Thais Carvalho é a nova “Rainha das Águas” de Marabá

A tradicional travessia do Rio Tocantins, em Marabá, tem agora uma nova campeã geral. Pela primeira vez na história da competição, uma menina (sim, menina, pois tem apenas 15 anos de idade) é a primeira colocada geral, deixando para trás dezenas de competidores, inclusive vários marmanjos acostumados à travessia.

Enquanto os atletas brasileiros disputavam os Jogos Olímpicos nas mais diversas modalidades esportivas em Paris, o domingo (28)  foi dia de Thais Carvalho Nascimento em Marabá.

O interesse pela disputa foi capturado por 80 pessoas (68 homens e 12 mulheres), que se inscreveram para participar de uma prova de 1.500 metros dentro do rio.

Esta foi a 25ª edição da travessia e registrou um feito emblemático. A jovem notável também ficou em 1º lugar na categoria feminina.

Também no feminino e pelo segundo ano consecutivo, Geovana de Moraes e Silva, 14 anos, garantiu o 2º lugar na competição – e também foi a segunda no geral, à frente de todos os homens.

As adolescentes Thais (1º), Geovana (2º) e Catarina (3º) exalam talento e excelência na natação

No masculino o melhor desempenho foi do também adolescente, Noan Lemos Gonçalves, 14 anos. Ele também é o atleta mais jovem a vencer a prova. O garoto vem se destacando na natação – em piscinas – e é considerado um dos prodígios paraenses no esporte.

A PROVA

Para atingir os excelentes resultados, Thais, Geovana, Noan e os demais competidores tiveram de acordar cedo. A prova iniciou às 7 horas, com saída do Balneário da Mangueira, e o grupo nadou 1.500 metros nas águas abertas do Rio Tocantins, com ponto de chegada em frente a um flutuante na Praia do Tucunaré.

Organizada pela Secretaria Municipal de Esporte (Semel) e pela Federação Paraense de Desportos Aquáticos, a 25ª Travessia do Rio Tocantins teve apoio do Exército Brasileiro, Corpo de Bombeiros e da Secretaria de Obras.

Confira a classificação:

Feminino

1º: Thais Carvalho Nascimento

2º: Geovana de Moraes e Silva

3º: Catarina Amorim dos Santos Alves

4º: Amanda Almeida França

5º: Fabiana Muniz

Masculino

1º: Noan Lemos Gonçalves

2º: Paulo Sérgio de Andrade Alencar

3º: Thiago Rodriguez

4º: Alison Marques

5º: Moisés Miranda

Noan (1º), de apenas 14 anos, é o nadador mais jovem a vencer a travessia masculina

A EXCEPCIONAL THAIS

Como diria Everaldo Marques, com seu jeitinho carinhoso para exaltar a excelência dos atletas brasileiros, a jovem Thais Carvalho Nascimento, 16 anos, “é ridícula”.

O bordão de Everaldo é usado quando o narrador quer elogiar um atleta, homenageando-o quando atinge resultado fora do padrão, acima da média, de um nível muito alto. E, por isso, cabe perfeitamente à trajetória de Thais.

A Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA) computa as 55 medalhas que Thais já ganhou nas competições de natação e elenca suas dez marcas de destaque. Quatro delas foram como de campeã em provas de 100m livres, outras três nos 200m livres, duas nos 50m livres e uma nos 50m borboleta.

Como se não fosse suficiente, em 2023 a jovem notável foi uma das três finalistas do Troféu Rômulo Maiorana, (maior premiação do esporte paraense) na categoria desportos aquáticos.

MUDOU DE CIDADE, MUDARAM OS RESULTADOS

A travessia de 1,5 quilômetros no Rio Tocantins foi a segunda vez em que Thais Carvalho Nascimento nadou em águas abertas. A primeira foi no mar, em São Luís (Maranhão), há poucos dias, onde a adolescente nadou 2,5 quilômetros.

Ela e o pai, Giley dos Santos Nascimento, mecânico e empreendedor, estiveram na redação do Correio de Carajás na tarde desta segunda-feira (29), para uma entrevista especial. Atualmente morando em São Luís, a menina e a família vieram para Marabá para passar uma semana e matar a saudade dos colegas.

