Abstrações

Ah, se não fossem as abstrações, o que seria de nós, seres de raciocínio e concretude!?
Não sentiríamos amor em um abraço, nem o desejo em um olhar.
Todas as intenções de um toque… O que seriam delas!?
E o cuidado, a raiva, a vontade de proteger, o querer estar perto?
Como saberíamos disso tudo sem as abstrações!?
O prazer de vencer ou de perder, de ser amada ou odiada, de sentir os quereres todos e as rejeições também? Saberíamos deles?!
O ódio alheio, a curiosidade e a condenação emanada dos olhares?
Os incômodos!?
As vontades!?
Abstraídos na errância constante dos transeuntes em dia comum, (tomo conhecimento e sigo) tomamos conhecimento e seguimos…
Isso te incomoda?!

Os conceitos e os saberes se criam abstraídos.
Só conhecemos pela abstração.
As concretudes se recriam abastraídas.
Senão, que faríamos com elas?
Um corpo em contato com outro, sem abstração, concreto!
Um olhar atravessando outro, sem abstração, espelho!
Um sorriso trocado ao amanhecer, sem abstração, automatismo!
Abstraídos, corpos modam-se em desejo!
Olhares, em convites e respostas de aceite.
Sorrisos, viram gargalhadas, felicidades e, evidentemente, memórias.
Cada um com a sua, porque são memórias e são abstrações particulares!
Abstrações que criam leveza e/ou potencializam gozos e dores.

E as felicidades compartilhadas quando não estamos perto?
Pela abstração elas são presenteadas…
Pela abstração elas são absorvidas e apropriadas…
Estou feliz contigo, não estando contigo, nem vivendo contigo os teus viveres. (São tão poucos os nosso momentos.)
Mas essas felicidades me pertencem quando são entregues a mim.
Abstraindo-me e abstraindo-as, eu as recebo e sou feliz contigo!
E esses teus momentos deixam de ser apenas de um, pois há outras pessoas abstraindo-os… Apropriando-se deles todas.
(Será que só os compartilha comigo?!)
Abstraio isso como verdade e me sinto especialmente pertencente a tuas abstrações (às melhores, claro!) e a ti.
E juntos, viajamos na mesma “vibe” e isso é maravilhoso para nós, acredito!

Abstrações nos tornam seres atópicos.
Estamos em um não-lugar: quaisquer uns!
Encontramo-nos na mesma memória feliz!?
Agora estou na cozinha de casa, tomando um vinho, contudo estou contigo, ouvindo tua voz e teu sorriso… aí, onde tu estás!
Estou encarando teu olhar tão espontâneo e cheio de fogo e alegria.
Abstraio-me nele e inflo feito balão preparando-se para zarpar.
Flutuo…
Sorrio…
Alegro-me…
Pego fogo e (te) desejo…
E vejo um horizonte lindo, amplo, imenso, colorido e feliz…

Tu estás aqui, eu estou presa em teu abraço,,,
E ouço tua voz ao meu pé de ouvido nitidamente confessando, através desse gesto concreto…
Que gostas de mim…
Que gostas demais de mim…
Que eu não tenho noção do quanto tu gostas de mim…

Abstraio todo esse sentimento, sinto-o concreto, tomo-o como o melhor presente que ganhei na vida e em vez de guardá-lo em um cofre dentro, exponho-o.
Danço com ele no meio da rua, desfilo com ele pelas ruas e pelos corredores, lanço-o a qualquer um através do meu sorriso, transfiro-o pelos meus abraços…
Entrego-o ao mundo, liberto-o para viver pleno…
Estou no balão… Tu estás em terra…
Mas estamos no mesmo gostar!
Abstraídos em um amor que são tantos, mas que são somente nossos. Nós, que, felizmente, não somos apenas seres de raciocínio e concretude.

Que as abstrações nos humanizem!

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