Empresas de energia eólica e solar amargam prejuízo de R$ 3,6 bilhões após Governo Lula mandar frear produção

Empresas que geram energia em usinas eólicas e solares amargam um prejuízo bilionário desde 2023 por causa da decisão do Governo Federal de determinar um corte na produção de energia dessas fontes. O Centro de Estratégias em Recursos Naturais e Energia (Cerne) estima que o prejuízo foi de R$ 1,6 bilhão só em 2024. Este ano, já passa dos R$ 2 bilhões.

“O curtailment gera um impacto direto sobre os geradores, especialmente no Nordeste do Brasil, afetando os custos de operação e manutenção, novos investimentos, ampliações, aumentando o risco jurídico e desarticulando a cadeia de produção direta e indireta do setor”, afirma Darlan Santos, presidente do Cerne.

Além do prejuízo para as empresas, os municípios também sofrem com a queda na arrecadação de impostos, como o ISS, e com a perda de empregos e investimentos.

O corte de geração de energia, chamado de curtailment, acontece quando o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) determina que uma usina reduza ou pare de gerar energia por um tempo. Esse tipo de medida já se tornou frequente e bateu recorde em fevereiro de 2025. Os cortes começaram em agosto de 2023.

O Cerne explica que o corte é determinado por várias causas, incluindo o desequilíbrio entre os diferentes tipos de geração de energia. O presidente da entidade manifesta preocupação com o crescimento rápido das fontes renováveis que não estão dentro do mercado regulado e que, por isso, não são supervisionadas pela ONS ou pela Aneel – e acabam gerando instabilidade no sistema, provocando a necessidade do corte.

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Como resolver problema

Para tentar reduzir os impactos, Darlan defende medidas que aumentem o consumo de energia dentro da própria região. Ele sugere, por exemplo, investir em armazenamento de energia, incentivar o consumo local e instalar hubs de energia para produção de hidrogênio verde e data centers. Também falou da importância de soluções técnicas, como a instalação de equipamentos que ajudam a estabilizar a rede elétrica.

Em reunião da Comissão Temática de Energias Renováveis (Coere) da Federação das Indústrias do Rio Grande do Norte (Fiern), o analista técnico Pedro Albuquerque apresentou os novos dados do Índice de Confiança das Energias Renováveis (Icer), que é medido pelo Observatório da Indústria Mais RN em parceria com a COERE. Segundo ele, o índice está no nível mais baixo desde que começou a ser calculado, com 66,6 pontos.

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Presidente do Cerne, Darlan Santos – Foto: Cerne / Reprodução

Pedro explicou que a queda na confiança do setor tem várias causas, entre elas o corte na produção, além de problemas de infraestrutura, aumento dos juros e insegurança jurídica. “Nosso papel não é culpabilizar nenhuma fonte. Todas têm seu espaço no setor energético. Nosso objetivo é buscar o equilíbrio entre elas”, resumiu Darlan Santos, presidente do Cerne.

Jean Paul Prates alerta para risco de demissões

Ex-presidente do Cerne, além de ex-presidente da Petrobras e ex-senador pelo RN, Jean Paul Prates chamou atenção para o problema em uma entrevista no mês passado. Ele registrou que o RN, que é o maior produtor de energia eólica do País, é um dos mais afetados com a medida, por ter mais de 10 GW de capacidade instalada.

Jean afirmou que, por causa da medida, usinas potiguares sofreram cortes de até 70% em sua receita estimada. Ele fez a denúncia em tom de crítica ao ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira.

“Eu quero que as pessoas conheçam e saibam que há falhas nesse setor de Minas e Energia. Não é por implicância com o ministro, mas (as falhas) estão afetando o nosso estado, a nossa região. Nós hoje, por exemplo, entre outras coisas, estamos vivendo um período onde as nossas energias, as nossas usinas eólicas estão cortadas em até 70% da sua receita estimada”, disse.

O cenário, conforme afirmou Prates, ameaça a empregabilidade do setor, através de demissões.

“Quem está pagando essa conta toda que deu no sistema é a eólica, é a solar, portanto são os empregos em João Câmara, no Seridó, na Serra de Santana, em Areia Branca, em Serra do Mel. Essa turma está parada 70% do tempo e não pode vender energia para outro, porque o contrato é com o governo. Então ele manda você parar, não te indeniza e você não pode vender para mais ninguém”, disse.

De acordo com o ex-senador, a medida da empresa estatal está relacionada com a natureza das gerações de energia, eólica e solar, por serem intermitentes, ou seja, sofrerem interrupções. Com isso, a linha de transmissão da energia produzida estaria prejudicada, o que teria causado a diminuição de investimentos no setor.

Contudo, Prates considera que a solução foi radical além do que o necessário, sendo utilizada para criar uma necessidade da produção de energia a gás. Isso configura, para ele, um jogo de interesses.

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