Governo do Pará decreta luto oficial de três dias pela morte de Dom Luís Azcona


Bispo emérito era símbolo da luta contra tráfico humano e abuso infantil no Marajó. Ele morreu aos 84 anos após internação para tratamento de câncer no pâncreas. Dom Azcona foi símbolo da luta pelos direitos humanos no arquipélago do Marajó.
CNBB/Divulgação
O governo do Pará decretou luto oficial de três dias pela morte de Dom Luís Azcona. O Bispo emérito do Marajó, símbolo da luta contra tráfico humano e abuso infantil na região, morreu na manhã desta quarta-feira (20), aos 84 anos.
O decreto do governador Helder Barbalho foi divulgada à tarde. Ele lamentou o falecimento do missionário reconhecendo seu legado pelos direitos humanos no arquipélago do Marajó.
“Lamento profundamente a morte de Dom José Luis Azcona Hermoso, bispo emérito da Prelazia do Marajó. Meus sentimentos aos amigos e familiares. Decreto, portanto, luto oficial em todo o Estado”, disse também em uma rede social.
Dom Luís Azcona, bispo emérito do Marajó e símbolo da luta contra pedofilia, morre aos 84 anos
O prefeito de Belém, Edmilson Rodrigue s(Psol) também lamentou a perda de quem chamou de “defensor da justiça social”. “Ele lutou incansavelmente pelas crianças e adolescentes do Marajó, protegendo e inspirando muitos. Hoje, choramos, mas fica o exemplo de coragem, amor e fé a ser seguido”, disse.
Morre Dom Azcona, bispo emérito do Marajó
Azcona estava internado em Belém desde o último dia 28 de outubro para tratamento de um câncer no pâncreas. O diagnostico ocorreu em junho.
Durante a última internação, os médicos informaram que a fragilidade do paciente impedia procedimentos cirúrgicos e que não havia mais opções de tratamento curativo. A morte dele foi confirmada pela Prelazia do Marajó nesta quarta.
Bispo Dom José Luiz Azcona atua há mais de 30 anos na Ilha do Marajó
Reprodução/TV Globo
Diversas entidades, ligadas à cultura e atividades sociais, assim como organizações ligadas à igreja emitiram notas de pesar.
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) reconheceu e agradeceu por seu trabalho. “Dom Azcona deixa-nos um legado de amor, sabedoria e compaixão com os mais pequeninos, testemunho que continuará a inspirar a todos na Igreja no Brasil”, disse em um trecho – veja a íntegra aqui ao final da reportagem.
Reconhecimento internacional
Dom José Luís Azcona era liderança reconhecida internacionalmente pela luta contra o tráfico humano e o abuso sexual de crianças e adolescentes no Arquipélago do Marajó, no Pará.
Dom José Luis Azcona Hermoso nasceu em 1940 na Espanha. Por 30 anos atuou denunciando mazelas da região do Marajó e a exploração sexual de crianças no arquipélago.
Dom José Luís Azcona Hermoso
Tarso Sarraf
Atuação no Marajó
Dom Azcona atuou como bispo titular da Prelazia do Marajó de 1987 a 2016.
Em 2015, ele denunciou casos em que crianças foram exploradas por visitantes que chegavam à região, e eram abusadas com o consentimento da própria família. Os casos tiveram repercussão nacional.
O bispo emérito também foi fundamental para a instalação da CPI da Pedofilia na Assembleia Legislativa do Pará e no Congresso Nacional, nos anos de 2009 e 2010. O trabalho na defesa pelos direitos humanos no Marajó fez com que, em 2008, o nome dele estivesse entre as três lideranças católicas ameaçadas de morte no Pará.
“Eu sou consciente de que me podem matar, mas eu não posso tolerar mais que esse fenômeno tão triste aconteça diante da minha cara”, disse.
“Uma mãe levava uma menina de 10 anos para uma dessas balsas, meninas que se chamam ‘balseiras’ no jargão normal. R$ 2,40 e um pequeno balde com vísceras de porco ou de boi, isso é que vale uma menina em algumas regiões do Marajó”, contou ele à reportagem do Jornal Nacional, na época.
Em dezembro de 2023, o bispo emérito do Marajó recebeu um pedido da Nunciatura Apostólica – representação diplomática do Vaticano para deixar a região. A Nunciatura Apostólica no Brasil não informou o motivo e nem para onde o bispo seria deslocado.
A medida causou revolta dos moradores em várias cidades do Marajó. Ocorreram protestos em Bagre, Breves e Soure. Os moradores caminharam pelas ruas das cidades carregando balões brancos, cartazes e entoando cânticos religiosos.
No dia 26 de dezembro, a Nunciatura Apostólica enviou uma carta para ele, comunicando que Dom José Luís Azcona não precisaria mais deixar a região.
Diagnóstico de câncer
Os primeiros exames clínicos feitos em junho de 2024 apontaram a existência de uma lesão no pâncreas, órgão que produz enzimas que ajudam na digestão de alimentos e que atua na produção de insulina, controlando os níveis de açúcar no sangue.
Naquele mês, a internação do bispo emérito ocorreu em decorrência da diminuição do nível de sódio no sangue provocado pelo câncer. Dom José Luís Azcona chegou a ficar mais de 30 dias internado durante julho e agosto, em Belém.
Em 10 de setembro, ele recebeu a visita da imagem peregrina de Nossa Senhora de Nazaré, padroeira do estado do Pará, no leito do hospital onde estava internado. A homenagem foi feita pouco antes do Círio de Nazaré, maior procissão religiosa do Brasil, que ocorre há mais de 300 anos no Pará.
Dom Luís Azcona recebe visita da imagem peregrina de Nossa Senhora de Nazaré e abençoa os paraenses.
Reprodução/TV Liberal
Trajetória religiosa
Dom Azcona nasceu em Pamplona, na Espanha, em 28 de março de 1940. Aos 10 anos, ainda na Espanha, ele foi para o Seminário Menor na cidade de São Sebastião (Espanha). Foi ordenado padre em 21 de dezembro de 1963, na Ordem dos Agostinianos Recoletos na basílica de São João de Latrão, em Roma.
Ele chegou ao Brasil na metade da década de 80 como missionário na prelazia do Marajó e foi declarado bispo da região em 1987 pelo Papa João Paulo II. A sua sagração episcopal ocorreu em 5 de abril de 1987 por dom Alberto Gaudêncio Ramos, em Belém. Desde 12 de abril daquele ano permaneceu em Soure, na Ilha de Marajó.
Passou a denunciar a exploração sexual contra mulheres, adolescentes e crianças no Marajó e chegou a sofrer ameaças de morte por esta atuação. “Ele permaneceu na prelazia marajoara até a renúncia ao governo pastoral, em 2016”, segundo a CNBB. Em 2022, foi premiado com a Ordem do Mérito Princesa Isabel.
Bispo Dom José Luiz Azcona atuou mais de 30 anos no Marajó
Reprodução/TV Globo
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