho Estadual de Segurança Pública e Defesa Social do Rio Grande do Norte (CONSESP-RN).
Entre 2021 e janeiro de 2023, exerceu a função de diretor de Operações (nível nacional), presidiu o Comitê Nacional de Políticas sobre o Roubo e Furto de Veículos e Cargas (vinculado ao Ministério da Justiça e Segurança Pública), e também, foi Conselheiro do Conselho Nacional de Segurança Pública e Defesa Social do Ministério da Justiça e Segurança Pública.
A saída do cargo de diretor de Operações aconteceu em 1º de janeiro de 2023, primeiro dia do governo Lula, mas o policial continuou atuando no órgão em Natal.
Em 5 de novembro do ano passado, por exemplo, compartilhou no Instagram que palestrou em uma capacitação da Secretaria de Administração Penitenciária (Seap) relativa à implantação do Termo Circunstanciado de Ocorrências pela PRF, com policiais penais do RN. Em setembro, participou de um painel apresentando uma proposta padronizada de atendimento de acidentes de trânsito para alguns municípios.
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Ex-diretor da PRF no RN é um dos indiciados por tentar impedir votos em 2022
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