“Aí coincidiu com a competição, eu perguntei se ela queria participar e ela disse que sim”, detalha o pai. Thais chegou a Marabá um dia antes da competição e não teve tempo de treinar, antes de cair nas águas do Tocantins e arrebentar na prova.

Na travessia, ela superou até mesmo outro adolescente, Noan Lemos Gonçalves, que também é um prodígio no esporte e campeão paraense. Para se ter ideia do tamanho do feito, quando se trata do nado em piscina, o tempo do garoto é bem menor que o dela.

“No nado crawl (livre) eu tô fazendo 29 (segundos) na piscina longa e na curta chega a quase 27. O Noan fez 25 no brasileiro”, compara Thais. A comparação é injusta, contudo, uma vez que se trata de gêneros diferentes.

O retorno triunfante às águas marabaenses é fruto de um incessante treinamento, que agora é realizado na capital maranhense. A mudança de estado foi motivada pela percepção de Giley, de que a filha estava progredindo no esporte.

Ele, então, perguntou se a garota gostaria de continuar no esporte e a resposta foi positiva. O pai aceitou o convite feito por uma escola de natação esportiva da capital maranhense – a DM Aquatic Center. Então, a família – pai, mãe, irmão e Thais – embarcou para o novo endereço.

“A ida dela pra São Luís foi devido à deficiência em Marabá, em relação à estrutura e técnica. Aqui tem poucos técnicos em relação à natação competitiva. Ela teria que nadar em três piscinas diferentes para completar o treino dela”, recorda Giley.

Ao contrário do que aconteceria em Marabá, onde seus treinos seriam muito desgastantes, em São Luís Thais treina em um único clube, em uma piscina semiolímpica.

Questionada pela reportagem sobre o diferencial do treinamento em São Luís, ela destaca o observa que em Marabá ela não havia um técnico fixo, além de não existirem treinadores de alto rendimento na cidade com dedicação exclusiva a ela ou a uma equipe.

“Lá é diferente daqui. Nós estamos em época de base, treinando 6, 7, 8, 9 quilômetros por dia”. Nas águas maranhenses os atletas de alto rendimento não têm descanso, não ficam parados na beira da piscina conversando. O foco está em evoluir os nadadores para seu desempenho máximo. A prova está no fato de Thais já acumular vitórias em campeonatos maranhenses.

Giley tomou decisão radical e mudou a família para São Luís em busca de maior rendimento

PEITO DE POMBO

Essas conquistas fazem parte da história recente da vida da atleta, mas sua trajetória na natação iniciou quando ela tinha 7 anos e desenvolveu uma doença conhecida como peito de pombo (quando um lado do osso esterno cresce e fica maior que o outro). Participar do esporte foi orientação médica.

Ao passo em que treinava e se destacava, Thais foi estimulada pelo ex-técnico a participar de competições. Em sua primeira disputa, em meados de 2019, ela ficou em 2º lugar. Desde então, o incentivo do pai e seu talento natural a levaram a lugares e competições inimagináveis. Mas sua grande virada no esporte aconteceu quando foi convidada a participar da etapa nacional dos Jogos Escolares Brasileiros (JEBs).

“Meu pai via toda a minha evolução, continuava me motivando, me ajudando bastante. Os JEBSs foram minha virada de chave, aí meu pai perguntou se era isso que eu queria (competir na natação) e eu disse que sim. Estamos aí até hoje”, divide com a reportagem.

Mais recentemente, em 2023, ela teve seu primeiro índice brasileiro, se tornando a primeira atleta marabaense a conquistar essa proeza. “Consegui troféus ano passado, de melhor eficiência na categoria e também de melhor índice técnico”, detalha.

Atualmente, seu foco de treino e, consequentemente, seus melhores resultados são os 50m e 100m livres. Ela encontra segurança nas provas de velocidade.

“Na competição maranhense eu fui muito boa, baixei cerca de três segundos no meu tempo no 100 livres. Estou buscando o índice nessa prova, nos 50 livres eu já tenho”. Thais é a atual campeã maranhense nessas categorias e está no top 3 do estado vizinho.

(Luciana Araújo e Ulisses Pompeu)

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