Pressão internacional

Há cerca de duas semanas, quando percebeu que os números não estavam favoráveis a mais uma de suas reeleições, Nicolás Maduro advertiu que haveria derramamento de sangue caso perdesse as eleições. O presidente Lula, um velho aliado ainda dos tempos do coronel Chávez, se espantou com o discurso e disse que Maduro precisa entender que eleição se ganha ou se perde e recomendou ao dirigente venezuelano a acolher a vontade das urnas.

No domingo à noite, um Maduro paramentado com as cores do país, apareceu nas redes de rádio e televisão para proclamar a sua vitória, com o aval do Conselho Nacional Eleitoral, cuja formação é basicamente toda chavista. Ele ignorou as críticas da oposição e muito menos o posicionamento de diversos países que se recusam a reconhecer o resultado enquanto não forem apresentados os boletins das seções eleitorais.

O governo brasileiro, um dos poucos representados na eleição com o ex-chanceler Celso Amorin, emitiu nota comemorando o tom pacífico das eleições, mas não fez qualquer gesto de reconhecimento ao novo mandato, preferindo, como os demais, a avaliação dos boletins.

Nicolás Maduro é o herdeiro direto do coronel Chávez, que morreu no meio do mandato e dele também herdou o modelo de continuar no poder enquanto puder, utilizando todos os meios para se garantir. As cédulas de votação tinham mais de dez fotos com sua estampa, enquanto os adversários só tinham uma publicação. Ao curso da campanha, a Justiça Eleitoral, também por ele controlada, desclassificou diversos candidatos sob vários argumentos.

Com a redução do consumo de petróleo e com outros países ampliando a sua produção, a economia venezuelana, com apenas uma âncora, continua em colapso, com uma das maiores inflações do mundo e um crescimento exponencial da pobreza. Durante a Covid, milhares de migrantes atravessaram as fronteiras do Brasil e da Colômbia, especialmente. Muitos alimentavam a esperança do retorno ante a possibilidade de vitória da oposição.

Não se sabe o desfecho desse impasse internacional, mas o governo brasileiro, um dos únicos parceiros do chavismo, já deveria ter virado essa página e olhado mais para o povo venezuelano do que para o seu governo. Maduro impede o país de recuperar a sua pujança por continuar sendo um dos maiores produtores de petróleo do mundo. No entanto, enquanto não houver mudanças, são poucas as perspectivas de avanço até mesmo da democracia, hoje apenas no papel quando se sabe do aparelhamento de todos os órgãos públicos do país.

O grave desse enredo são as consequências. Um boicote global para afetar Maduro irá, na verdade, penalizar a população, que continua engessada em suas ações. As reações são apenas pontuais, como em alguns bairros de Caracas, nos quais as manifestações contra o resultado do pleito eram vistas nessa segunda-feira.

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