Cervejaria Resistência celebra 7 anos de afeto, cultura e luta em Natal

Nunca foi pensada para ser um bar“. A afirmativa do advogado de formação e cervejeiro por paixão, Anderson Barra, se refere à Cervejaria Resistência, que está celebrando sete anos de portas abertas, copos cheios e afetos partilhados. A comemoração acontece no próximo sábado, 24 de maio, e mais do que marcar o tempo, é um mergulho no que esse espaço representa: palco de encontros, resistência cultural e convívio político. Da antiga sede improvisada no quintal da Cabo de São Roque ao endereço atual na Rua Leonora Armstrong, em Ponta Negra, a Resistência cresceu sem perder o espírito coletivo. E como manda a tradição, o aniversário será celebrado com música, poesia, boa comida e, claro, muita cerveja artesanal — tudo reunido num evento aberto, diverso e pulsante, como tem sido sua trajetória desde 2017.

A Agência Saiba Mais voltou às origens para entender por que a Cervejaria Resistência é, hoje, tão mais do que um bar.

O começo: cerveja, política e quintal

A história começa em janeiro de 2017, no quintal de uma casa em Ponta Negra. Anderson Barbosa, paraense de nascimento e potiguar por escolha, havia acabado de voltar de um curso de produção de cerveja artesanal em Blumenau. A intenção inicial não era abrir um bar, muito menos se transformar num símbolo cultural da cidade. Era fazer cerveja. Só que ali havia mais fermentando.

“Sempre fui militante de esquerda e, quando percebi que o meio cervejeiro era predominantemente conservador, fui tomado pela necessidade de transformar minha pequena produção em mais uma bandeira de luta.”

O contexto político era o da ruptura democrática. Golpe contra a presidenta Dilma Rousseff, Lava Jato em pleno vapor, a prisão de Lula. Era preciso se reunir, resistir — e resistir junto. Foi o filho de Anderson quem deu o empurrão definitivo, ao contar para seu professor Rodrigo Bico que o pai fazia cerveja no quintal. Bico apareceu, provou e marcou o primeiro evento.

“E aí um foi puxando o outro e, quando vi, tinha praticamente abandonado minha profissão de advogado para me dedicar à cerveja.”

Assim nasceu a Casa da Resistência, um refúgio coletivo contra o desamparo. A cerveja era pretexto. O verdadeiro ingrediente estava na partilha.

O bar como casa, trincheira e palco

Com o tempo, a casa já não bastava. A energia do lugar transbordava. Os debates, os lançamentos de livros, os saraus feministas em que mulheres bebiam sem pagar, as noites que terminavam em cantorias ou abraços. A Casa da Resistência não coube mais naquele quintal.

“A exibição de filmes acompanhada de debates, lançamentos de livros, saraus feministas com cervejas produzidas por mulheres… A cerveja foi apenas um pretexto para um movimento que, espontâneo na origem, foi se construindo e tomando forma de uma ideia e uma atitude.”

Vieram momentos simbólicos, como a visita de Frei Betto, do Pastor Henrique Vieira e a celebração da libertação de Lula. Vieram também os tempos difíceis: a pandemia, a suspensão dos encontros, a dúvida sobre o futuro.

Mas a Resistência, como o próprio nome diz, não recua. Em 2022, o espaço se reinventa como Cervejaria Resistência, sai literalmente da casa e ganha uma vida própria, sem abandonar a raiz política afetiva que a fez nascer.

Coletivo de pertencimento

Hoje, com mais de 13 mil seguidores no Instagram e uma programação que segue pulsante, a Resistência continua a ser território de encontros — e não apenas encontros de corpos, mas de causas, ideias, memórias e desejos.

“Fico muito orgulhoso quando sinto que a Resistência não tem mais um dono (ou idealizador), pois todo mundo se considera dono e pertence a ela.”

É esse sentimento de pertencimento que explica a longevidade e o afeto que envolvem o espaço. Em 2024, nasceu o Instituto Casa de Resistência, um braço institucional para promover cultura local e formação política. Um passo além, sem abandonar o chão de onde tudo brotou.

“Hoje, num outro contexto político, temos orgulho de nossos rótulos, de nossos sonhos e de nossa história, que, é importante ressaltar, foi construída com o carinho e o amor de cada um e cada uma que se uniram na luta.”

Uma palavra só: resistência

Sete anos depois, a Cervejaria Resistência é um corpo coletivo que respira junto com a cidade. Um espaço onde a política se mistura com a arte, a cerveja com a memória, a rua com o quintal.

Quando perguntado sobre como definiria o Resistência em uma só palavra ou frase, Anderson não hesita.

“Resistência.”

E como toda boa resistência, ela não se explica só com palavras. É preciso viver, sentir e celebrar.

No dia 24 de maio, às 17h, o convite está feito: voltar ao quintal, agora multiplicado, e brindar à história que continua.

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