Festivais Literários

Por Ana Cláudia Trigueiro

Nada como a luta contra o caos material
pra fazer a gente pôr os pés no chão.
Maria Valéria Rezende

É louvável realizar eventos dedicados à promoção da Literatura, principalmente em tempos tão adversos. As histórias e os poemas são expressões artísticas transformadoras e nossa sociedade nunca necessitou tanto delas.

Mas, para que um evento de Literatura obtenha o devido respeito não pode ser executado da noite para o dia, nem pode ser maculado por objetivos “extra” literários. Isso mancha o que a arte tem de mais sagrada e poderosa: a insubmissão.

As ações precisam ser planejadas com muita antecedência para que tenham um impacto duradouro sobre o público beneficiado. Se pensarmos no objetivo de estimular o hábito da leitura (especialmente entre crianças e jovens) vemos a necessidade de realizar um trabalho em parceria com as escolas em um período anterior.

Promover escritores locais não é uma ação de menor importância e é preciso conhecer o trabalho deles, celebrar a diversidade cultural da cidade é dar espaço para obras que tratem de diferentes temas e culturas promovendo inclusão e representatividade.

Oferecer palestras, debates, rodas de conversa e mesas redondas sobre temas relevantes como ecologia, política, sociedade, identidade, inclusão e direitos humanos é uma necessidade óbvia. Entre os assuntos urgentes do ano de 2024 estão os que tratam dos efeitos das mudanças climáticas sobre as nossas vidas.

Por fim, ser capaz de atrair o público (em um número que justifique o dinheiro gasto com a empreitada) é a última e não menos importante meta a ser cumprida por idealizadores e gestores. Não dá para achar que a reputação de uma feira/festival/festa literária se sustenta apenas com a presença de quem já é do meio, como escritores, editores etc. gente que vive da cadeia produtiva do livro enfim. Leitores, principalmente aqueles em potencial, são o grande alvo desses projetos.

O Brasil já tem tradição em realizar eventos literários. A mais bem-sucedida e reconhecida, a Bienal Internacional do Livro, acontece a cada dois anos e atrai milhares de visitantes. No balanço da edição ocorrida em São Paulo no último mês, as editoras relataram recordes de público e de vendas e destacaram o grande interesse e participação dos mais jovens.

Pensar neles pressupõe desenvolver novas estratégias: criar jogos e atividades interativas que envolvam o público de maneira lúdica, elaborar desafios de leitura, caças ao tesouro com temas literários e quizzes sobre autores e obras; apostar em atividades imersivas, como salas de escape literárias, onde os participantes precisem resolver enigmas baseados em histórias de livros, ou instalações sensoriais inspiradas em obras conhecidas…

Ações como essas realizadas na última Bienal trazem vitalidade às feiras literárias porque as conectam ao público a partir de experiências dinâmicas. Para que eventos culturais se tornem referência no cenário cultural da sua região é necessário que um time de atores profundamente comprometido com a cultura (alô, produtores culturais…) estejam envolvidos no projeto e tenham poder de decisão. Isso é democrático e representativo.

Ser referência, como a maravilhosa escritora Maria Valéria Rezende revelou (em um bate papo com escritoras locais ocorrido no Mahalila) é se preocupar em oferecer ao próximo, no caso o leitor, uma experiência sincera, real, simples na forma, mas profunda no conteúdo.

Isso não se dá sem uma compreensão maior que leve à valorização do que importa e à rejeição do que serve apenas como instrumento de manutenção de poder.

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