Graves complicações pós-bariátrica levam mulher a reverter cirurgia: “Para continuar viva”

A auxiliar administrativo Amanda Chaves Morais da Silva, de 26 anos, teve complicações tão sérias após uma cirurgia bariátrica, que precisou reverter o procedimento. Vômitos e crises de diarreia constantes causaram um quadro de anemia severa e desnutrição grave, a ponto de ela não conseguir sustentar o peso do corpo em pé.

Com 1,54 m de altura e 106 kg, Silva tinha obesidade grau 3 e, por causa disso, pré-diabetes, apneia do sono e dores articulares. Já havia tentado dietas, remédios e outros tratamentos antes de recorrer à bariátrica, recomendada por um endocrinologista.

Problemas quatro meses depois da operação

A cirurgia, do tipo bypass, foi realizada em outubro de 2023. Nos primeiros 90 dias, tudo parecia caminhar bem. A partir do quarto mês, no entanto, começaram os problemas: vômitos e diarreia após todas as refeições, incluindo com a ingestão de água. Exames de imagem não mostraram obstruções, mas uma análise do sangue revelou uma queda acelerada na hemoglobina, sinal de anemia.

“O médico decidiu me internar porque eu estava em estado de desnutrição severa. Tinha perdido 54 quilos e me sentia tão fraca, que meu esposo me carregou até a recepção do hospital. Comecei a fazer dieta parenteral e reposição de ferro na veia de dois em dois dias, mas não adiantou. Só melhorei depois de receber transfusão de sangue”, relembra ela, que mora em Goiânia (GO).

Impacto na saúde, na mente e no trabalho

Quando teve alta, a auxiliar administrativo voltou para casa sem sintomas. Um mês depois, no entanto, o mal-estar retornou, e pior que antes. Além do vômito e da diarreia, Silva desenvolveu síndrome de Dumping, um conjunto de sinais e sintomas comum entre pessoas que fizeram bariátrica.

 
Depois de colocar qualquer coisa na boca, eu sentia tremor no corpo todo, sensação de desmaio, vista turva e tontura. Em todas as refeições, eu tinha Dumping, diarreia, vômito ou três juntos.”
— Amanda Chaves Morais da Silva, auxiliar administrativo

Silva estava tão fraca, que não conseguia mais cuidar de si mesma, muito menos do filho de 6 anos. Sua mãe se mudou para sua casa e a ajudava até a tomar banho. Sem conseguir dar conta do básico, teve de sair do emprego.

O estado físico afetou o emocional, é claro. A goiana, que já tinha depressão, passou a ter crises de pânico e medo constante de comer. “De sete dias da semana, três ou quatro eu procurava a emergência do hospital. A equipe fez de tudo, mas eu disse pro meu médico que não conseguia mais viver daquela forma. Ele explicou que meu corpo rejeitou a cirurgia”, conta.

Melhora após a reversão do procedimento

Sem melhora nos exames e no estado geral, os médicos decidiram pela reversão do procedimento. Em janeiro de 2025, a paciente foi internada para conseguir se fortalecer fisicamente e, assim, encarar a operação, que ocorreu em 2 de fevereiro.

Desde a reversão, Silva não voltou a ter vômitos ou diarreia. Recuperou a força física e voltou a dirigir, a cuidar do filho e a fazer exercícios. Ela compartilha a sua rotina no perfil @amandachaaves, no TikTok.

Hoje estou melhor do que antes da bariátrica, mas me arrependo da cirurgia todos os dias. Se eu pudesse voltar no tempo, teria tentado todas as outras opções [para tratar obesidade]. Desenvolvi ansiedade, síndrome do pânico, anemia severa e desnutrição grave. Troquei a obesidade por um monte de outras doenças.”
 
— Amanda Chaves Morais da Silva, auxiliar administrativo

A auxiliar administrativo sabe que há risco de reganho de peso: “Agora meu estômago voltou ao tamanho normal. Mas com dieta e exercício, consigo manter. Estou no meu peso ideal”.

Quando a bariátrica precisa ser revertida

Casos como o de Silva não são comuns, segundo o cirurgião Renato Catojo Sampaio, membro titular do Colégio Brasileiro de Cirurgia Digestiva. Embora o bypass gástrico seja considerado seguro, pode desencadear efeitos adversos sérios em alguns pacientes, mesmo quando o procedimento é realizado corretamente.

“Há uma extensa modificação da anatomia do trato digestivo, com aceleração do esvaziamento do estômago, perda de absorção de nutrientes e aumento da secreção de vários hormônios intestinais. Essas alterações podem afetar alguns pacientes de forma mais intensa do que outros, causando problemas de difícil controle”, explica.

Qualquer condição que comprometa a qualidade de vida ou provoque novas doenças deve ser considerada uma complicação. “Em alguns casos, há fatores individuais que tornam a pessoa mais suscetível e que nem sempre são identificáveis na avaliação pré-operatória”, afirma o médico.

A reversão pode ser necessária quando a pessoa não se adapta à nova anatomia e os métodos clínicos não são suficientes para controlar os sintomas. “Ela só é indicada após uma investigação completa, e depois de esgotados todos os métodos clínicos possíveis para contornar o problema em questão”, explica o médico.

Para Sampaio, o principal cuidado deve começar antes da cirurgia. “É importante que o paciente tire todas as dúvidas durante as avaliações pré-operatórias. Caso não se sinta confortável com o seu atendimento, que procure outras opiniões antes de passar por uma bariátrica. Embora seja hoje um procedimento seguro, envolve uma série de alterações fisiológicas, anatômicas e mesmo psicológicas”, aponta.

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