Nascido durante a pandemia, o grupo “Visíveis para Cristo”, formado por fiéis do Santuário Estadual de Nossa Senhora do Rocio, realiza ações de apoio e reinserção social com moradores em situação de rua em Paranaguá em todas as noites de quartas-feiras.
Segundo uma das idealizadoras do coletivo, Varseli Corrêa Farias, a iniciativa surgiu com seis pessoas e foi crescendo em número de voluntários, distribuindo alimentos, cobertas e vestimentas para pessoas em situação de vulnerabilidade, bem como com uma palavra de fé, indicando caminhos para reinserção social com confecção de documentos e obtenção de emprego.
De acordo com Varseli, as ações com moradores em situação de rua começaram em 2020 e o grupo foi oficialmente criado em 10 de setembro do ano em questão.
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“O grupo nasceu durante a pandemia de um grupo de amigos que se sentiu sensibilizado ao constatar tanto sofrimento, pelos abandonados e mais necessitados nas ruas de nossa cidade. Embora haja programas para atendimento a essa população, eles passam sim, necessidades reais”, completa.
“Iniciamos em seis pessoas, na época, saímos às ruas todas as quartas-feiras, levando café com leite e sanduíches. Essa ação vai evoluindo, no sentido da quantidade de pessoas que atendemos todas as quartas-feiras nas ruas, às vezes, famílias inteiras como também nos voluntários que queriam participar das ações ou contribuir de forma material”, afirma a voluntária.
Segundo ela, o nome “Visíveis para Cristo” também possui relação com o sentimento que todos os voluntários possuem com relação aos moradores em situação de rua.
“A maioria ainda é invisível para nós que muitas vezes passamos por eles e nem os notamos, estamos do seu lado e não os vemos, seja por não querer ver, por medo, receio ou asco. Contudo, para Cristo eles são vistos na sua totalidade de sofrimento, de abandono, de humilhação, de frio, de fome, de dependência, de violência, de sujeira, de abuso e de preconceito”, explica.
Proximidade
Varseli Farias afirma que a proximidade com esses moradores cresce continuamente. “Isso tocou muito forte em nosso coração, chegar perto dessas pessoas, olhar nos olhos, tocar em suas mãos, oferecer um copo de café quente, sentir a fome intrínseca não somente pelo pão material, mas de serem visto e reconhecidos como seres humanos de desejarem sair dessa vida e não saber como”, afirma.
“Aos poucos fomos os conhecendo pelo nome. E cada vez que assim os chamávamos eles sorriam, vinham ao nosso encontro totalmente desprovidos de pudor, mas reconhecendo nessa ação a graça de Deus em sua vida. Muitas e inúmeras vezes, ouvimos: Foi Deus que mandou vocês aqui, eu não comi nada hoje. Olhavam para o céu e agradeciam. E nos davam aquilo que somente eles podiam nos dar a sua bênção. Íamos embora como aquele: ‘Deus abençoe vocês” em nossos ouvidos que soava como música, como graça, como ternura de Deus para nós”, ressalta a idealizadora.

(Foto: ©Folha do Litoral News)
Pastoral
Segundo Varseli, o grupo Visíveis para Cristo participa do Santuário do Rocio e em 2024 houve o desejo de transformá-lo em uma das pastorais atuantes na Igreja. O coletivo atualmente conta com cerca de 25 voluntários.
“Foi criado a partir da anuência do Pe. Dirson, reitor do Santuário, a Pastoral do Povo de Rua, como é denominada pela CNBB. Nossas ações continuam, o grupo cresceu, se diversificou e continua atendendo todas as quartas-feiras, a partir das 19h30, e distribuindo cerca de 80 sanduíches, café com leite, suco e bananas para as pessoas que encontramos em nosso trajeto”, explica.
Doações, palavra de Cristo e reinserção social
De acordo com a voluntária, o grupo recebe continuamente doações de roupas, cobertores, mantas e meias para doação quando necessário.
“A princípio nos revezamos para produzir os sanduíches, fazer o café ou comprar os outros insumos. Recebemos doações de pessoas que não conseguem nos acompanhar nas ações, mas que ajudam comprando os produtos ou fazendo alguma doação em dinheiro. Quem se sentir tocado pode nos procurar, temos uma equipe formada por uma comissão composta de coordenadora, vice coordenadora, secretária, tesoureira e espiritualidade”, explica.
“Além de entregar o alimento para matar a fome, nas noites de nossa cidade, também levamos uma palavra de Cristo para que eles sempre reconheçam Jesus em nossas ações”, explica Varseli.
A voluntária ressalta que o período mais frio acentua a necessidade de atuação do grupo.
“Com a proximidade do inverno, o sofrimento é maior, chuva e frio machucam a pele e a alma. Eles sentem mais fome e maior dependência da solidariedade das pessoas. Dessa forma, são necessários mais corações generosos para ajudá-los a passar por esse período”, destaca.
Outro foco é a reinserção social de moradores em situação de rua com busca pela dignidade e saída da “invisibilidade”.
“Por muitas vezes, há a manifestação e desejo de sair das ruas e deixar essa vida, como eles mesmos dizem. Muitos não têm documentos, e nem sabem por onde começar. Para aqueles que manifestam essa disposição, indicamos os caminhos, seja de uma casa de acolhida ou os próprios órgãos e secretarias municipais”, finaliza Varseli Corrêa Farias.