Trabalho de Comissão pode identificar potiguar morto pela ditadura no RJ

A Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP) visitou o cemitério Ricardo de Albuquerque, no Rio de Janeiro, nesta quarta-feira (21), local onde foram enterrados pelo menos 15 desaparecidos políticos da ditadura, dentre eles o potiguar José Silton Pinheiro.

Com a participação de peritos, o objetivo da Comissão foi dar continuidade ao levantamento de informações e indicação de possíveis locais de inumação, ocultação ou destruição de remanescentes ósseos de mortos e desaparecidos políticos. Segundo levantamento da ONG Tortura Nunca Mais, mais de dois mil brasileiros foram sepultados como indigentes no cemitério entre os anos de 1970 e 1974, entre eles os desaparecidos políticos da ditadura.

A deputada federal Natália Bonavides (PT) também visitou o cemitério, como integrante da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP). 

“Ao lado de peritos especializados, fomos em busca de encontrar informações e materiais que levem a localização de outras pessoas enterradas sem identificação durante o período da ditadura”, informou Natália, nas redes sociais.

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Dentre esses remanescentes, os restos mortais de José Silton Pinheiro, que dá nome ao Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

“Ele foi barbaramente torturado e morto pela ditadura quando ainda tinha 24 anos de idade, em 1972. A família ainda segue sem respostas. A expectativa é de que os remanescentes do mipibuense possam estar entre os que serão analisados, encerrando esse ciclo de espera e levando um pouco de paz à sua família”, apontou a deputada.

José Silton Pinheiro iniciou sua militância política durante o movimento estudantil e se tornou militante do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR). Em dezembro de 1972, foi morto em ação comandada pelo DOI-CODI do I Exército, no Rio de Janeiro. Oficialmente, ele e outros quatro militantes do PCBR teriam morrido em confronto com as forças de segurança, mas evidências sugerem que foram mortos sob tortura ou execução, sendo seus corpos carbonizados dentro de um carro incendiado durante a operação. Documentos e testemunhos indicam que a ação foi resultado de informações obtidas por prisões anteriores e que não houve troca de tiros, mas sim uma encenação para encobrir as execuções.

Essa pesquisa sobre os desaparecidos na ditadura começou em maio de 1991, com documentos encontrados que mostraram a existência de três cemitérios no Rio de Janeiro que, ao final dos anos 60 e durante toda a década de 70, receberam mortos que foram enterrados como indigentes, em diferentes épocas: Ricardo de Albuquerque (entre 1971 e janeiro de 1974), Cacuia e Santa Cruz.

Pelo menos 15 militantes políticos foram enterrados em Ricardo de Albuquerque em uma vala clandestina. São eles:

Ramires Maranhão do Valle e Vitorino Alves Moitinho, José Bartolomeu Rodrigues de Souza, José Silton Pinheiro, Ranúsia Alves Rodrigues, Almir Custódio de Lima, Getúlio d’Oliveira Cabral, José Gomes Teixeira, José Raimundo da Costa, Lourdes Maria Wanderley Pontes, Wilton Ferreira, Mário de Souza Prata, Merival Araújo, Luiz Guilhardini e Joel Vasconcelos Santos, todos enterrados como indigentes, em covas rasas.

Foi feita, então, a exumação dessas ossadas contidas na vala de Ricardo de Albuquerque. A tentativa de identificação continuou até março de 1993, quando, com a presença de membros da Equipe Argentina de Antropologia Forense, resolveu-se encerrar a investigação. Segundo parecer dessa equipe, “a tarefa de encontrar 14 [depois, o número passou para 15] ossadas entre cerca de 2.000 era sem dúvida muito complexa, estando todas misturadas e em péssimas condições”. A equipe acrescentou, ainda, a impossibilidade de fazer, nessas 2.100 ossadas, exame de DNA. As ossadas retiradas, cerca de dez por cento dos crânios e ossos longos, foram catalogadas e separadas. Posteriormente, o cemitério recebeu um memorial em homenagem aos mortos e desaparecidos durante a ditadura militar.

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