Pouca gente imagina que uma picada de mosquito possa mudar radicalmente o curso de uma vida, ficando vulnerável às consequências silenciosas de uma doença tropical. Foi exatamente assim que terminou a vida de Sebastião Salgado, após anos de luta silenciosa contra as complicações da malária, uma enfermidade que continua a ceifar vidas, mesmo nos dias de hoje.A malária é uma infecção traiçoeira, causada por parasitas do gênero Plasmodium e transmitida por fêmeas do mosquito Anopheles, o mosquito-prego. Embora o tratamento seja, hoje, simples, eficaz e gratuito, a doença segue sendo uma das principais ameaças de saúde pública em regiões tropicais, como a Amazônia brasileira. Seus principais sintomas são febre, fraqueza, confusão mental, convulsões e até sangramentos que podem evoluir rapidamente. As complicações, quando não tratadas a tempo, deixam marcas profundas e duradouras no organismo.Sebastião Salgado, que morreu na última sexta-feira (23), aos 81 anos, em Paris, onde vivia com a esposa e parceira de vida, Lélia Deluiz Wanick Salgado, conhecia bem essas marcas. Ele contraiu malária na Indonésia, nos anos 1990, durante uma de suas muitas viagens aos recantos mais remotos e esquecidos do planeta. Como revelou em entrevistas recentes, a doença não foi tratada de forma adequada, e as sequelas se arrastaram por décadas, afetando sua saúde de maneira progressiva e irreversível.A confirmação da morte veio pelo Instituto Terra, organização que fundou com Lélia, e que representa o legado de sua militância ambiental, tão intensa quanto sua arte fotográfica.Quer ler mais notícias de Saúde? Acesse o nosso canal no WhatsApp!Quando a arte encontra seus limitesEmbora a malária seja curável, em casos graves ou mal manejados pode deixar sequelas importantes. No caso de Salgado, a infecção desencadeou um distúrbio sanguíneo crônico – provavelmente uma anemia grave – que comprometeu o transporte de oxigênio para os tecidos do corpo, afetando sua capacidade física e o levando a uma aposentadoria forçada.Em uma entrevista concedida ao jornal The Guardian no ano passado, o artista foi sincero e tocante: “Meu corpo já não aguenta mais. Foram muitos anos trabalhando em lugares extremos. Sei que não viverei muito mais. Mas não quero viver muito mais. Já vivi tanto e vi tantas coisas.”As sequelas invisíveis de uma doença negligenciadaO infectologista Marcelo Neubauer, que atua em São Paulo, explica que casos graves de malária podem deixar sequelas duradouras. “Complicações neurológicas como convulsões, psicose, comprometimento cognitivo, problemas na fala e até cegueira podem ocorrer. Além disso, há risco de insuficiência renal, danos hepáticos e anemia grave”, detalha.Marcelo ressalta que as sequelas podem impactar de forma prolongada a saúde do paciente, limitando o autocuidado e tornando o organismo mais vulnerável a outras doenças. “Embora o tratamento seja eficaz, a rapidez no diagnóstico é fundamental. Nos casos em que isso falha, o risco de complicações aumenta muito.”No Brasil, a malária está concentrada na região amazônica. O Amazonas, Pará, Acre, Rondônia e Roraima lideram os casos. Fora dessas áreas, a doença é mais rara, mas frequentemente mais letal, justamente pela dificuldade no diagnóstico precoce.Um legado maior que a doençaSebastião Salgado deixa um legado incomparável na fotografia e na luta ambiental. Sua obra atravessou fronteiras e denunciou as desigualdades do mundo, enquanto seu Instituto Terra, no Brasil, promove há anos ações concretas de restauração ambiental.
Malária: sintomas e como prevenir a doença que afetou Sebastião Salgado
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