Praia de Ponta Negra I Foto: Mirella Lopes
A Fundação Norte-Rio-Grandense de Pesquisa e Cultura (Funpec) levou uma semana para identificar uma nova jazida que tem servido como fonte de areia para a engorda da Praia de Ponta Negra, onde fica o Morro Careca, cartão postal de Natal.
O estudo para identificar a jazida foi realizado entre os dias 12 e 19 de setembro, tendo começado doze dias depois que a Fundação recomendou, em 30 de agosto, parar a engorda por causa de incompatibilidade entre a granulometria dos grãos encontrados na jazida 2, licenciada pelo Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente (Idema), e aquela presente na praia de Ponta Negra atualmente.
A nova jazida fica a 10 quilômetros da linha de praia da própria Ponta Negra, enquanto a jazida anterior ficava na altura do Farol de Mãe Luíza, distante sete quilômetros da linha de costa da praia de Areia Preta.
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Idema diz que nova jazida para engorda de Ponta Negra não foi licenciada
Na manhã desta segunda o Idema alertou que a nova jazida não tem licenciamento ambiental e que a Prefeitura do Natal é responsável pelo que ocorrer em decorrência da obra, já que está dando continuidade ao serviço com o argumento de decreto de emergência.
“O fato é que faltam os estudos e uma cubagem, que é o cálculo de volume disponível de material que tem na jazida. Foi realizado um levantamento indireto geofísico, o que dá uma aproximação, mas é preciso o acompanhamento de estudos mais robustos, com perfuração. Precisa de métodos mais precisos para essa medição porque senão podemos lidar com um volume insuficiente, como já aconteceu na anterior”, pondera Venerando Eustáquio Amaro, professor da Engenharia Civil e Ambiental da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte).
A Prefeitura do Natal não informou quanto vai pagar a mais pela dragagem da areia em local diferente e mais distante da praia. Pelo acompanhamento técnico para realização da obra, o que inclui a pesquisa que revelou a nova jazida, foram pagos R$ 5.123.532,16.

Outro ponto para o qual o pesquisador chama atenção é para o tipo de areia encontrado na jazida, que precisa ser de médio a grosso, já que toda a projeção da engorda foi realizada em cima desse tipo de granulometria.
“Foi aconselhado na modelagem anterior que a jazida tivesse granulometria de média a grossa, um pouco maior do que os grãos de areia de Ponta Negra hoje, para que o produto permaneça mais tempo na praia. No EIA/RIMA [Estudo de Impacto Ambienta/Relatório de Impacto Ambiental] explicava que foram tentadas quatro perfurações e que houve dificuldade de penetração na profundidade e isso pode ter sido indicativo de cascalho. Não houve perfuração na profundidade apropriada. Se colocar areia igual à de Ponta Negra, o tempo de duração da obra será menor. Vi que fizeram até algumas coisas que não haviam sido feito na anterior [da Tetra Tech], mas foi muito rápido. Eu teria precaução de cuidar mais da modelagem, cubagem e um esforço de prospecção. O ideal é que tenha mais areia do que o necessário para reposição, porque a obra não fica boa de cara. Acontece em toda obra de aterro hidráulico, há perda de material no processo de extração e lançamento”, aconselha Venerando, que também coordena o Laboratório de Geotecnologias Aplicadas Modelagem Costeira e Oceânica (GNOMO).

A simplicidade de R$ 100 milhões
Durante várias entrevistas, o titular da Secretaria de Meio Ambiente e Urbanismo (Semurb), Thiago Mesquita, tem firmado que a obra é “simples, trata-se apenas de retirar areia de um canto e colocar em outro”.
Porém, na avaliação de pesquisadores que trabalham com o tema há anos, se essa fosse uma obra simples, não custaria R$ 100 milhões.
“Não é uma obra simples, se fosse, não custaria R$ 100 milhões, fora que ainda há todo o problema da pouca discussão e a história do sistema de drenagem… ainda há muitos problemas. Essa deveria ser uma obra tranquila, mas agora querem pressa, fizeram toda aquela pressão para que o Idema desse uma licença a toque de caixa“, critica o professor da UFRN.

A engorda da Praia de Ponta Negra
A obra de engorda e drenagem da praia de Ponta Negra foi orçada inicialmente em R$ 75 milhões, entre recursos da Prefeitura de Natal e do Governo Federal. Porém, segundo o Ministério do Desenvolvimento Regional, o valor subiu para cerca de R$ 108 milhões.
Com a engorda, que será realizada em três etapas, a promessa é de alargar faixa de areia da praia em até 100 metros, na maré seca, e 50 metros na maré cheia. Segundo a Prefeitura do Natal, o serviço de drenagem será realizado pela construtora Edcon, com previsão de conclusão em três meses. Para isso, equipes vão trabalhar nos três períodos, se deslocando por etapas, desde a Via Costeira (na altura do restaurante Mangai) até o final da avenida Erivan França, no calçadão de Ponta Negra.
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