Objetos arqueológicos em obra no centro de Natal foram encontrados por moradores

Os fragmentos de cerâmicas que eram usadas no dia a dia de séculos passados, as faianças (tipo de louça) do século XIX, os fornilhos de cachimbos holandeses do século XVII, além de azulejos históricos e outros vestígios arqueológicos encontrados numa obra no centro de Natal, na última quinta (01), foram identificados por moradores e pessoas que trabalham naquela região da Cidade Alta, no centro de Natal.

O material foi encontrado por populares que moram ou passam por perto. Devem ter reconhecido que era algo importante e informaram ao Iphan [Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional], coisa semelhante aconteceu quando fizemos pesquisa na antiga sede do Patrimônio Histórico Artístico Nacional, atual casa do Padre João Maria, em 2015, na Rua Conceição. Encontramos restos de pisos e fragmentos de cerâmicas de fabricação indígena, Tupi, além de faianças e importadas, de fabricação inglesa, além de objetos metálicos e alicerces de construções antigas”, relata Roberto Airon, professor do Departamento de História e coordenador do Laboratório de Arqueologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

Fragmento de faiança do século XIX I Foto: Iphan

Isso demonstra apropriação da história por essas pessoas. Em várias capitai do Brasil, mais recentemente, tem disso. Em várias partes do Recife antigo os arqueólogos acompanham os trabalhos no Bairro São José, Santo Antônio, na Ilha de Itamaracá. Mais recentemente terminaram as obras de requalificação do Centro Histórico de Salvador e foi o mesmo processo, com identificação de material e restos de estruturas do século XVII, XVIII, indígena… as próprias pessoas veem e avisam. Essa atitude demonstra apropriação da sua própria história”, acrescenta o pesquisador.

Por causa do achado, o Iphan embargou a obra, que vinha sendo realizada pela Prefeitura do Natal na Rua João Pessoa, ao lado da Praça Padre João Maria, centro de Natal, sem nenhum acompanhamento arqueológico, o que é proibido pela legislação no caso de áreas como centros históricos.

Áreas de centros urbanos, como a Cidade Alta, está dentro de um recorte que a gente chama de poligonal, que é tombada, ou seja, considerada patrimônio histórico e arqueológico. Isso significa que toda atividade, não só arquitetônica, mas que vá mexer com o subsolo, precisa de um acompanhamento arqueológico porque é uma área ocupada há bastante tempo. Na arqueologia, nós consideramos que diversas camadas de ocupação humana foram realizadas nessa área, então é sempre provável que, nesse tipo de obra, surjam materiais de ocupações indígenas, coloniais do século XVI, de quando Natal foi fundada, vai aparecer do período holandês, do século XVII, XIX e, claro, de períodos mais recentes”, esclarece o professor do Departamento de História da UFRN.

Obra na Cidade Alta embargada pelo IPhan I Foto: Iphan
Obra na Cidade Alta embargada pelo IPhan com Igreja de Nossa Senhora da Apresentação ao fundo I Foto: Iphan

Na obra embargada, estava sendo feita uma escavação para instalação de uma nova tubulação na João Pessoa. Os artefatos arqueológicos encontrados no local remetem a quatro épocas diferentes da história de Natal:

Temos cerâmicas feitas por grupos indígenas que ocupavam aqui antes da colonização, louças do tipo faianças trazidas para cá no século XVIII, do período da colonização, fragmentos de cachimbos do período holandês, do século XVII, que era usado por soldados. Pelo que consigo ver há, pelo menos, artefatos de quatro períodos distintos de fragmentos de artefatos desde o surgimento da povoação do Natal, da pequena vila que deu origem à cidade de Natal. Ela começou exatamente ali, naquela parte. É o que a gente chama de sítio primitivo da cidade”, explica Roberto Airon.

Como os objetos foram encontrados em uma obra sem acompanhamento técnico arqueológico, o Iphan deve indicar um profissional para acompanhar a obra daqui para a frente. Os fragmentos arqueológicos, que são considerados Patrimônio da União, estão sendo catalogados e serão entregues a uma instituição de guarda, para que possam ser pesquisados futuramente.

O valor histórico desses objetos é importante porque mesmo que já os conheçamos, quando se faz uma análise mais cuidadosa, há sempre a possibilidade de descobrirmos algo que não conhecemos. Como patrimônio, esse material também pode ser usado nas aulas”, sugere o professor da UFRN.

No Rio Grande do Norte, atualmente, há quatro museus com material de valor arqueológico: o Laboratório de Arqueologia da UFRN, o Laboratório de Arqueologia do Seridó (UFRN), o Museu Câmara Cascudo e o Laboratório de Arqueologia ‘O Homem Potiguar’, da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte.

A Agência Saiba Mais fez contato com a Fundação Cultural Capitania das Artes (Funcarte) para saber os detalhes da obra, mas nós não obtivemos retorno até a publicação da matéria.

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