Parques e áreas verdes sob ameaça: movimentos resistem à privatização ambiental no Brasil

Movimentos sociais e ativistas de várias partes do Brasil denunciam o avanço acelerado das concessões de parques e áreas verdes à iniciativa privada. Sob o argumento de modernizar a gestão e estimular o turismo, governos estaduais e municipais têm transformado bens públicos em commodities ambientais, despertando protestos e críticas por todo o país.

O modelo, que promete investimentos, eficiência e desenvolvimento econômico, vem sendo questionado por organizações ambientais, servidores públicos e moradores que frequentam esses espaços. Para eles, o que está em jogo é a perda de áreas de lazer, preservação e educação ambiental, agora convertidas em territórios de exploração econômica e geração de lucro.

“A população não foi incluída nesse processo de concessão. E um bem público tem que servir à sua função pública, garantindo direitos constitucionais e o bem-estar de todos”, criticou Ana Beatriz Nestlehner, ao protestar contra a concessão do Parque da Água Branca, na Zona Oeste de São Paulo.

Em Salvador, a resistência também ganhou força. Coletivos como @seremosresistencia e @movimentosalvaverde lutam para impedir a entrega de áreas verdes à iniciativa privada. A mobilização ganhou apoio de artistas como Anitta, Regina Casé e Daniela Mercury. “Não podemos deixar derrubar nenhuma área verde, temos que cuidar das que ainda existem em Salvador”, alertou Regina Casé. Já Daniela Mercury foi enfática: “Por que vender áreas de proteção ambiental em plena crise climática? Salvador já sofre com temperaturas altíssimas, não podemos perder a pouca vegetação que resta”.

Especialistas e militantes alertam que, além de restringir o acesso público, esse modelo agrava desigualdades sociais e ambientais, favorecendo a especulação imobiliária e o turismo de elite. A conversão de áreas públicas em ativos financeiros, sustentada pelo discurso do “futuro verde” e pela promessa de créditos de carbono, fortalece um modelo de exploração que exclui as populações mais vulneráveis.

“A lógica é simples: tudo passa a ter um preço. O Estado abre mão do uso comum e coletivo em nome do lucro privado. Mas o Estado tem, sim, condições de proteger a biodiversidade e garantir o direito da população ao contato com a natureza e ao meio ambiente equilibrado”, defende Darí Lourenço Marchesini, do Comitê Popular de Luta e da Comissão em Defesa do Meio Ambiente de Vila Velha.

Apesar das manifestações e da resistência organizada, o processo segue em curso, com apoio de grandes consultorias, bancos e programas governamentais, como o BNDES Parques e Florestas e o Programa de Parcerias de Investimentos (PPI).

Para os movimentos sociais, trata-se de mais um capítulo do que chamam de “despossessão da natureza” — um processo que amplia cercamentos sociais, econômicos e ambientais, impulsionando o racismo ambiental e a desigualdade territorial no país.

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