Falta de contexto prejudicou cobertura jornalística de enchentes no Sul

Moreno Osório, em participação virtual no Congresso

As enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul entre os meses de abril e maio deste ano, com 22 dias ininterruptos de chuva, deixaram cerca de 441 municípios do estado submersos, atingindo o equivalente a 95% das cidades. Porém, ao contrário do que muitos tentaram fazer crer, esse não foi um processo natural, mas resultado da combinação desastrosa entre as mudanças climáticas com o sucateamento dos aparelhos de prevenção do estado.

“Ignorar isso é jogar no lixo todo o conhecimento acumulado desde a enchente de 1941 e o sucateamento dos sistemas de aviso”, alerta Moreno Osório, do Farol Jornalismo, que participou do evento de maneira virtual porque o aeroporto local continua inoperante.

Na enchente de 1941, o lago do Guaíba alcançou 4,75 metros de altura. Já este ano, a marcação chegou a 5,3 metros, a maior da história.

Os jornalistas independentes também tiveram suas casas invadidas pela água. Agora, atravessamos outra catástrofe que são as queimadas”, acrescenta Moreno.

Porto Alegre após enchente do Rio Guaíba de 1941 | Foto: CP memória
Eloisa Loose, participou de forma virtual do 8º Congresso Brasileiro de Jornalismo Ambiental

O assunto foi debatido durante o 8º Congresso Brasileiro de Jornalismo Ambiental que, pela 1ª vez, está sendo realizado no Nordeste, na cidade de Fortaleza, no Ceará, e terá cobertura da Agência Saiba Mais.

Os meteorologistas da Met Sul já haviam alertado o governador do Estado, Eduardo Leite (PSDB), sobre as fortes chuvas, assim como os deputados estaduais, através de um relatório emitido pela Assembleia Legislativa no qual se pedia mais investimento em prevenção de desastres.

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Boa parte da cobertura colocou a ênfase na questão da governança internacional ou até mesmo política, mas sem observar a questão climática e isso é sintomático. As pessoas se informam por meio das coberturas jornalísticas, que por sua vez são muito factuais. Depois vem a questão do cansaço e o desastre passa a ser normalizado. Para-se de falar um desastre quando outro emerge, mas precisamos acompanhar o depois, as políticas públicas, as promessas. Esses problemas não se resolvem assinando uma normativa, as pessoas continuam lidando com o problema”, pondera Eloisa Loose, professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), que também participou do encontro de maneira virtual.

Ainda como resultado das enchentes, os integrantes do Congresso que estão no Sul do país participaram do evento de maneira virtual, como Sílvia Marcuzzo, que atualmente trabalha como freelancer. A jornalista destacou a dificuldade de conseguir respostas do poder público em momentos de crise e relatou o equivocado tratamento diferenciado dados aos órgãos de imprensa.

Estamos num contexto de múltiplas crises e é difícil ser jornalista nessa situação. É preciso saber o que está por trás, mas temos dificuldade em conseguir respostas de órgãos e instituições. O que percebemos, muitas vezes, é que se faz uma distinção entre os veículos“, critica a jornalista.

O 8º Congresso Brasileiro de Jornalismo Ambiental, que começou nesta quarta (19) e segue até o sábado (21), na Unifor, em Fortaleza, terá cobertura completa pela Agência Saiba Mais.

Sílvia Marcuzzo, durante participação no evento

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