‘Invasões biológicas’ se espalham pelo Brasil; identifique no QUIZ as espécies exóticas nos biomas


Especialistas atribuem a disseminação de animais e plantas nativos de outros países à ação humana. Peixe tilápia
Germano Roberto Schüür / Wikimedia Commons
Todos os biomas brasileiros sofrem com “invasões biológicas”. São espécies não nativas da fauna e da flora que, em alguns casos, passam até despercebidas, mas deixam impactos. Um exemplo é a tilápia. Ela conquistou os piscicultores brasileiros por se adaptar facilmente aos rios brasileiros e por cair no gosto da população pelo sabor da carne. Mas ela é nativa da África e causa sério desequilíbrios nas bacias onde se disseminou.
Abaixo, no QUIZ, desafie seus conhecimentos sobre outras espécies exóticas espalhadas pelo Brasil. E, na sequência, entenda nesta reportagem os impactos da presença desses invasores que começam a se reproduzir fora do seu habitat natural devido à ação humana.

Ação humana está por trás do problema
De acordo com uma pesquisa liderada pela Universidade Federal de Lavras (UFLA), divulgada em 2024, hoje o Brasil lida com 444 espécies invasoras espalhadas por seus biomas. São 254 animais, 188 plantas e duas algas. Algumas dessas espécies foram introduzidas no país logo no início da chegada dos portugueses em 1500, como o mexilhão dourado, que veio na chamada água de lastro dos navios.
Olhando o contexto atual, o geógrafo e ambientalista do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), Carlos César Durigan, atribui à influência humana o principal motivo para esse desequilíbrio ambiental no que ele define como antropificação das paisagens naturais. Para o especialista, isso gera um desafio de sobrevivência para a fauna e flora de áreas drasticamente alteradas.
“Essa introdução forçada pode ser vista na Mata Atlântica e no Cerrado, que são ambientes onde a agropecuária tem feito com que espécies remanentes vivam em áreas de fragmento de mata. Quando os animais têm oportunidade, eles buscam outras áreas naturais e chegam a outros biomas”, diz o especialista, que completa a explicação: “Pelo código florestal, temos uma obrigação de manter parte da floresta, mas o cenário para esse cumprimento é desafiador”.
O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) também vê a ação humana como a principal causadora da invasão de espécies e o desequilíbrio nos biomas. Além da agropecuária, os especialistas do instituto listam outras atividades que intensificam esse problema:
Pesca esportiva: como a introdução deliberada de espécies predadoras, como o tucunaré, em represas e reservatórios, alterando ecossistemas aquáticos locais;
Aquicultura: escape acidental de espécies cultivadas em viveiros, que conseguem se estabelecer em ambientes naturais;
Tráfico de animais silvestres: captura, transporte e soltura ilegal de animais em áreas diferentes de sua distribuição original, favorecendo o espalhamento de espécies;
Ornamentação e criação de animais de estimação: soltura ou fuga de animais mantidos como pets, que podem se adaptar ao ambiente e se tornar invasores;
Peixamentos: soltura de peixes em rios, lagos e represas, muitas vezes sem avaliação de risco ecológico e sem considerar a composição da fauna local, o que pode causar desequilíbrios ecológicos e afetar espécies nativas.
Causa de desequilíbrio ambiental
Independente do modo como àquela espécie invasora foi introduzida em um outro habitat, a principal consequência será o desequilíbrio daquele ecossistema.
O biólogo e doutor em zoologia pela Unesp, Guilherme José da Costa Silva explica que a chegada de um animal de fora da cadeia alimentar de um bioma gera uma competição por recursos naturais, o que em casos mais extremos, pode levar à extinção de espécies.
Os especialistas concordam que além dessa competição, há a preocupação com a transmissão de doenças e parasitas e extinções locais. Veja os principais danos listados pelos pesquisadores:
Predação de espécies nativas por espécies invasoras, muitas vezes sem defesas naturais contra esses novos predadores;
Competição por alimento, abrigo ou território, o que pode comprometer a sobrevivência de espécies nativas;
Transmissão de doenças e parasitas, que podem afetar populações silvestres, domésticas e até humanas;
Hibridização com espécies nativas, levando à perda de identidade genética e ao comprometimento de populações locais;
Alterações nas cadeias alimentares e no funcionamento dos ecossistemas, como mudanças na ciclagem de nutrientes, no regime de fogo ou na estrutura da vegetação;
Extinções locais de espécies nativas, especialmente em ambientes frágeis ou isolados, como ilhas, lagoas e ambientes de altitude.
Governo tenta evitar invasão
Em 2018, o Ministério do Meio Ambiente (MMA) instituiu a Estratégia Nacional para Espécies Exóticas Invasoras por meio da Resolução CONABIO 07/2018. Com ela, a pasta definiu ações prioritárias para gestão, prevenção, manejo e controle de espécies invasoras. São elas:
Orientar a implementação de medidas para evitar a introdução e a dispersão de espécies invasoras;
Reduzir impactos de espécies exóticas invasoras sobre a biodiversidade brasileira;
Controlar ou erradicar tais espécies em território nacional;
As determinações do governo dialogam com o controle que ambos os especialistas enxergam necessários para frear esse desequilíbrio. Para Durigan, é preciso haver um processo de conservação de paisagens naturais para que as espécies não migrem, além de trabalhar no controle populacional das espécies exóticas que já estão introduzidas nos biomas.
Guilherme da Costa Silva ressalta ainda a importância do controle sanitário feito, por exemplo, nos aeroportos e estradas federais para barrar a entrada de fauna e flora que pode entrar no país por meio da bagagem de turistas ou de brasileiros que viajaram para o exterior.
Conheça as espécies exóticas invasoras em Santa Catarina no Desafio Natureza

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