Casos de dengue em Juiz de Fora caem em relação a 2024, mas dobram em um mês

dengue

Os casos de dengue em Juiz de Fora caíram consideravelmente de 2024 para 2025. Segundo dados disponibilizados pela Prefeitura de Juiz de Fora (PJF), entre janeiro e maio do ano passado, 14.434 confirmações foram registradas na cidade. Este ano, até a última sexta-feira (23), 1.004 casos foram confirmados, de acordo com o Painel de Monitoramento de Arboviroses do Estado de Minas Gerais. A queda, de mais de 90% do casos, parecia ser a tendência do primeiro semestre de 2025, conforme mostrou a Tribuna em matéria publicada em 15 de abril.

Entretanto, outro dado também chama a atenção: em cerca de um mês o número de casos confirmados mais que dobrou, passando de 485 para 1.004. Ou seja, no último mês mais pessoas tiveram dengue em Juiz de Fora do que no primeiro trimestre do ano – período em que as notificações tendem a crescer. Além das confirmações, o município registra um óbito e mais quatro em investigação.

Conforme avalia a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES/MG), por meio da Superintendência Regional de Saúde (SRS) de Juiz de Fora, o cenário epidemiológico do município vem se mantendo em baixa incidência, apesar de um maior número de casos registrados. “Estamos no período sazonal (que vai de dezembro a maio), em que é esperado uma maior incidência de casos e, com o fim desse período e manutenção das ações de rotina e específicas preconizadas, espera-se a redução destes casos.”

O especialista em comportamento de insetos e professor doutor do Departamento de Zoologia da UFJF, Fábio Prezoto, entretanto, chama a atenção para essa alteração. Conforme lembra, nesta época do ano a tendência histórica é de redução na transmissão da dengue por conta da diminuição das chuvas, mas o cenário epidemiológico na cidade parece ir ao contrário. Para Prezoto, ainda é precoce falar em alterações no padrão de comportamento do Aedes aegypti. Entretanto, o especialista sinaliza as alterações climáticas como um importante fator para o aumento de casos da doença.

“Nós estamos vivendo momentos de mudanças climáticas extremamente acentuadas. Então, há uma desordem no ritmo das estações. Elas já não são mais tão bem definidas. Nós tivemos há pouco tempo pequenas chuvas ocorrendo e isso voltou a alimentar os criadouros em uma época em que o frio já deveria estar aparecendo. Então, isso ocasionou uma situação incomum no meio de uma estação desfavorável”, analisa.

Ainda conforme o professor, outro fatores também estão associados e são importantes para determinar o cenário epidemiológico urbano. Ele lembra que as residências são o foco principal dos criadouros, registrando de 70% a 80% dos focos do mosquito.

“O esforço em monitorar dentro das casas o fornecimento de possíveis criadores por uma desatenção em acompanhar os possíveis focos de criadores ali pode levar também a essa situação. E o ambiente urbano ele acaba fornecendo muitos microambientes favoráveis. Então alguns recantos, alguns pequenos locais podem criar ilhas favoráveis de desenvolvimento do Aedes aegypti. Então tudo isso somado faz com que a gente esteja vivendo esse momento com esses casos mais atípicos para o que era de se esperar quando a gente vê uma janela histórica em relação aos outros anos.”

Visitas residenciais

Questionada pela Tribuna sobre as ações adotadas para o combate às arboviroses, a Prefeitura de Juiz de Fora informou que a Secretária de Saúde promove um trabalho diário de combate ao mosquito Aedes Aegypti, por meio dos Agentes de Combate às Endemias (ACE). Segundo a PJF, são realizadas rotas semanais de visitas e vistorias a residências e lotes em diversos bairros do município

“No decorrer da visita, sempre acompanhado pelo responsável do imóvel, o ACE orienta e avalia as situações de risco, remanejando e/ou eliminando os recipientes que possam acumular água e/ou que não tenham utilidade. O agente realiza a aplicação de larvicida nos recipientes que não puderem ser eliminados. As visitas são feitas na parte externa e interna das residências”, explica a PJF em nota.

Ainda conforme cita o texto, o Município concluiu atividades de mutirões aos sábados em diferentes regiões da cidade. “No total, 42 bairros foram atendidos pela iniciativa, somando 37,82 toneladas de resíduos recolhidos. Os mutirões fazem parte do trabalho contínuo de combate à dengue, zika e chikungunya, realizado ao longo de todo o ano na cidade. O objetivo consiste em facilitar os moradores a descartarem materiais que possam acumular água em suas residências.”

