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Irreverência tropicalMas é a persona musical, a artista do palco, da performance e da composição, que se sobressai em Ritas. O filme segue uma estrutura cronológica para dar conta de sua trajetória começando muito jovem quando integrou a banda Os Mutantes, junto com os irmãos Arnaldo Baptista e Sérgio Dias Daí surgiram sucessos como Panis et Circenses, Balada do Louco e Bat Macumba.Após uma ruptura nada amigável, e depois de fazer parte da banda Tutti Frutti, Lee seguiu em carreira solo – foram mais de 20 discos ao longo da carreira, sendo o último, Reza, lançado em 2012. E por todo esse tempo, os hits foram se somando e compondo uma verdadeira relíquia da música brasileira, tais como Ovelha Negra, Lança Perfume, Mania de Você, Doce Vampiro, Chega Mais, Jardins da Babilônia, Agora só Falta Você etc.É muita história, muitos sucessos para caberem em um único longa-metragem. “Eu não me proponho a fazer um filme definitivo sobre ela”, defendeu o diretor.“Eu acho que tem muitos outros assuntos a serem discutidos a partir da vida dela. A Rita é uma fazenda de temas”, afirmou Santana. E os sucessos musicais chegaram até os anos 2000, como Erva Venenosa, Amor e Sexo e Reza.O documentário destaca ainda a importância de Rita para a concretização do Tropicalismo nos anos 1970, ainda dentro d’Os Mutantes. E, nesse sentido, a própria Rita fala da importância dos artistas baianos daquela geração, como destaque para o quarteto Caetano-Gil-Gal-Bethânia, para a consolidação da sua própria musicalidade, tal qual um filiação que, na sua trajetória, se aliou com a veia roqueira.Aliás, o filme resgata momentos muito bonitos de encontros de Rita com essa galera, seja no show Refestança, que fez ao lado de Gilberto Gil em 1977, ou as apresentações com Caetano Veloso e um registro divertido e delicioso com Maria Bethânia, cantando Baila Comigo.Engajamento naturalAlém do talento artístico, a transparência e a sinceridade sempre foram traços marcantes da personalidade de Rita Lee. “Não existe a palavra ‘tabu’ ou ‘censura’ no vocabulário dela. Nunca existiu”, observou o diretor. E, de fato, tanto nas suas músicas quanto nas entrevistas e depoimentos públicos, a artista sempre tratou de temas considerados espinhosos, mas que ela abordava com leveza e naturalidade.Ela falava abertamente do uso de drogas e daquilo que experimentou na vida em termos de entorpecentes e ilícitos. Também a insinuação e o desprendimento sexual aparecem nas suas letras, levantando a bandeira da liberdade e da prática do prazer das mulheres. À frente do seu tempo, Rita sempre lutou e foi um exemplo de empoderamento feminino muito antes do termo ter se popularizado entre os grupos identitários e feministas.Essa é uma das razões pelas quais o diretor percebeu que apenas a presença dela no filme era suficiente. “Ela tem muito conteúdo e propriedade para falar de tudo e sempre lidou de forma muito orgânica com isso. Percebemos que quanto mais a gente se fechasse nesse universo de pensamento da Rita, mais força o filme ganhava e melhor era possível entendê-la. É um uso da linguagem muito assertivo que poucas pessoas dominam, com tanta verdade e humor. Quanto mais você escuta a Rita falar, mais você quer ouvir”, concluiu o cineasta.‘Ritas’ / Dir.: Oswaldo Santana e Karen Harley / Pré-estreia hoje, 18h, no Cine Glauber Rocha / Salas e horários: cinema.atarde.com.br