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Justiça espanhola condena torcedores por racismo contra Vini Jr
O grande problema, no entanto, está na caracterização do torcedor, que foi às ruas da Espanha completamente pintado de preto, praticando o ato racista comumente conhecido como “Black Face”.O torcedor chegou a ser repreendido por uma mulher negra que começou a gravá-lo e criticar a caracterização racista usada, postando as imagens no TikTok. No entanto, não recebeu apoio das pessoas ao redor, que não aderiram às reclamações.A prática surgiu em meados do século 19, e era utilizada por brancos para colocar personagens negros em peças e espetáculos, ridicularizando-os por entretenimento. Aqueles caracterizados com o blackface costumavam apresentar erros na fala, praticar atos maldosos, serem preguiçosos, violentos, animalizados ou sexualizados nas apresentações.
Blackface no filme “O Cantor de Jazz” em 1927
| Foto: Reprodução I Instagram
No Brasil, o Blackface não é tipificado como crime específico no Código Penal, mas pode ser enquadrado como crime de racismo ou injúria racial, ambos criminalizados no país. No entanto, na Espanha, o racismo não é criminalizado, cenário que começou a ser alterado pela luta de Vini Jr.Vini Jr e o racismo na EspanhaA Justiça Espanhola realizou a primeira condenação por racismo por parte de torcedores em estádios de futebol no país com três torcedores do Valencia que, por insultarem Vini o chamando de macaco, receberam uma pena de oito meses de prisão. Além disso, os três foram banidos de estádios na Espanha por um período de dois anos.Os acusados se declararam culpados e leram uma carta de desculpas a Vini e ao Real Madrid. No entanto, não devem cumprir a pena que lhes foi dada, já que o Código Penal espanhol dá liberdade a réus primários condenados a menos de dois anos de prisão caso tenham cometido crimes classificados como não violentos.
Vinicius Jr
| Foto: Reprodução I X
Na época, a condenação foi feita sob o título de “delitos contra a integridade moral com agravante de discriminação por motivos racistas”, alegando que os réus proferiram gritos se referindo a Vini e sua “cor da pele, agindo com evidente desprezo pela cor negra do jogador”.“Muitos pediram para que eu ignorasse, outros tantos disseram que minha luta era em vão e que eu deveria apenas ‘jogar futebol’. Mas, como sempre disse, não sou vítima de racismo. Eu sou algoz de racistas. Essa primeira condenação penal da história da Espanha não é por mim. É por todos os pretos”, comentou Vini na época.“Que os outros racistas tenham medo, vergonha e se escondam nas sombras. Caso contrário, estarei aqui para cobrar. Obrigado a La Liga e ao Real Madrid por ajudarem nessa condenação histórica. Vem mais por aí”, completou.
Vinicius Jr
| Foto: CBF
Outros atos racistas foram cometidos na Espanha contra ele quando, por exemplo, em janeiro de 2023, membros da organizada do Atlético de Madrid penduraram um boneco de Vini Jr enforcado em uma ponte, com a frase “Madrid odeia o Real”. Na época, os quatro detidos pagaram fiança e foram liberados, seguindo em julgamento por ofensa à integridade moral de Vini e com medidas restritivas de aproximação ao jogador, a instalações do Real Madrid ou estádios durante jogos da La Liga.De janeiro de 2022 a março de 2024, foram registrados pela La Liga 20 casos de racismo contra Vini, com seis arquivados, dois envolvendo menores e o restante em investigação.Mas o que é Black Face?Em tradução literal, Black Face significa “rosto preto”, e nomeia a prática de pintura da pele com tinta preta. Desde a década de 1830, quando surgiu nos Estados Unidos o blackface é praticado, tendo nascido como forma de atribuir características negativas à população negra na época da abolição da escravatura.A ideia inicial era propagar o conceito de que pessoas negras tinham liberdade, mas não a cidadania para conviver socialmente, legitimando violências contra a população negra.
Blackface em filmes antigos
| Foto: Reprodução I X
Assim, personagens negros passaram a serem ridicularizados no teatro, quando pessoas pretas e pardas ainda eram proibidas de atuar. No Brasil, a prática criou as figuras da “Nega Maluca” no Carnaval, que comumente deterioram a imagem de mulheres negras brasileiras.