Os venezuelanos voltam às urnas, neste domingo (25), na primeira votação desde a contestada eleição presidencial que levou a um terceiro mandato de Nicolás Maduro, em julho passado, com várias evidências de fraude.O chavismo se põe à prova desta vez em pleito para escolher os deputados da Assembleia Nacional, governadores e representantes dos Legislativos estaduais. E, novamente, apela ao nacionalismo para desviar o foco da crise política e da piora dos indicadores sociais: o regime lançou campanha para eleger governador para Essequibo, região pertencente à Guiana que há mais de um século é reivindicada por Caracas.Segundo o Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela, órgão controlado pelo regime e que declarou a vitória de Maduro em 2024 sem apresentar as atas eleitorais, os 12 centros de votação para escolher o governador e os deputados de Essequibo serão instalados no estado de Bolívar, vizinho ao território, com cerca de 21 mil eleitores cadastrados –dos quais 98,9% deles venezuelanos.Conteúdo relacionadoBombardeio de Israel mata 9 filhos de casal de médicos em GazaGoverno Trump proíbe Harvard de ter alunos estrangeirosTorre histórica da China desaba um ano após reforma milionária; veja o vídeoA disputa entre os dois países é antiga. A Guiana defende que um laudo arbitral em Paris estabeleceu as fronteiras atuais em 1899, enquanto a Venezuela aponta que um acordo assinado em 1966 com o Reino Unido, antes que os guianenses conquistassem a independência, anula o laudo de Paris e propõe uma solução negociada.A ditadura buscava uma chancela popular para a reivindicação. Em dezembro de 2023, convocou um plebiscito em que a população se manifestou sobre a ideia de anexar o território. O conselho eleitoral divulgou que 96% dos votantes apoiaram a ideia de anexação.Apesar de a votação ter contrariado a recomendação da Corte Internacional de Justiça, o tema mexe com o nacionalismo dos venezuelanos, e mesmo figuras da oposição não se posicionam abertamente contra ele. Após o plebiscito, o Parlamento aprovou a transformação de Essequibo no 24º estado do país, sem nenhum reconhecimento internacional.O Ministério das Relações Exteriores da Guiana solicitou à CIJ, o mais alto órgão judicial das Nações Unidas, que “ordene à Venezuela que se abstenha de qualquer ato dentro de seu território soberano”, o que Maduro rejeitou.”O povo venezuelano está determinado a defender o Essequibo e seus recursos energéticos, e 25 de maio é uma eleição transcendental, vamos eleger um governador e um órgão legislativo”, disse Delcy Rodríguez, vice de Maduro, em um evento transmitido pela TV estatal.Em meio a desentendimentos da oposição e ao desgaste da ditadura após a crise com a eleição de 2024, os venezuelanos escolherão 24 governadores (não contando Essequibo), 260 legisladores estaduais e 277 deputados para a Assembleia Nacional. O CNE anunciou que haverá 15.736 centros de votação e 27.713 sessões.A escolha de participar ou não do pleito rachou os opositores. A líder antichavista María Corina Machado pediu um boicote, chamando-o de “farsa eleitoral”. Na semana passada, ela reafirmou que as eleições presidenciais do ano passado foram vencidas pela oposição.A coalizão opositora PUD (Plataforma Unitária Democrática) expulsou duas organizações de suas fileiras, depois que essas forças tomaram a decisão de participar das eleições. “Imperdoável”, afirmou Corina Machado, ao falar sobre os dissidentes.O grupo de Henrique Capriles foi um dos que aceitaram disputar o voto, mas acusa Maduro de dificultar o processo sob o argumento de que não houve a entrega de cédulas eleitorais e que a oposição não pôde fazer propaganda.”Eles não entregaram a cédula eleitoral, não colocaram os pontos de informação, praticamente não há publicidade”, disse ele à imprensa internacional, durante um evento de campanha na cidade de Maracaibo (próxima à fronteira com a Colômbia).”Vou à Assembleia Nacional para ser a voz daqueles que não têm voz. Para defender os trabalhadores, os aposentados, a economia. Também para me opor ao que afeta o cidadão”, disse Capriles, ao defender a participação de seu partido no processo.A oposição também se queixa de que o prazo para a campanha eleitoral foi curto, sem espaço para debates ou comícios, o que favorece Maduro.Já o partido governista posicionou candidatos em todos os 23 estados e no distrito federal que abrange Caracas.Durante o processo, o chavismo falou, sem apresentar provas, em um suposto plano de ataques contra embaixadas na Venezuela, atribuindo a responsabilidade a grupos que tentariam sabotar as eleições.O ministro do Interior, Diosdado Cabello, indicou que, além das embaixadas, esses ataques tinham como alvo outros locais estratégicos, como hospitais e escolas. Um dos detidos sob acusação de integrar a suposta rede de conspiração foi o opositor Juan Pablo Guanipa, aliado de María Corina.A primeira medida tomada foi a suspensão por pelo menos uma semana de todos os voos da Colômbia. Caracas atribuiu o financiamento desta suposta operação aos ex-presidentes colombianos Álvaro Uribe, Juan Manuel Santos, Andrés Pastrana e Iván Duque.Nesse cenário, o eleitor venezuelano parece optar pela apatia. Um levantamento feito pela Meganálisis na metade de maio projetou uma abstenção recorde, com 84,9% não participando do processo. Outros institutos estimam que a participação ficará em torno de 35%.Quer ver mais notícias? Acesse nosso canal no WhatsAppEm 2020, nas últimas eleições parlamentares na Venezuela, com acusações de irregularidades por parte da oposição e o impedimento de candidaturas, a taxa de abstenção foi de 70%. O governista PSUV (Partido Socialista Unido da Venezuela) obteve 253 das 277 cadeiras no Parlamento.
Maduro desvia foco das eleições na Venezuela
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