“Estamos viciados em falar mal de nós mesmos.” Foi com essa crítica direta à baixa autoestima local que Zeca Melo, superintendente do Sebrae no Rio Grande do Norte, resumiu o espírito do movimento Feito Potiguar, lançado recentemente para valorizar a produção local, incentivar o consumo consciente e resgatar o orgulho de empreender no Estado.
O projeto, segundo ele, vai além de uma ação de mercado e se propõe a reconectar a população com sua identidade e com quem faz o RN funcionar todos os dias. Voltado para empresas genuinamente potiguares, o Feito Potiguar é um movimento que reúne Sebrae, Fiern, Fecomércio, Faern, órgãos de controle como Idiarn e Idema, cooperativas de crédito, instituições de fomento e redes de supermercados.
A proposta é certificar, divulgar e ampliar o acesso de produtos potiguares ao mercado consumidor, unindo esforços para abrir espaço em feiras, eventos e prateleiras. Segundo Zeca, o objetivo é simples: “beneficiar quem trabalha aqui, quem gera emprego aqui, quem produz aqui”. O projeto já foi lançado em Natal e em breve será levado a Mossoró, Caicó, Currais Novos e Assú. O surfista campeão Ítalo Ferreira é o garoto-propaganda da campanha, que busca criar identificação com o público e despertar pertencimento.
“É o feito de fazer, o feito que se parece com a gente, o feito que é produzido aqui e também o feito como façanha”, explicou Zeca, em entrevista à 94 FM nesta quarta-feira 21, ao comentar o nome do projeto.
A iniciativa conta com uma marca própria, cuja paleta de cores remete ao antigo uniforme da seleção do Rio Grande do Norte, combinando tons de grená e verde. A proposta, segundo ele, é evitar qualquer vinculação partidária e garantir longevidade ao projeto. “Se virar uma ação política, acaba em um ano. Isso aqui é do povo, não é de governo”, afirmou.
A intenção é que o selo Feito Potiguar esteja visível nas gôndolas de supermercados parceiros e na estrutura da Festa do Boi deste ano, que será totalmente voltada às empresas do RN. Há ainda um selo de reconhecimento para negócios locais. Em Natal, 30 marcas já foram certificadas, e outras 20 devem receber o selo durante o lançamento em Mossoró.
O movimento faz parte de um esforço mais amplo do Sebrae para apoiar e qualificar as micro e pequenas empresas do Estado, que, segundo Zeca, respondem pela maior parte da geração de empregos. Em 2024, o RN teve um saldo de 34 mil empregos formais, sendo 23 mil gerados por pequenos negócios. “Quem emprega neste país é a pequena empresa. Mesmo em 2015 e 2016, anos de crise, o saldo das pequenas foi positivo ou pelo menos neutro. Já o total do Estado perdeu 25 mil empregos”, comparou.
Com cerca de 120 colaboradores atuando em oito cidades — Natal, Mossoró, Assú, Caicó, Currais Novos, Santa Cruz, Pau dos Ferros e Nova Cruz —, o Sebrae-RN atendeu mais de 100 mil CNPJs em 2024 e projeta ultrapassar 1 milhão de atendimentos em 2025. Os serviços vão desde formalização de MEIs até apoio a exportações, licenciamento ambiental, certificações internacionais como o Global GAP, criação de plano de negócios e capacitação de empreendedores.
O atendimento é gratuito na maioria dos casos. Quando há custo, o Sebrae banca 70% do valor, cobrando apenas 30% do empreendedor. Zeca afirmou que o desafio do Sebrae hoje é melhorar a qualidade dos atendimentos, introduzindo ferramentas de inteligência artificial, coleta e análise de dados para identificar negócios com maior potencial de crescimento.
“Queremos dar atendimento rápido e também mais profundo, com mais conteúdo, para quem tem condições de crescer”, afirmou. Um dos focos é fazer com que a população entenda que o Sebrae é para todos — da mulher que começa a vender bolo em casa ao jovem que abre uma clínica ou startup. “O grande desafio é mostrar que o Sebrae existe tanto para essa mulher em situação difícil quanto para sua filha que quer montar uma clínica. Eles dois precisam saber que o Sebrae é pra eles”, afirmou.
O Sebrae também atua com 166 Salas do Empreendedor espalhadas pelo Estado, das quais apenas uma cidade não conta com a estrutura. As salas funcionam com técnicos treinados e parcerias com prefeituras. Além disso, há o programa Sebrae na sua Empresa, que realiza visitas porta a porta e atende cerca de 30 mil CNPJs por ano. Mais de 60% dos atendidos são MEIs. Zeca reforçou que mesmo beneficiários do Bolsa Família podem ser formalizados como MEI sem perder o benefício, o que ainda é motivo de desconfiança para muitas famílias.
Entre os exemplos citados, Zeca mencionou o produtor da marca “Flor do Campo”, que vende mel em Massaranduba, provavelmente em uma área de assentamento. “Ele é cliente nosso. É possível empreender e crescer, mesmo em contextos mais difíceis”, afirmou. Para ele, o importante é que o atendimento alcance a todos, independentemente do perfil social.
Ao final, Zeca reforçou a importância da autoestima regional como combustível para a economia e convocou o público a conhecer o projeto pelo site www.feitopotiguar.com.br. “A gente colocou até uma frase no elevador do Sebrae: ‘Você é o Feito Potiguar’. É isso. A gente precisa se reconhecer, se gostar e entender que o que é daqui também tem valor”, concluiu.