Educação socioemocional ganha força nas escolas

Gerenciando emoções para promover empatia, resiliência e melhorar as relações interpessoais, a educação socioemocional de crianças e adolescentes tem ganhado cada vez mais força nas escolas, com resultados notáveis. O desafios ainda existem, sobretudo quanto a formação de professores, mas os esforços para educar emocionalmente nossas crianças vêm crescendo e são urgentes: de acordo com a Fiocruz, de 2011 a 2022, a taxa de suicídio de pessoas entre 10 e 24 teve um aumento médio de 3,7% ao ano e 21% de autolesões.“Percebo que minha filha sabe se por no lugar do próximo, respeitar e ter empatia, e realmente me orgulho muito dela. No meu tempo não era assim. Era cada um por si”, explica a professora Suzane Cerqueira, que é mãe da Liz (10), aluna do 5º ano do fundamental II no Colégio Vitória Régia. Os reflexos da educação socioemocional em Liz são nítidos, mas com a filha entrando na adolescência, Suzane segue reforçando a importância da empatia e, principalmente, sobre respeitar a si mesma e não se moldar a partir dos outros.“Converso muito com ela sobre cada um ter o seu próprio jeito e que isso deve ser respeitado, principalmente por ela estar entrando na adolescência, uma fase onde os hormônios afloram e comportamentos mudam”, aponta. Liz, por sua vez, afirma se sentir feliz em saber reconhecer a si mesma como é. “Me sinto legal, sabe? É muito bom reconhecer seu próprio jeito e entender o jeito dos outros. Acho importante aprender isso agora, porque aí vou crescer com esses ensinamentos”, explica.É essencial que, no cultivo dessa inteligência socioemocional, haja abertura na escola e na família para que esses jovens falem sobre suas questões, afirma a professora Sally Pina, mãe de Gabriel (9), aluno do 3º ano do fundamental no Colégio Vitória Régia. “Numa situação de conflito, ansiedade ou angústia, ele consegue parar, explicar e na maioria das vezes até nomear o que sente. E educação socioemocional é isso, esse poder de reflexão e capacidade de analisar melhor qual atitude deve vir após o sentimento”, reflete a mãe.Além da disciplina Educação Socioemocional, o Vitória Régia leva temas como respeito, emoções, empatia, solidariedade e gentileza para as aulas de filosofia e outras dinâmicas nas demais disciplinas. “Quando a gente fala de educação socioemocional abrangemos também o autocontrol e e a rotina. E quando falamos de rotina, trazemos o excesso de telas, por exemplo”, explica a psicopedagoga e orientadora educacional da instituição, Solange Argollo.Tecnologia presenteHoje, a tecnologia é muito presente, ressalta Solange Argollo, mas as crianças não nascem com o celular e a família precisa exercer essa autoridade. “É preciso favorecer, de fato, o que é importante na infância. É comprovado o quanto as telas são nocivas para a visão, concentração, criatividade e interações sociais das crianças. Então, além de criar uma rotina que estipule o momento para cada coisa, é preciso também deixar que as crianças sintam tédio para que criem brincadeiras e interajam com o espaço delas”, explica a psicopedagoga.Além disso, é crucial observar sinais de alerta que indicam que algo não vai bem. “Como mudanças de comportamento, isolamento, fala sobre desesperança, irritabilidade, mudança nos hábitos de sono, higiene, atividade física, irritabilidade, e incapacidade de realizar ou se interessar por outras coisas além de telas. Um diálogo aberto e constante sobre o que as crianças veem e como se sentem é essencial para prevenir situações de risco e fortalecer a saúde mental”, explica a psicóloga clínica e escolar na Land School Federação, Keila Parente.Nesse contexto, acessar diferentes atividades não apenas os afasta das telas, mas trabalha sua inteligência socioemocional e outros aspectos. Um bom exemplo? Praticar esportes. “Desde que comecei a praticar vela e balé, fiquei bastante diferente. Agora eu consigo ter mais foco e prestar atenção nas aulas. Tenho muitos sentimentos quando estou no mar também. No começo sentia medo e ficava nervosa, mas hoje me sinto leve. Uma psicopedagoga me ajudou muito nisso”, conta Carolina Bandeira (12), aluna do 6º ano do fundamental II da Land School Federação.InspiraçãoA inspiração de Carolina para entrar na vela foi o irmão, Bernardo (15) – na modalidade a três anos, ele já conquistou mais de dez troféus e medalhas, quatro de 1º lugar -, e a mãe dos jovens atletas, a cirurgiã dentista Juliana Felippi, afirma que o esporte tem sido essencial na saúde física e socioemocional dos filhos. “Especialmente nessa fase da adolescência. No mar, eles precisam tomar decisões rápidas, ler o vento, observar o clima e cuidar do barco, o que os torna mais responsáveis e focados também em outras áreas da vida”, explica.Claro, há frustrações. Afinal, nem sempre o resultado corresponde ao esforço, “mas aprender a lidar com derrotas é uma lição valiosa de crescimento e como mãe, meu papel é apoiá-los em toda situação”, afirma a cirurgiã. Bernardo ressalta o apoio da família e de psicólogos nesse processo. “Ajuda a gente a não ficar muito nervoso e pressionado durante as competições, nada além do que é esperado que a gente fique. E a prática em si me ajuda na concentração, até porque preciso otimizar minhas atividades”, explica o jovem.“A cabeça tem que ser muito forte, pois estamos brigando com a gente mesmo todos os dias na quadra. E esse lado mental me ajuda muito a lidar com outras situações do meu cotidiano”, afirma Felipe Argolo (14), aluno do 8º ano do fundamental II na Land School. Número 1 da categoria 14 anos de tênis na Bahia, Felipe começou a praticar tênis na pandemia e sua mãe, a administradora Roberta Mathias Argolo, explica que ficou e continua muito grata pela paixão que o filho encontrou no esporte.“Em um mundo onde a gente vê tantas crianças conectadas o tempo inteiro em telas e jogos, me deixa muito feliz observar ele se dedicar tanto que há algo que faz tão bem para ele. O tênis trouxe para a vida dele não apenas muita disposição para se exercitar, mas também um equilíbrio emocional muito grande. O tênis ensina muito isso, né? Você precisa aprender a respirar, a controlar suas emoções. Isso é super positivo e vemos os resultados no dia a dia”, garante Roberta Mathias.Com uma série de projetos socioemocionais que perpassam todas as disciplinas, explica o coordenador pedagógico e vice-diretor da Land School Federação, Lucas Stasi, a escola busca preparar os estudantes para lidar com a diversidade. “Tratar da educação emocional envolve um olhar holístico, requer tempo e não se limita a projetos isolados. Uma das principais dificuldades é garantir a continuidade desse trabalho a longo prazo, para isso, é essencial a parceria de toda a comunidade escolar, incluindo as famílias. Muitas vezes, a família também precisa aprender a lidar com as emoções da criança de maneira tranquila, afetuosa e sábia”, afirma ele.É preciso entender que, assim como a personalidade é algo em construção ao longo das fases de desenvolvimento humano, os aspectos e características emocionais também o são, aponta a psicóloga e docente do Centro Universitário Ruy Barbosa, Poliana Moraes, que é especialista em psicologia educacional e escolar. “E pode vir a ser moldado e aprimorado, especialmente na infância. Aprender a lidar com as mais diversas emoções, em contextos bons e ruins, é fundamental para a saúde mental de qualidade”, afirma.
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