Além disso, a PJF cita que as equipes da Vigilância Epidemiológica e Ambiental realizaram 107. 703 visitas, em 215 bairros. “Esse processo contou com a aplicação de 135 quilos de larvicida.”

Município substitui LIRAa por ovitrampas

O monitoramento do índice de infestação em Juiz de Fora, conforme a PJF, passou a ser feito por meio da ovitrampas – armadilhas utilizadas para monitorar a presença do mosquito Aedes aegypti. Esse sistema substituiu o antigo Levantamento Rápido de Índices para Aedes aegypti (LIRAa), divulgado pela última vez na cidade em outubro de 2024.

Segundo a Secretaria de Saúde, a nova estratégia está em conformidade com as diretrizes estabelecidas pelo Ministério da Saúde (MS), e possui a vantagem de produzir indicadores em tempo real da positividade para o mosquito em cada território da cidade, o que “permite aos profissionais da Subsecretaria de Vigilância em Saúde identificar, com rapidez e precisão, o nível de infestação vetorial nas diversas áreas do município. As informações atualizadas possibilitam a implementação de intervenções de controle vetorial de forma direcionada e oportuna, visando à prevenção de surtos e epidemias de dengue”.

Com 335 ovitrampas instaladas atualmente, a cidade tem 100% dos bairros com as armadilhas. Segundo essas ferramentas, 44.456 ovos capturados na cidade nos cinco primeiros meses do ano. A média mensal de cerca de 27 ovos por ovitrampa indica, segundo parâmetros técnicos utilizados em programas de vigilância, um nível considerado baixo de infestação do Aedes aegypti em Juiz de Fora.

Na avaliação de Fábio Prezoto, o sistema de ovitrampas apresenta vantagens em relação ao LIRAa, tradicionalmente usado no monitoramento do mosquito. Embora o LIRAa seja amplamente difundido e forneça um retrato pontual da infestação ao identificar imóveis com criadouros, o especialista lembra que sua eficácia pode ser comprometida pela necessidade de acesso às residências. Quando os imóveis estão fechados, os dados deixam de ser coletados, o que prejudica o levantamento.

Já o sistema de ovitrampas, por ser um método passivo, contorna essa limitação. A armadilha, que simula um criadouro com água em um recipiente plástico, é colocada em locais acessíveis pelos agentes, sem depender da presença dos moradores. Após cerca de sete dias, o material é recolhido para análise, permitindo um monitoramento mais contínuo e confiável. Apesar de exigir uma logística precisa e visitas regulares para coleta, o especialista considera o método mais moderno e eficaz para mapear a presença do vetor.

“É uma ferramenta que possibilita uma detecção precoce das áreas de risco. Auxilia muito na tomada de decisão, coisa que nem sempre o LirAa pode trazer. Então me parece que,a associado com os estudos da literatura, que substituir o LirAa pelas ovitrampas torna o sistema de monitoramento mais eficiente.”

Vacinação contra a gripe começa na próxima semana campanha de vacinação
Apenas 3.820 crianças e adolescentes receberam as duas doses da vacina contra a dengue em Juiz de Fora (Foto: Felipe Couri / Arquivo TM)

Apenas 13% do público-alvo completou esquema vacinal

De acordo com dados divulgados pela Prefeitura, a campanha de vacinação contra a dengue em Juiz de Fora tem alcançado baixa adesão entre o público-alvo, formado por crianças e adolescentes de 10 a 14 anos, conforme preconizado pelo Ministério da Saúde. Dos 29.363 jovens que integram essa faixa etária na cidade, apenas 3.820 receberam as duas doses da vacina – o que representa cerca de 13% do total.

O esquema vacinal completo contra a dengue exige duas doses, com intervalo de 90 dias entre elas. Até o momento, foram aplicadas 10.029 primeiras doses (D1), número que equivale a 34% do público-alvo. Já a cobertura com a segunda dose (D2) permanece mais baixa, o que evidencia a necessidade de estratégias para garantir o retorno dos vacinados à aplicação final.

Juiz de Fora recebeu, até 19 de maio, 24.169 doses da vacina. A campanha segue em andamento, mas os dados indicam que a cobertura vacinal ainda é insatisfatória.

A Prefeitura de Juiz de Fora destacou que a vacinação segue aberta para o público na faixa etária de 10 a 14 anos, enfatizando a necessidade de a população referida procurar as UBSs para receber o imunizante, inclusive aquelas que necessitam da segunda dose.

O post Casos de dengue em Juiz de Fora caem em relação a 2024, mas dobram em um mês apareceu primeiro em Tribuna de Minas.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.